sexta-feira, 29 de maio de 2020

Fuga de Estrangeiros do Carregamento da Dívida Pública Brasileira

Estevão Taiar e Edna Simão (Valor, 28/05/2020) informam: a participação de investidores estrangeiros no total da Dívida Pública Federal (DPF) atingiu o menor patamar em mais de dez anos. De acordo com o relatório de abril da DPF, divulgado ontem pelo Tesouro Nacional, 9,36% do total da dívida estava na mão de não-residentes. O número é o menor desde dezembro de 2009, quando ficou em 8,8%. Só no mês passado foram retirados R$ 24,3 bilhões do país.

Além das incertezas causadas pela pandemia, as dúvidas a respeito das reformas na economia brasileira ajudam a explicar a saída de estrangeiros, afirmou o coordenador-geral de operações da DPF, Luis Felipe Vital.

“[Uma fonte de] incerteza, não apenas no cenário doméstico como no restante do mundo, é o impacto da pandemia sobre a atividade. No caso específico do Brasil, soma-se [à pandemia] a expectativa com a retomada da agenda de reformas”, disse em entrevista coletiva.

Ainda assim, Vital garantiu: o governo não tem encontrado dificuldades para financiar a sua dívida. “Os efeitos da pandemia provocaram nos investidores, nos meses de março e abril, uma preferência grande por liquidez, o que se refletiu na [menor] demanda por títulos públicos”, disse. “Ao longo do mês de maio, o cenário globalmente ficou melhor e os volumes emitidos pelo Tesouro neste mês, até o momento, têm sido significativamente maiores. O colchão de liquidez segue em níveis confortáveis e a emissão líquida em maio contribuirá para o fortalecimento do caixa.”

Ele chamou a atenção, por exemplo, para o fato de o custo do estoque da Dívida Pública Mobiliária Federal Interna (DPMFi) ter fechado abril no menor patamar da série histórica, em 8,03% ao ano, quando a Selic está a 3% ao ano!

Vital ainda negou a busca por recursos com órgão multilaterais ser reflexo da dificuldade de financiamento no mercado doméstico. Na segunda-feira, a Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex) aprovou operação de dívida envolvendo quatro organismos multilaterais e duas agências de desenvolvimento, nos valores de US$ 3,35 bilhões e US$ 550 milhões. De acordo com o Tesouro, essas operações são recorrentes, pouco representativas em relação ao total da dívida e têm custos de captação mais baixos do que a média.

Além disso, os recursos serão usados especificamente para combater os efeitos econômicos da pandemia, em programas como auxílio emergencial e benefício emergencial para manutenção de emprego. Entre as instituições envolvidas na operação, estão o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês, conhecido como Banco dos Brics), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Agência Francesa de Desenvolvimento.

No relatório, o órgão também afirmou que as condições financeiras gerais dos mercados começaram a melhorar gradualmente já em abril. “A continuidade de adoção de medidas de estímulos econômicos no mundo e a queda histórica dos preços do petróleo ajudaram a mitigar os impactos restritivos da covid-19 sobre a economia global”, traz o texto. Também contribuíram a estabilização da curva de contágio na Europa e as sinalizações de reabertura da economia em diferentes países.

Por fim, o Tesouro afirmou que espera receber entre agosto e setembro os ganhos do Banco Central (BC) com reservas internacionais – decisão que ainda depende do Conselho Monetário Nacional (CMN).

“Embora, no momento, não haja dificuldade de financiamento, os meses de março e abril mostraram severas restrições nas condições de liquidez”, afirmou Vital. “Esses recursos do BC se referem ao resultado do primeiro semestre de 2020 que se encerra em 30 de junho. Após essa data, são elaboradas as demonstrações, e o CMN deliberará sobre o assunto.”

Fuga de Estrangeiros do Carregamento da Dívida Pública Brasileira publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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