Daniel Yergin, no livro “A Busca: Energia, Segurança e a Reconstrução do Mundo Moderno” (Rio de Janeiro: Editora Intrínseca; original “The Quest: Energy, Security, and the Remaking of the Modern World” publicado em 2011), destaca a situação da economia venezuelana piorara, provocando uma severa crise no sistema bancário.
Em meados da década de 1990, ficou claro: a Venezuela precisava com urgência aumentar a receita do petróleo para dar conta dos problemas do país. Como os preços internacionais não estavam subindo, a única maneira de gerar receita adicional era aumentar a quantidade de barris de petróleo produzidos pelo país. O novo presidente da PDVSA, um engenheiro de petróleo, iniciou uma campanha para acelerar os investimentos e a produtividade.
A iniciativa mais significativa, e de impacto global, foi la apertura — “a abertura” (na verdade, uma reabertura) —, ou seja, convidar empresas internacionais de petróleo a voltar para a Venezuela e investir em parceria com a PDVSA, a fim de pôr em produção as reservas mais dispendiosas. Elas demandavam tecnologias mais sofisticadas.
Isso não foi uma guinada à ideia da nacionalização, refletia mais a tendência a uma abertura em virtude da nova era de globalização. Foi também um esforço pragmático para mobilizar investimentos de grande escala com os quais o governo não podia arcar sozinho.
La apertura era bastante controversa. Para alguns era um anátema, uma heresia. Afinal de contas, a rota tradicional seguida — nacionalização, controle estatal, expulsão dos “estrangeiros” — era muitíssimo popular.
Contudo, para o tecnocrata, tudo isso era ideologia. O que importava não eram as aparências e o simbolismo, mas a receita e os resultados. O Estado não dispunha de recursos suficientes para financiar todos os investimentos necessários e os programas sociais eram sérios concorrentes às verbas do governo.
Além disso, apesar de sua competência, a PDVSA não tinha a tecnologia avançada necessária. La apertura traria capital e tecnologia internacionais. A produtividade dos campos mais antigos aumentaria.
Finalmente, a Venezuela conseguiria usar tecnologia e investimento em larga escala para liberar as enormes reservas de petróleo pesado na área conhecida como Faja, a região do Orinoco, cuja produção até então não era viável economicamente.
Com la apertura, a Venezuela talvez conseguisse duplicar sua capacidade de produção em cinco milhões de barris em seis ou sete anos, e o governo ficaria com a maior parte da receita adicional gerada por meio de impostos e parcerias. Mas nada disso poderia ser realizado sem investimento estrangeiro.
Quando o presidente concluiu sua equipe próxima não ter o deixado a par do tamanho do desafio para a exploração do petróleo, ele aprovou la apertura. Nos anos seguntes, enquanto os contratos eram negociados e implementados, la apertura levaria dezenas de bilhões de dólares de investimentos internacionais para o país, impulsionando o desenvolvimento da vasta área de areias betuminosas, a Faja, e “reativando” campos petrolíferos mais antigos que precisavam de uma injeção de novas tecnologias para reverter seu declínio.
Além disso, havia um segundo aspecto muito importante na política para o petróleo. A Venezuela produziria à sua taxa máxima, independentemente das cotas de produção da Opep, na verdade ignorando a cota do país. A Venezuela argumentou sua cota ter sido estabelecida uma década antes e não refletia as mudanças populacionais nem suas necessidades sociais.
Entre 1992 e 1998, a Venezuela aumentou sua produção de petróleo em surpreendentes 40%. Isso provocou uma acirrada batalha dentro da OPEP. Os observadores começaram a escrever sobre uma “guerra do petróleo” pela fatia de mercado entre os dois países com maior liderança na fundação da Opep — a Venezuela, agora ignorando as cotas, e a Arábia Saudita, insistindo para elas serem observadas.
Essa batalha culminou na reunião de Jacarta em novembro de 1997 e terminou com o acordo de os exportadores poderem aumentar sua produção o mais rápido possível. Naquele momento, todos já estavam fazendo em maior ou menor escala.
Porém, a crise financeira asiática já havia começado a provocar um colapso no preço do petróleo, devastando os orçamentos dos países exportadores de petróleo. A essa altura, a Venezuela reconheceu que não poderia mais sustentar sua estratégia de fatia de mercado.
Em março de 1998, ela, a Arábia Saudita e o México, país não membro da OPEP, reuniram-se em Riad e elaboraram uma série de reduções de produção para os países exportadores, membros e não membros da OPEP. A maioria dos outros exportadores seguiu o acordo, por interesse próprio e puro pânico.
Porém, isso não foi suficiente para lidar com a queda da demanda decorrente das crises asiáticas. Os preços do petróleo, depois de uma breve recuperação, caíram para US$ 10 o barril. Mais tarde, para algo intolerável para os exportadores: um valor de um único dígito.
La Apertura: Abertura Externa para a Globalização publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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