quarta-feira, 11 de março de 2020

Redescoberta da Complexidade

David Colander e Roland Kupers, coautores do livro “Complexity and the Art of Public Policy: Solving Society’s Problems from the Bottom Up” (Princeton University Press, 2014), afirmam: o quadro de complexidade está se desenvolvendo agora devido aos avanços na tecnologia computacional e analítica. Eles tornaram possível analisar formalmente questões antes consideradas muito complicadas para serem analisadas.

Os avanços no kit de ferramentas de complexidade estão permitindo os cientistas conceituarem formalmente relacionamentos e processos. Antes não podiam ser formalizados ou pareciam tão embaçados a ponto de não poderem ser vistos pela Ciência.

Os humanistas podiam vê-los. Por isso, os humanistas muitas vezes tiveram tantos problemas com as prescrições políticas e a visão de mundo dos economistas. Porém, esses humanistas foram descartados porque o que eles estavam falando era delicado e ia além da simplificação analítica necessária para a ciência.

Um dos efeitos da revolução da complexidade é o antes considerado apenas ideias estapafúrdias dos humanistas estão sendo integrados ao pensamento das Ciências Sociais e servem ao aconselhamento sobre políticas públicas. Combine a sensibilidade de um humanista com um treinamento matemático formal e você terá um cientista de complexidade.

A Ciência da Complexidade concentra-se em como os sistemas podem fazer a transição por conta própria para um estado mais ordenado. A maioria das pessoas espera o comportamento de sistemas envolvendo muitas interações seja caótico.

Uma descoberta importante da Ciência da Complexidade é, surpreendentemente, muitos não são caóticos. Essa visão de complexidade – onde os sistemas podem se auto-organizar – é uma visão importante para todos os formuladores de políticas e deve ser incluída como parte de sua abordagem. Essa forma de auto-organização é chamada de “emergência“.

O fato de a estabilidade poder emergir de baixo para cima tem enormes implicações para as políticas e ainda não foram incorporadas às narrativas políticas padrão. Um dos objetivos deste livro aqui resenhado é mudar isso, para definir um tipo alternativo de abordagem política: uma abordagem política ativista do laissez-faire decorrente da complexidade.

Uma abordagem ativista do laissez-faire envolve incentivar propositadamente o sistema a tirar proveito das propriedades emergentes de sistemas complexos. A natureza da política e o papel do governo são bastante diferentes nessa narrativa política do feito nas narrativas políticas padrão.

Portanto, a princípio, o uso do quadro de complexidade não se ajusta à intuição. Mas com o tempo, ele se tornará intuitivo, assim como pensar no mundo como redondo e não plano se tornou intuitivo.

A Ciência da Complexidade se baseia e complementa a Ciência Padrão. Quando os sistemas podem ser utilmente descritos por uma dinâmica linear mais fácil, os cientistas da complexidade ficam felizes em fazê-lo. Mas muitos dos sistemas observados não podem ser bem descritos dessa maneira.

Para eles a teoria da complexidade é relevante, uma vez que os sistemas sociais são caracterizados por densas e diversas interconexões. E elas não foram facilmente capturados pela ciência padrão.

Como as ferramentas da Ciência da Complexidade são projetadas para capturar essas interconexões, muitos aspectos dos sistemas sociais são mais bem vistos como inerentemente complexos e tratados com o uso de ferramentas de complexidade.

Essa pequena mudança de perspectiva tem implicações importantes na maneira como conduzimos as políticas deduzidas de Ciências Sociais em geral, e as políticas econômicas em particular.

Novas ferramentas analíticas e de complexidade permitem que os economistas conceitualizarem a economia como um sistema complexo em evolução. Anteriormente, os cientistas econômicos confiavam em ver o sistema social como um sistema estático – com relacionamentos lineares, equilíbrio e conexões encaixadas em equações relativamente simples.

O quadro de complexidade conceitua o sistema social como um complexo labirinto de inter-relações, com enormes mudanças em nível micro subjacentes a qualquer conceito aparentemente estático. O que pode parecer um macro-equilíbrio estável é, na verdade, o resultado de um micro desequilíbrio subjacente de mudanças constantes.

Embora os micromovimentos do sistema possam ser governados por regras locais muito simples, o comportamento agregado do sistema e muitos de seus padrões macro estão além da compreensão dedutiva. No entanto, para entender como é provável o sistema evoluir, é possível estudar as regras em pequena escala e ter uma ideia de como a ordem pode surgir espontaneamente. Esse estudo fornece algumas dicas, mas não permite prever a evolução do sistema. Na maioria dos casos permanecerá além do alcance analítico.

Redescoberta da Complexidade publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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