Jean Tirole (1953- ), ganhador do Prêmio Nobel de Economia 2014, por análise do poder e regulação de mercado, em seu livro Economia do bem comum (1ª.ed. – Rio de Janeiro: Zahar, 2020), afirma: o cerne da avaliação científica é o processo de revisão por pares e validação de artigos.
Os artigos científicos são avaliados anonimamente por outros pesquisadores escolhidos pelos editores de uma revista revisada por pares para a qual o artigo é enviado para publicação. Com base nos relatórios dos revisores e em sua própria leitura, o editor decide se aceita ou não o artigo (geralmente depois de um vaivém ligado a pedidos de melhorias) ou se o rejeita.
Uma avaliação cuidadosa dos artigos é essencial para o bom funcionamento da comunidade de pesquisa e o acúmulo de conhecimento científico: um pesquisador não pode ler os milhares ou dezenas de milhares de artigos escritos em sua disciplina a cada ano, e menos ainda decifrá-los nos mínimos detalhes.
O trabalho de periódicos científicos é verificar:
- a qualidade dos dados e a integridade de seu processamento estatístico,
- a consistência lógica e o interesse de sua teoria e
- a novidade de sua contribuição.
Não é necessário mergulhar na ingenuidade e implantar uma visão utópica de pressuposta imparcialidade e/ou neutralidade nesse processo de avaliação. O sistema tem pelo menos duas fraquezas:
- o comportamento gregário dos cientistas, de modo a explora uma “encomenda” ou um assunto na moda para atrair a atenção de uma comunidade, enquanto assuntos importantes são negligenciados;
- viés de publicação de modo a levar a favorecer o que é “impressionante”.
Um estudo empírico ao refazer mais cuidadosamente um estudo já publicado tem menos probabilidade de atrair a atenção da comunidade científica. Portanto, o editor de uma revista, onde o primeiro estudo tenha produzido um resultado surpreendente, tende a descarta-lo sumariamente.
Há falta de “replicação” de certos resultados empíricos, o que reflete a incapacidade de outros pesquisadores de reproduzir as conclusões de estudos até famosos em experiências ou situações semelhantes.
Simplesmente, os avaliadores “clandestinos” ou anônimos, supostamente dedicados em dar seu tempo para avaliar a pesquisa de outros colegas rivais e, assim, contribuir para o bem comum, podem deixar de pensar com profundidade suficiente sobre a qualidade, originalidade e relevância da contribuição. Simplesmente, porque o autor pertence à outra corrente de pensamento econômico!
Por fim, é claro, inevitavelmente, em todos os campos científicos, existirem fraudes puras e simples: na maioria das vezes elas envolvem dados inventados do zero ou passam, muito mais ocasionalmente, invadindo o site da revista científicos para alterar os relatórios dos revisores. No caso de periódicos cometendo o erro de pedir ao autor sugerir nomes dos revisores, há comunicação de endereços de e-mail falsos, referentes a um amigo de pensamento similar para avaliar sua pesquisa!
Na opinião de Jean Tirole, a única solução para esses problemas é entender sua natureza e tentar controlá-los o máximo possível. Nesse caso, houve um aumento da transparência nos últimos anos.
Foi permitido principalmente pelo requisito de tornar os dados públicos e a obrigação de elaborar uma lista de possíveis conflitos de interesse. Poderíamos ficar tentados a dizer, como a democracia, o sistema de revisão por pares é “o pior dos regimes – com exceção de todos os outros já experimentados no passado”.
Entre esses sistemas alternativos frequentemente testados está a avaliação interna. Ela geralmente é capturada pelo corporativismo dos pesquisadores. Portanto, na falta de alternativa melhor, a avaliação externa e o processo de revisão por pares mantêm-se como os pilares da avaliação científica.
Fragilidades e Abusos da Avaliação Científica entre Pares Economistas Rivais publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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