Martin Arnold (Financial Times, de Frankfurt 14/05/2020) informa: seis anos de taxas de juros negativas fizeram tanto para estimular a lucratividade nos bancos da zona do euro, quanto para sufocá-la, disse o Banco Central Europeu (BCE) em um estudo que deverá causa perplexidade entre os financistas. Rebatendo as alegações de bancos, de que a taxa de depósito abaixo de zero do banco central é um grande motivo de seus retornos fracos, economistas do BCE calcularam que a controvertida política foi um fato “amplamente neutro” para a lucratividade dos bancos.
As constatações poderão ser contestadas por executivos de bancos, que queixam-se que o setor pagou € 25 bilhões em taxas negativas para o BCE desde que sua taxa de depósito caiu abaixo de zero em junho de 2014, corroendo seus lucros já fracos. As taxas negativas invertem os princípios das finanças ao fazerem os bancos pagarem para manter dinheiro no banco central, em vez de ganhar juros sobre esse dinheiro. A ideia é encorajar os bancos a emprestar mais, reduzindo ao mesmo tempo os custos de financiamento para empresas e consumidores.
Mas desde que essa política foi introduzida na zona do euro, Japão, Suíça e Dinamarca, muito se discute em círculos dos bancos centrais, se ela funciona ou se deve ser abandonada por seus efeitos colaterais danosos para o sistema financeiro.
O BCE cortou sua taxa de depósito para o patamar recorde de -0,5% em setembro de 2019. Isso levou alguns bancos a alertar que começariam a repassar os custos para seus depositantes, muito embora o banco central tenha concedido ao setor uma isenção de juros negativos para uma parcela de depósitos excedentes.
Economistas do BCE admitiram que os juros negativos reduziram as margens tradicionais de empréstimos que os bancos geram ao ganhar mais sobre os empréstimos do que pagam aos depositantes e detentores de bônus, mas eles disseram que essas taxas tiveram o mesmo número de efeitos positivos para compensar isso. Entre os benefícios, citaram um nível menor de provisões por causa dos custos de financiamento mais baratos e do maior crescimento econômico, além da maior demanda por empréstimos e um aumento no valor dos títulos de dívida em poder dessas instituições.
“As taxas de juros negativas tiveram um impacto amplamente neutro sobre a lucratividade dos bancos até agora, uma vez que seu efeito negativo sobre a receita líquida de juros foi compensado por um efeito positivo sobre a qualidade de crédito”, disseram Miguel Boucinha e Lorenzo Burlon, os autores do estudo.
Outros economistas, como Markus Brunnemeier e Yann Koby da Universidade de Princeton, constataram que muitos dos benefícios dos juros negativos se concentram na fase inicial, como ganhos nos preços dos ativos dos balanços dos bancos, enquanto os efeitos colaterais corrosivos duram mais.
O BCE admitiu que quanto mais tempo as taxa de juros negativos duram, mais elas podem ser tornar contraproducentes. “No atual cenário de política monetária da zona do euro, os efeitos de um longo período de juros negativos exige um monitoramento contínuo e cuidadoso, uma vez que adentramos mais num território desconhecido”, disse o BCE.
O BCE disse que nos últimos seis anos os bancos quase dobraram a quantidade física de dinheiro em seus cofres, para mais de € 90 bilhões – sobre os quais eles evitam pagar juros negativos. Mas isso continua sendo muito pouco comparado aos mais de € 6 trilhões existentes em depósitos na zona do euro, e o BCE acrescentou que “isso não ocorreu ao ponto de emitir fortes sinais de um vazamento de liquidez fora do setor bancário em direção aos ativos de curto prazo e altíssima liquidez”.
Estimando que os juros negativos aumentaram os empréstimos bancários em cerca de 0,7 ponto porcentual neste ano, o BCE concluiu que a política estimulou o crescimento econômico e elevou mais a inflação do que de outra forma teria ocorrido.
BCE e os Juros Negativos publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário