segunda-feira, 9 de março de 2020

Explodiu a Bolha!

A Bolsa brasileira despencava mais de 10% e teve as negociações suspensas nesta segunda-feira (9/3/20). O dólar operava em alta, chegando a encostar em R$ 4,80, em meio a uma crise no preço do petróleo e à queda de Bolsas no mundo todo.

Júlia Moura (FSP, 09/03/20) anuncia o esperado: a explosão da bolha especulativa na economia brasileira — e mundial. Aqui, os péssimos fundamentos econômicos, destacadamente, a queda acumulada do PIB per capita em -7,4% desde o fim de 2013, não justificavam a propaganda enganosa de O Mercado — e da imprensa oficiosa “chapa-branca”.

Até dia 4 de março de 2020, estrangeiros sacaram R$ 44,8 bilhões da Bolsa de Valores brasileira em 2020. O valor supera o montante retirado em todo o ano de 2019, de R$ 44,5 bilhões, sem contar ofertas de ações (IPOs​ e follow-ons).

A saída também passa a retirada de 2008, maior da série histórica da B3. Em valores corrigidos pela inflação, foram sacados R$ 44,6 bilhões no ano da crise financeira. A velocidade de saída também é recorde, cerca de R$ 1,05 bilhão por pregão, e supera a média diária de 2008.

Considerando IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) e follow-ons (oferta subsequente de ações), o saldo de estrangeiros está negativo em R$ 33,4 bilhões neste ano. Em 2019, considerando essas operações, a saída foi de R$ 4,7 bilhões.

A saída de estrangeiros não é exclusividade do Brasil, mas ocorre com mais intensidade e rapidez por aqui devido à importante presença desses investidores no país e à ampla liquidez do mercado brasileiro.

Considerando o volume de compra e venda de ações na Bolsa, os estrangeiros são 45% do total em 2020. Institucionais (bancos e fundos) são 33% e pessoas físicas, 17,6%.

“O fato da economia brasileira patinar reduz a atratividade para estrangeiros. O fluxo de saída está ligado à falta de expectativa de crescimento no Brasil, algo que foi intensificado pelo coronavírus porque, em horas de pânico, investidores conseguem se desfazer de posições aqui”, diz Paulo Gala, diretor-geral da Fator Administração de Recursos.​

Neste ano, com o temor de investidores com o impacto econômico do coronavírus e desaceleração da economia global, estrangeiros vendem ativos com maior velocidade em países emergentes em busca de investimentos mais seguros, como o ouro e títulos do Tesouro americano, algo que se reflete na desvalorização de praticamente todas as moedas emergentes, com exceção do renminbi chinês e dólar de Taiwan.

Dentre todas as moedas globais, o real é a que mais se desvaloriza no ano, perdendo 15,5% ante o dólar.

Nesta sexta, após novos leilões do BC de swap cambial no valor de US$ 2 bilhões, a moeda americana caiu 0,4%, a R$ 4,634. O turismo está a R$ 4,81 na venda.

Para segunda (9), o BC anunciou mais US$ 1 bilhão em leilões de swap cambial. A medida aumenta a oferta da moeda no mercado, já que o BC oferece contratos que remuneram o investidor pela variação cambial, o que ajuda a reduzir o preço do dólar.

Já a Bolsa de Valores brasileira teve o segundo pregão seguido de forte queda nesta sexta e fechou abaixo do patamar simbólico de 100 mil pontos pela primeira vez desde outubro. O Ibovespa recuou 4%, a 97.996 pontos, menor patamar desde 27 de agosto de 2019. Na semana, cai 6% e, no ano, 15%.

A queda nesta sessão foi pressionada pela Petrobras, cujas ações despencam com a queda internacional do petróleo. As ordinárias (com direito a voto) caíram 10,25%, a R$ 24. As preferenciais (sem voto), 9,7%, a R$ 22,83.

O contrato futuro do barril do Brent caiu 9%, a US$ 45,46, menor valor desde 2016, depois que Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e Rússia não entraram em acordo sobre cortes mais profundos na produção de petróleo, para manter o patamar do preço com a queda na demanda em meio a epidemia de coronavírus.

O risco-país do Brasil medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos, um tipo de contrato que funciona como termômetro da confiança dos investidores em relação a economias, subiu 10,7%, a 142,9 pontos, maior patamar desde outubro de 2019, antes da reforma da Previdência ser aprovada no Senado.

Na quinta (5/3/20), o CDS brasileiro subiu 14,4%, a maior alta percentual diária desde o chamado Joesley Day, em 18 de maio de 2017, dia em que veio a público a informação de que Joesley Batista gravara conversa com o então presidente Michel Temer (MDB). Na ocasião, o risco-país teve alta de 29%, para 265 pontos.

Se o CDS sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do país; se ele cai, o recado é o inverso: sinaliza aumento da confiança em relação à capacidade de o país saldar suas dívidas.

Nesta sexta-feira (06/03/20), o índice de volatilidade VIX, baseado em operações no mercado financeiro americano, foi ao maior patamar da história durante o dia, acima da máxima de 2008, recorde anterior. Ao fim do pregão, o índice reduziu a alta, no maior valor desde 2011, quando a S&P baixou a nota de crédito dos Estados Unidos.

Nos Estados Unidos, Dow Jones caiu 1%, S&P 500, 1,7% e Nasdaq, 1,8%. Enquanto investidores americanos saem de ativos arriscados, como ações, eles buscam títulos do Tesouro, que são mais seguros. O movimento faz o rendimento destes títulos desabarem. Nesta sessão, o rendimento do título do Tesouro americano despencou 16,4% para 0,7623% ao ano, menor patamar da história.

A aversão a risco muito grande é justificada com a chegada do coronavírus na Itália, nos Estados Unidos e na América do Sul. As viagens, a hotelaria e as importações/exportações estão se paralisando, mas com um efeito multiplicador negativo. Investidores estrangeiros retiram recursos de emergentes.

Como a taxa de juros está baixa e negativa em termos reais em quase todo o mundo, as bolhas de ações inflaram em geral. Agora estão explodindo nas principais Bolsas do mundo.

Como os dois principais parceiros comerciais do Brasil são China e Estados Unidos, economias afetadas pela doença, podemos ter um impacto maior do que pares emergentes. Fora que, o fraco desempenho da economia local não segura o estrangeiro.

A saída de estrangeiros não é só da Bolsa. Segundo dados do Banco Central (BC), o saldo de movimento financeiro no país está negativo em US$ 10,8 bilhões (R$ 50 bilhões) em 2020, pior que aos cinco primeiros meses de 2019.

A Selic na mínima histórica também contribui para a evasão de dólares do país. Isso porque estrangeiros vinham ao país pela vantagem do carry trade, prática de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, no caso, os EUA, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior, o Brasil. Com a Selic a 4,25%, essa operação deixa de ser vantajosa e estrangeiros retiram seus recursos, em dólar, do país.

“A saída de estrangeiros do país vem desde 2019, a queda da Selic expulsou quem estava interessado no curto prazo e com a expectativa do BC cortar juros no dia 18 acelerou a saída de capital”, afirma Paulo Gala, da Fator Administração de Recursos.​

A evasão de dólares da Bolsa e de demais investimentos contribui para uma cotação do dólar mais elevada. Na quinta (5/3/20), a moeda americana bateu novo recorde nominal, a R$ 4,653.

“A aprovação da Previdência já não mexeu muito com o investidor e, agora, o Congresso está parando. Fora que o mercado de trabalho está melhorando lentamente com criação de vagas ruins e há muita ociosidade no comércio e na indústria”, diz Gala.

O Congresso e o governo do capital reformado e desqualificado viveram uma nova crise em torno do Orçamento impositivo, o que pode afetar o andamento das reformas administrativa e tributária. Apesar de acordo sobre o tema, o presidente incentivou ​ato marcado para o dia 15, que prega bandeiras contrárias ao Congresso e em defesa de militares e do atual governo. Fora que, com eleições municipais, a intensidade do Legislativo deve ser reduzida.

Na quarta (4/3/20), foi divulgado o PIB de 2019, que cresceu 1,1%, abaixo da previsão inicial da equipe econômica de Paulo Guedes.

Explodiu a Bolha! publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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