Daniel Yergin, no livro “A busca: Energia, Segurança e a Reconstrução do Mundo Moderno” (Rio de Janeiro: Editora Intrínseca; original “The Quest: Energy, Security, and the Remaking of the Modern World” publicado em 2011), conta: os mercados de futuros de hoje remontam aos mercados de futuros de produtos agrícolas criados no século XIX nas cidades do Meio-Oeste dos Estados Unidos, em especial, a Bolsa de Mercadorias de Chicago.
Ao se aproveitar dos mercados de futuros, um fazendeir, plantando na primavera poderia se assegurar de seu preço de venda no próximo outono. Ele poderia perder o potencial de valorização (upside) se o preço do produto subisse. Mas, usando o mercado de futuros, evitaria a ruína financeira caso uma safra abundante ocasionasse uma queda repentina do preço.
O mercado de futuros do petróleo no Nymex oferecia uma “ferramenta de gestão de risco” para quem produzia petróleo ou quem o utilizava.
Uma empresa aérea, por exemplo, compraria contratos de futuros do petróleo para se proteger contra a possibilidade de aumento de preços da commodity física. Rebaixaria a fração de um custo de um barril pelo direito de comprar cem contratos — o equivalente a cem mil barris — daqui a um ano ou dois ao preço atual.
O preço do petróleo — e do combustível para aviação — poderia subir 50% ao ano daí em diante. Mas os contratos de futuros teriam subido em mais ou menos o mesmo valor.
A empresa aérea poderia perder sua posição, acumulando a mesma quantidade à medida que o preço aumentasse — menos o custo da compra dos futuros. Assim, a empresa aérea se protegeria comprando os futuros, embora essa prática de hedge custasse dinheiro. Entretanto, esse custo era, na verdade, o que a empresa aérea estava disposta a pagar para se precaver contra um aumento de preço.
Para cada empresa aérea, ou produtor independente de petróleo desejando se proteger contra uma queda no preço, ou distribuidor de óleo para aquecimento doméstico preocupado com o que aconteceria no inverno, alguém precisava estar do outro lado da transação comercial. E quem seria essa pessoa?
Esse alguém era o especulador. Este não tinha interesse na commodity física, apenas em lucrar com a transação, segundo o Nymex, “conseguindo prever as oscilações de preços”.
Se você quisesse comprar um contrato de futuros para se proteger contra um aumento de preço, o especulador efetivamente venderia. Se quisesse vender para se proteger contra uma queda de preço, o especulador compraria. Ele entrava e saía de transações comerciais em busca de lucros, compensando uma posição com a outra. Sem o especulador, o pretenso hedger não pode fazer sua proteção.
Não raro, a palavra “especulador” confunde-se com “manipulador”. Mas “especulação”, no uso do mercado de futuros, é um termo técnico com significado bastante preciso.
O “especulador” é um “jogador não comercial”. É um investidor sério ou um negociante agindo com base em uma análise técnica.
Ele desempenha um papel fundamental. Se não há especulador, não há liquidez, mercados de futuros, ninguém do outro lado do negócio, nenhuma possibilidade para um hedger — a companhia aérea, o produtor de petróleo ou o fazendeiro ou a multinacional preocupada com a volatilidade da moeda — comprar alguma segurança sob a forma de futuros, garantindo-se contra os caprichos do preço e da sorte.
A negociação de futuros e de opções no petróleo subiu de pequenas quantidades em meados da década de 1980 para altos volumes. Em 2004, a negociação de futuros do petróleo no Nymex era trinta vezes maior se comparada a 1984.
Crescimento semelhante foi registrado em outro importante mercado de futuros do petróleo, a bolsa de valores ICE em Londres, originalmente denominada Internacional Petroleum Exchange, onde o Brent, a corrente de petróleo do mar do Norte, é comercializado.
O contrato do Brent em Londres e o contrato do “petróleo bruto e doce” em Nova York tornaram-se os padrões globais de petróleo. Eles serviriam de benchmark para os petróleos brutos. O WTI era orientado para a América do Norte; o Brent, para o hemisfério oriental. Mais tarde, um contrato de Dubai foi instalado no Oriente Médio.
Depois da crise nos mercados de ações, em 2000, os investidores queriam encontrar investimentos alternativos. Na época, percebeu-se os preços das commodities não oscilarem em coordenação com outras opções de investimento. Logo, não estavam correlacionados com ações e títulos.
Assim, por teoria, se o valor da subscrição de capital de um fundo de pensão caísse, o mesmo não aconteceria com o valor das commodities. Elas poderiam até subir.
Desse modo, as commodities protegeriam as carteiras contra quedas nos mercados de ações e ajudariam os fundos de pensão a garantir os retornos dos quais os aposentados dependiam. Nos anos seguintes, a diversificação em commodities tornou-se uma nova e importante estratégia de investimento entre muitos fundos de pensão.
Os investidores também tentavam comprar outras formas de “seguro”. Um grande fundo de pensão europeu, por exemplo, estava adquirindo contratos de futuros para proteger sua carteira de “um conflito no Oriente Médio”. Caso tal evento se concretizasse, o valor da subscrição de capital do fundo provavelmente sofreria uma queda vertiginosa, enquanto os preços do petróleo tenderiam a subir.
Esse fundo de pensão acreditou estar agindo como um investidor cauteloso, fazendo um hedge em sua carteira contra problemas desse tipo e diversificando seus ativos para proteger os aposentados. Mas, pela definição do mercado de futuros, era um especulador.
Mercado de Futuros do Petróleo publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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