Daniel Yergin, no livro “A busca: Energia, Segurança e a Reconstrução do Mundo Moderno” (Rio de Janeiro: Editora Intrínseca; original “The Quest: Energy, Security, and the Remaking of the Modern World” publicado em 2011), analisa a questão da volatilidade das moedas, em especial, a oscilação entre o petróleo e o dólar.
Nesse período, os preços da commodity, no jargão dos economistas, “acompanhavam negativamente a taxa de câmbio do dólar americano”. Simplificando, quando o dólar se depreciava, o preço do petróleo subia.
Esse preço é definido em dólares. Durante parte desse período, o dólar estava fraco, perdendo valor em relação a outras moedas.
Tradicionalmente, durante os períodos de turbulência e incerteza política, as pessoas “correm para o dólar” em busca de segurança. No entanto, durante esse período de turbulência foi só para a moeda americana. As demais se apreciavam em relação a ela. Logo, a corrida foi para proteção em commodities, principalmente petróleo e ouro.
O petróleo era uma forma de proteção contra o dólar mais fraco e os riscos de inflação. Assim, enquanto o “preço” do dólar caía em relação a outras moedas, em particular o euro, o do petróleo subia.
Em geral, os mercados financeiros e a euforia com ganho de dinheiro por parte de investidores costumavam ter um impacto cada vez maior sobre o preço do petróleo, apostando em uma tendência firma de alta. Isso costuma ser descrito como especulação.
O petróleo vai deixando de ser apenas mais uma commodity física. Tornava-se também um ativo financeiro, isto é, uma forma de manutenção de riqueza no mercado financeiro. Alguns deram a esse processo o nome de “financeirização” do petróleo.
Na década de 1970, não havia um mercado mundial de petróleo no qual barris eram comercializados de um lado para o outro. A maior parte do comércio global de petróleo acontecia dentro de cada uma das empresas de petróleo integradas, entre suas várias unidades operacionais. Era a antiga postura, por exemplo, da Petrobras.
O petróleo saía do poço para os navios-petroleiros e, depois, para as refinarias e postos de combustível. Durante essa longa jornada, o petróleo permanecia dentro dos limites da companhia. Era isso que significava “integração”. Ela era considerada a ordem natural do negócio, a maneira como a indústria do petróleo precisava ser administrada.
Porém, a política e o nacionalismo mudaram tudo isso. Na década de 1970, os países exportadores de petróleo nacionalizaram as concessões das empresas, consideradas por eles remanescentes de uma era mais colonial.
Depois da nacionalização, as empresas deixaram de ter a propriedade do petróleo no solo. Os elos de integração foram rompidos. Quantidades significativas de petróleo foram vendidas por meio de contratos de longo prazo.
O petróleo também se tornou uma commodity cada vez mais negociada, vendida em um mercado mundial de petróleo diversificado e em expansão. Essas transações, por sua vez, eram realizadas tanto por áreas de trading recém-estabelecidas nas tradicionais companhias de petróleo quanto por grupos novos e independentes de traders de commodities.
Quando Ronald Reagan tomou posse na presidência, em janeiro de 1981, o reaganomics colocou um ponto final no controle de preços, existente desde a década anterior, imediatamente. Foi o seu primeiro ato executivo.
Essa transição do controle de preços para o livre-mercado não ocorreu apenas nos Estados Unidos. Na Grã-Bretanha, Margareth Thatcher trocou o regime de preços fixos pelo preço à vista para estipular a taxa do imposto sobre o petróleo. Como benchmark, usava uma corrente de petróleo do mar do Norte denominada Brent.
Com a flexibilidade do câmbio e das cotações, o petróleo se tornava “apenas outra commodity”. Embora ainda tentasse gerenciar os preços, a OPEP agora tinha um novo concorrente: o mercado global.
Especificamente, surgia um novo mercado para ajudar compradores e vendedores a gerenciarem o risco dos preços flutuantes. Era o New York Mercantile Exchange — o Nymex. O Nymex, em si, não era exatamente novo. Na verdade, foi fundado em 1872.
O Nymex começou a transacionar os contratos futuros de óleo para aquecimento domiciliar e gasolina. O dia 30 de março de 1983 foi o dia histórico quando essa bolsa começou a negociar contratos futuros de petróleo bruto leve e doce, ligado a uma corrente denominada WTI — West Texas Intermediate — associado aos tanques de armazenamento de Cushing, Oklahoma.
O preço do petróleo passou a ser definido pela interação dos operadores de pregão no Nymex com outros negociantes, hedgers e especuladores no mundo inteiro. Foi o começo do “barril de papel”. Ao longo dos anos, à medida que a tecnologia avançava, o preço seria definido não apenas por dia e por hora, mas também segundo a segundo.
“Financeirização” do Petróleo publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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