Bruno Villas Bôas e Alessandra Saraiva (Valor, 19/05/2020) informa: com o isolamento afetando trabalhadores informais, além do aumento de aposentadorias, o número de lares sem renda do trabalho bateu recorde no país no primeiro trimestre deste ano, superando o pior momento da recessão de 2014-2016, mostra levantamento da consultoria IDados a pedido do Valor. A consultoria compilou microdados da PNADC do IBGE.
O Brasil tinha 17,2 milhões domicílios com moradores sem renda do trabalho, o que correspondia a 23,5% dos lares brasileiros. Os dois números são recordes da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012.
Quando comparado ao quarto trimestre de 2019, o total de domicílios sem renda do trabalho cresceu em 1 milhão de unidades, 6,5% a mais. Por fatores sazonais, como a dispensa de pessoal temporário, o primeiro trimestre costuma registrar piora do indicador. Desta vez, porém, o ritmo foi recorde.
Dados do IBGE mostram que o número de trabalhadores ocupados (empregados, empregadores, trabalhadores por conta própria, servidores) recuou em 2,5% no primeiro trimestre deste ano, o equivalente a 2,3 milhões de pessoas a menos ocupadas. A maior parte foi de trabalhadores informais.
Bruno Ottoni, economista da consultoria IDados, diz que os impactos da pandemia foram capturados apenas parcialmente nos dados do primeiro trimestre – o isolamento social começou na segunda quinzena de março e seus efeitos estão, portanto, diluídos no período.
Mesmo assim, dos resultados do mercado de trabalho no primeiro trimestre, chama atenção a redução da população ocupada como serviços dométicos (-326 mil pessoas), em alojamento e alimentação (-308 mil pessoas) e nos chamados “outros serviços” (-211 mil pessoas), este que inclui manicures e cabeleireiros. São exatamente áreas concentradas de informais.
Além disso, os efeitos da crise são evidentes no número de pessoas que deixaram o mercado de trabalho no período, ele explica. Dados do IBGE mostram que 1,851 milhão de pessoas migraram para a inatividade no primeiro trimestre, um volume atípico, o que pode estar relacionado com a pandemia.
“Vários fatores sugerem que já pode ter impacto da covid-19 nos resultados do primeiro trimestre, como a própria queda da taxa de informalidade, em um momento que se poderia esperar um aumento dela”, disse o economista, autor dos cálculos.
A proporção de lares sem renda do trabalho cresceu significativamente durante a recessão. No primeiro trimestre de 2012, o indicador era de 18,2% dos total de domicílios do país. No primeiro trimestre de 2018, a proporção atingiu 22,4% e, desde então, mantinha-se relativamente estável.
A tendência é o indicador piorar mais nos meses seguintes, refletindo a perda esperada de posto de trabalho durante a pandemia. O auxílio emergencial de R$ 600 do governo deve amortecer parte do problema, ao mesmo tempo que pode prolongar a permanência de trabalhadores fora do mercado.
“A pergunta é como as famílias vão se virar sem ninguém empregado se o isolamento se estender por um bom tempo. Elas vão depender do auxílio emergencial, vão usar os recursos que acumularam no passado, vão recorrer a amigo”, questiona o pesquisador.
Além da covid-19, outros fatores podem ser responsáveis por esse nível recorde de domicílios sem renda do trabalho. Um outro fator é, por exemplo, demográfico – com o envelhecimento da população, simplesmente mais pessoas vivem de aposentadoria.
17,2 Milhões Domicílios com Moradores sem Renda do Trabalho: 23,5% publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário