Daniel Yergin, no livro “A busca: Energia, Segurança e a Reconstrução do Mundo Moderno” (Rio de Janeiro: Editora Intrínseca; original “The Quest: Energy, Security, and the Remaking of the Modern World” publicado em 2011), destaca: Chávez realizou uma mudança política decisiva. Ela repercutiria no mundo inteiro.
A Venezuela deixou de incentivar a estratégia de aumentar a receita do petróleo aumentando sua produção. Na verdade, tornou-se o maior defensor na OPEP dos cortes de produção e das cotas controladas.
À medida que os preços começaram a se recuperar, Chávez não deixou dúvida sobre sua explicação: “O aumento do preço do petróleo é resultado de uma estratégia de acordos, uma mudança de 180° na política dos antigos governos e da Petróleos de Venezuela (…) Agora o mundo sabe que há um governo sério na Venezuela.”
Chávez pôs a OPEP no centro da política petrolífera da Venezuela, mas, na verdade, o país já havia começado a reduzir a produção em março de 1998, antes de sua eleição. Além disso, a Venezuela era apenas uma peça em um cenário muito maior. Pois, diante de uma receita em acentuado e abrupto declínio, todos os países da OPEP — e alguns que não faziam parte dela — consideravam as cotas e a restrição uma ordem dominante.
Além do mais, o cenário geral já era outro. Embora a OPEP controlasse a produção, a Ásia começava a se recuperar. A demanda ia se reestabelecendo em ritmo veloz. E o mesmo acontecia com os preços. Essa crise do petróleo específica — a crise dos produtores — chegava ao fim.
Os exportadores, antes na melancolia de precificar em US$ 10 ou menos o barril, agora mostravam-se mais animados e confiantes, falando em uma “faixa de preço” de US$ 22 a US$ 28 como meta.
Mas, no outono de 2000, estimulado pela recuperação econômica da Ásia e pela nova política da OPEP, o preço do petróleo aumentou repentinamente acima da margem, chegando a mais de US$ 30 o barril, um aumento superior ao triplo do preço vigente apenas dois anos antes. O grande aumento na demanda — um crescimento repentino de 2,5 milhões de barris por dia entre 1998 e 2000 — teve um impacto decisivo no mercado do petróleo.
O “aumento acentuado no preço do petróleo”, como dizia a imprensa, estava disparando alarmes nos países consumidores. Logo eles tinham se acostumado aos preços mais baixos. Agora, temiam a “formação de uma crise de energia”.
A alta de preços — da gasolina e do óleo para aquecimento doméstico por ela provocada — estava se tornando uma questão litigiosa na acirrada corrida presidencial de 2000 entre George W. Bush e Al Gore. Em 22 de setembro de 2000, no meio da campanha, dois dias depois de os preços dispararem para US$ 37 por barril, o que soava aterrorizante, o governo Clinton liberou um estoque de petróleo de reserva visando aliviar os aumentos de preço nas semanas anteriores à chegada do inverno.
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Àquela altura, Hugo Chávez já tinha se estabelecido como uma força no mundo do petróleo no hemisfério ocidental. No entanto, não está claro se, sem a queda do preço do petróleo de 1997-1998, ele teria a oportunidade, apenas sete anos depois de uma tentativa de golpe terminado na cadeia, de colocar em prática o que escrevera em seu diário décadas antes, quando era cadete da academia militar, e “assumir a responsabilidade” pela Venezuela.
Agora, como o ditador general Cipriano Castro um século antes, ele pretendia seu projeto bolivariano se estender para além das fronteiras da Venezuela, abarcando o restante da América Latina. Porém, ao contrário do general, ele também tinha em mente o alcance global. E o aumento do preço do petróleo lhe daria os recursos para a investida.
Contratações em longo prazo face à Volatilidade das Cotações do Petróleo publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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