quinta-feira, 28 de maio de 2020

Ascensão e Queda de Bilionários Brasileiros

As pessoas mais ricas da Terra não são imunes ao coronavírus. À medida que a pandemia se intensificava na Europa e na América, os mercados acionários globais implodiram, impactando muitas fortunas. Em 18 de março, quando finalizamos essa lista, a Forbes contava 2.095 bilionários, 58 a menos do que um ano atrás e 226 a menos do que apenas 12 dias antes, quando calculamos inicialmente os patrimônios líquidos. Dos bilionários que permanecem, 51% estão mais pobres do no ano passado. Em termos brutos, os bilionários do mundo valem US$ 8 trilhões, uma queda de US$ 700 bilhões em relação a 2019.

Jeff Bezos é a pessoa mais rica do mundo pelo terceiro ano consecutivo, apesar de ter dado US$ 36 bilhões em ações da Amazon a sua ex-mulher MacKenzie Bezos como parte do acordo de divórcio no ano passado. Ele vale US$ 113 bilhões, impulsionado por um aumento de 15% nas ações da Amazon desde a lista de 2019. A gigante do comércio eletrônico está no centro das atenções em meio à pandemia: está contratando 100 mil funcionários em período integral e parcial para ajudar a atender à crescente demanda dos consumidores que ficam em casa e fazem compras online.

Bill Gates mantém seu lugar como vice, seguido pelo magnata dos artigos de luxo Bernard Arnault, que empurrou Warren Buffett e aparece entre os três primeiros pela primeira vez. Alice Walton, herdeira da fortuna do Walmart, é a mulher mais rica da lista, com US$ 54,4 bilhões. Ao todo, 241 mulheres estão no ranking, sendo que sete compartilham a fortuna com cônjuge, irmão ou filho.

VEJA TAMBÉM: Quem são os brasileiros no novo ranking dos Bilionários do Mundo

O maior ganhador em termos de dólares é Qin Yinglin, o criador de porcos mais rico do mundo. Ele ficou em 43º lugar e vale US$ 18,5 bilhões –um salto de US$ 14,2 bilhões desde a lista de 2019, depois que as ações da Muyuan Foods, listada em Shenzhen, quase triplicaram quando a gripe suína africana reduziu a oferta de porcos e elevou os preços.

Ao todo, 267 pessoas que fizeram parte da lista do ano passado caíram quando os negócios se abalaram pela crise. Entre as quedas mais notáveis ​​está Adam Neumann, da WeWork. Outras 21 pessoas morreram. Ainda assim, a Forbes listou 278 recém-chegados vindos de 20 países diferentes, incluindo o fundador e CEO da Zoom Video Communications, Eric Yuan, cujo serviço está crescendo em meio à nossa atual realidade de isolamento social. Os EUA continuam sendo o país com mais bilionários, com 614, seguidos pela China (incluindo Hong Kong e Macau), com 456.

John Thornhill — Financial Times 26/05/2020) avalia: os bilionários podem ser diferentes do resto de nós. Mas eles também são diferentes uns dos outros na maneira como ficaram ricos. Geralmente eles se dividem em duas classes: os pioneiros e os herdeiros.

O surpreendente sobre os dez maiores bilionários dos Estados Unidos é que eles são em sua maioria pioneiros. Vários deles, incluindo Jeff Bezos, da Amazon, Bill Gates, da Microsoft, e Larry Page e Sergey Brin, do Google, fundaram suas próprias empresas de tecnologia.

Esses bilionários fundadores acumularam suas fortunas a partir da ascensão incrível dos valores de suas companhias no mercado de ações. Microsoft e Amazon valem individualmente hoje mais do que todas as 30 maiores empresas da Alemanha listadas no índice de ações Dax. Este é o triunfo das “Big Tech” e do dinheiro novo.

Por outro lado, muitos dos maiores bilionários da Europa vêm do dinheiro velho. Sua idade média é quase 20 anos maior que a de seus colegas americanos. Com frequência eles são da classe dos herdeiros, que ganharam na loteria da vida por terem nascido em impérios industriais, imobiliários e varejistas estabelecidos. A lista do “Sunday Times” dos bilionários que vivem no Reino Unido, publicada na semana passada, contém vários herdeiros de dinastias, magnatas do setor imobiliário e oligarcas estrangeiros.

Entre os dez mais ainda há espaço para o sétimo Duque de Westminster, herdeiro de um império imobiliário e de um ducado criado pela rainha Victoria em 1874. Apenas James Dyson, o mais rico da lista, lembra um verdadeiro pioneiro ao estilo americano, tendo acumulado sua própria fortuna.

Esse padrão de criação de riqueza obedece ao estereótipo da dinâmica do capitalismo americano, versus a preguiçosa Europa rentista. Mesmo assim, será que haverá uma reviravolta nessa história? Estará a Europa se tornando mais americana em termos de criação de riqueza, assim como os EUA estarão se tornando mais europeus?

Em seu livro “The Great Reversal” [em uma tradução livre, “A grande inversão”], Thomas Philippon, professor da Stern School of Business da Universidade de Nova York, afirma que os EUA desistiram dos mercados livres, enquanto a Europa finalmente os abraçou. Vinte anos atrás, as viagens aéreas, os serviços telefônicos e o acesso à internet eram todos significativamente mais baratos nos EUA do que na Europa. Hoje em dia, graças à concentração do poder corporativo nos EUA e a crescente competitividade no mercado único europeu, a situação se inverteu.

Essa tendência beneficia os consumidores europeus e a teoria sugeriria que a maior competição deverá provocar uma inovação mais intensa. Mas mesmo com os ingredientes agora todos à mão na Europa, as refeições não vão necessariamente se preparar sozinhas.

Philippon afirma que as dinâmicas do mercado indiscutivelmente estão se movendo na direção certa na Europa, mas talvez muito lentamente. “É um pouco como prever que o Brasil é o país do futuro – e sempre continuará sendo isso. Temo que seja assim com a Europa também”, opina ele.

Há mais dinamismo entres as classes bilionárias de outras partes do mundo, mas notadamente da China, onde fortunas na área de consumo na internet foram construídas de maneiras parecidas com a da Costa Oeste dos EUA. Um estudo do Peterson Institute com dados de 20 anos extraídos da lista dos maiores bilionários do mundo da revista “Forbes” constatou que em termos mundiais as fortunas são cada vez mais criadas, em vez de herdadas, e estão surgindo de maneira muito forte no mundo em desenvolvimento.

Mas o estudo, publicado em 2016, também observou que a taxa de atrito dos bilionários nos EUA estava em queda, sugerindo que rentistas extremos estavam se desenvolvendo em alguns setores da economia, especialmente nas áreas de recursos e finanças. Nesse sentido, os EUA podem de fato estar se tornando mais europeus.

Caroline Freund, um dos autores do estudo e hoje diretora do Banco Mundial, diz que o importante é o que acontece quando um gatinho se torna um gato. “Tudo está bem quando essas companhias bilionárias são jovens, dinâmicas e estão em crescimento, mas em algum momento elas querem proteger o que têm e é aí que a coisa fica problemática”, afirma ela.

“Acho que isso é particularmente problemático em razão da covid-19. O que muito provavelmente veremos é uma parcela desproporcional de pequenas e médias empresas sendo destruídas, de modo que as grandes empresas ficarão ainda mais dominantes.”

O dinamismo de uma economia não resulta apenas da rapidez com que os empreendedores conseguem construir grandes fortunas. Ele depende da facilidade com que eles também podem perdê-las.

Quem te viu, quem te vê… Confira a lista acima de cinco anos atrás.

Gustavo Brigatto (Valor, 26/05/2020) informa: na lista dos mais ricos do Brasil, a maioria das fortunas foi criada a partir de negócios iniciados na família, não diretamente fundados por eles, mas, na maioria dos casos, os hoje bilionários, os tornaram maiores.

Dos 45 nomes compilados na mais recente lista elaborada pela “Forbes” – publicada no começo de abril – 23, ou 51%, se encaixam nesse perfil. É o caso, por exemplo, dos irmãos Joesley e Wesley Batista (com fortunas de US$ 2,1 bilhões cada), que transformaram o açougue fundado pelo pai na cidade de Anápolis (GO) em um dos maiores processadores de carne do mundo. Joseph Safra, banqueiro mais rico do mundo, e ocupando a posição 39 entre os bilionários globais, com uma fortuna de US$ 19,9 bilhões, é descendente de uma família de banqueiros sírios.

Entre os bilionários que fundaram seus próprios negócios estão nomes como Jorge Paulo Lemann – segundo brasileiro mais rico, e 129a fortuna do mundo, estimada em US$ 10,4 bilhões – e seus sócios Marcel Telles e Beto Sicupira, com patrimônios de US$ 6,5 bilhões e US$ 4,8 bilhões, respectivamente.

As fortunas dos bilionários brasileiros variam de US$ 19,9 bilhões (Joseph Safra) a US$ 1,1 bilhão (Franco Bittar Garcia, neto de Luiza Trajano Donato e Pelegrino José Donato, fundadores do Magazine Luiza e mais novo da lista, com 36 anos). O número de bilionários no país caiu em relação ao ranking do ano passado, quando foram registrados 58 nomes – o recorde foi registrado em 2014, com 65. Têm saudade da Era Social-Desenvolvimentista, quantos todos os brasileiros estavam melhor?

Os setores de atuação dos bilionários são variados, incluindo finanças, saúde, cosméticos, calçados, varejo e tecnologia (Eduardo Saverin, cofundador do Facebook, com US$ 8,4 bilhões, e Luis Frias, filho do fundador da “Folha de S. Paulo”, e presidente do conselho do PagSeguro, com US$ 1,4 bilhão).

A fortuna conjunta dos bilionários variou negativamente em um ano, saindo de US$ 179,7 bilhões para US$ 127,1 bilhões. Não que eles tenham, necessariamente, ficado mais pobres. Na verdade, foi a valorização do dólar, que saiu de um patamar inferior a R$ 4 para perto de R$ 6.

A lista global de bilionários da Forbes tem 2.045 nomes, 58 a menos que no ano passado. Juntos, eles valem US$ 8 trilhões, US$ 700 milhões abaixo de 2019. Jeff Bezos, da Amazon, lidera, com US$ 113 bilhões.

Ascensão e Queda de Bilionários Brasileiros publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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