domingo, 16 de junho de 2019

Frente Parlamentar Evangélica

Andrea Dip, “Em nome de quem: A bancada evangélica e seu projeto de poder” (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2018), conta:  a FPE nasceu como bancada em 1986, após ter participado de processos durante a Ditadura Militar, segundo Magali Cunha. “Houve, porém, uma repercussão muito negativa por causa do processo de troca de votos na Constituinte e os 5 anos de governo do Sarney. Foi muito divulgado na mídia, todo o fisiologismo que envolveu a bancada naquele período. E houve uma indignação no meio evangélico também, o que acarretou um período de baixa nas eleições seguintes.”

Ela acrescenta: nos anos 2000 aconteceu uma retomada do projeto político, incentivada pela aproximação com o governo Lula. “Os evangélicos ganharam certo protagonismo; Lula ofereceu cargos, se aproximou do PP, no qual estava boa parte dos representantes da Igreja Universal, e depois do PRB, que foi fundado tendo como vice-presidente [da República] José de Alencar. Essa retomada começou em 2002, com a eleição do Lula, e aí se criou a Frente Parlamentar Evangélica, em 2003.”

Em 2004, outro escândalo marcaria a bancada evangélica, de forma mais específica, a Igreja Universal: o envolvimento do bispo Carlos Alberto Rodrigues, o Bispo Rodrigues (PL-RJ) – eleito deputado em 1998 e novamente em 2002 –, com o então subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência, Waldomiro Diniz – o que levou a seu afastamento das funções políticas e eclesiásticas, anunciado durante o programa Fala que Eu Te Escuto na TV Record, em 2004.

Na época, o deputado havia sido apontado como responsável por nomeações de funcionários fantasma para a LOTERJ durante a gestão de Anthony Garotinho (1999-2002). Rodrigues renunciou ao mandato para escapar da cassação em 2005, mas depois foi condenado no julgamento do Mensalão a 6 anos e 3 meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Chegou a ficar preso por alguns meses, porém, em 2014, passou a cumprir prisão domiciliar. O episódio ficou marcado como um momento de mudança de estratégia da Universa., Ela começou a agir na esfera política de forma menos explícita.

Mas 2010, segundo Magali Cunha, foi o marco para um novo momento dos evangélicos no Congresso Nacional. “Foi a primeira vez que houve uma candidatura forte de uma figura evangélica, a Marina Silva. Ela não se colocava muito dessa forma; era apresentada como uma terceira via, mas atendia a uma parcela dos evangélicos que viam ali uma candidatura relevante. Porque houve muita resistência com a Dilma – com Lula era outra coisa. Primeiro, porque ela não era uma pessoa de alianças como o Lula era. E não trabalhou tanto assim essa aproximação com os evangélicos. Também vinha com uma pauta mais aberta a mulheres e LGBTQ”, apontou.

A pesquisadora lembrou ainda como, contrariados com essas pautas progressistas e também com o Plano de Ensino Nacional, os parlamentares da bancada evangélica se colocaram como força de oposição a Dilma Rousseff e ao PT.

“Eles [os evangélicos] passaram a fazer alianças, saíram de um gueto, se articularam com partidos, pautas da moralidade sexual, da economia, a maioridade penal. Também foi o momento de iminência de figuras-chave que são Eduardo Cunha e Marco Feliciano. Em 2010 houve uma alteração significativa não só dentro das Casas Legislativas, mas na forma como a própria mídia passou a observar esse universo evangélico.”

Frente Parlamentar Evangélica publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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