terça-feira, 11 de junho de 2019

Truques do “Colarinho Branco”

Eduardo Moreira, depois de recordar algumas trivialidades sobre moeda e/ou dinheiro, no primeiro capítulo do livro “O que os donos do poder não querem que você sabia”, anuncia:  vamos focar agora nas pessoas precisada de dinheiro.

“Vamos pensar, por exemplo, em alguém que queira abrir um novo negócio. Imaginemos que essa pessoa tenha apenas metade do dinheiro de que precisará para empreender seu sonho. Só existem duas maneiras de ela conseguir a outra metade:

  1. ou pegará emprestado
  2. ou chamará alguém para ser seu sócio.

No primeiro caso, precisará emitir um comprovante (um título) para o credor (quem lhe emprestou o dinheiro) cobrar a devolução da quantia em uma data futura.

No caso de chamar um sócio, precisará também emitir um certificado para essa pessoa poder provar ser agora também dona do negócio – e, portanto, ter o direito a uma parcela de seus resultados.

O comprovante emitido pela pessoa para o credor (quem lhe emprestou dinheiro) é um título de dívida, ou título de renda fixa.

O comprovante emitido para o sócio é uma ação.

Agora a notícia bombástica dada por Eduardo Moreira: todo o mercado financeiro resume-se a somente esses dois títulos, os de dívida e as ações! Oh…

Bancos e corretoras de valores têm a função de intermediar o dinheiro utilizado por pessoas e empresas. Eles fazem isso através da emissão de dívidas (títulos de renda fixa) e da troca ou emissão de participações em sociedades (as ações).

Moreira, como ex-trader, se esquece do sistema de pagamentos e de outros serviços bancários ao dizer: “Tudo o que você faz em um banco resume-se a isso. Do dinheiro parado em conta corrente até os fundos de investimentos, CDBs, negociações no Tesouro Direto e mais aquela centena de produtos aparentemente complicados – todos são ou uma dívida ou uma participação societária!”

É simplório ao dizer: “Sabendo só isso, a maioria das pessoas economizaria uma quantidade enorme de dinheiro todos os anos. Pois saberia as perguntas corretas a fazer a seus atendentes nos bancos e não embarcaria em canoas furadas tão frequentemente vendidas como bons produtos”.

Acha mais fácil a demonização em lugar de tratar com profundidade o que é uma corporação bancária com milhares de acionistas e dirigentes profissionais. “Mas bancos não querem jamais que você entenda que é assim que funciona. Afinal, é o desconhecimento das pessoas em relação ao mundo das finanças e investimentos que permite que os bancos escondam tarifas, taxas e outras tantas fontes de receitas de seus clientes. Aliás, existe uma enorme máquina funcionando, patrocinada pelos grandes bancos, cujo intuito é desinformar as pessoas e fazer com que tomem decisões cada vez menos inteligentes e mais lucrativas para os bancos”.

A receita maquiavélica, segundo a teoria da conspiração alardeada por Eduardo Moreira, começa já pela vestimenta de quem te atende no banco. “Gerentes, corretores, analistas e consultores vestem-se com ternos e gravatas para se colocarem em um patamar de superioridade em relação a seus clientes. Para fazer com que você tenha medo e vergonha de fazer uma pergunta, de demonstrar sua insegurança ou seu desconhecimento em relação aos assuntos financeiros.”

A carência de Ensino Superior para a grande massa da população é a causadora disso. Apenas 13,4 milhões de pessoais ou cerca de 15% da população ocupada têm diplomas para lhes dar status e conhecimento e não se inibirem diante de um reles terno-e-gravata.

Mas Eduardo Moreira continua sua parolagem. “O discurso de quem atende é elaborado propositalmente para que você não entenda nada. São letras, siglas, jargões e tantos outros artifícios, que fazem que o cliente se sinta tão desinformado, tão pouco inteligente e diminuto que a ele só resta uma alternativa: aceitar o que está sendo proposto sem questionar. O mais curioso é que o discurso é tão confuso que nem o gerente ou consultor que o utiliza costuma entender o que está falando. Quer fazer um teste? Interrompa-o no meio do discurso com uma pergunta. Provavelmente ele começará desde o começo novamente, como fazem os guias turísticos que decoram seus discursos. Ou terão respostas ainda mais complicadas para levá-lo a um grau de confusão que te fará desistir de entender o assunto, sucumbindo, enfim, ao que está sendo recomendado.

O golpe final dos bancos é a avalanche de propaganda que fazem nas tvs, rádios, outdoors e até nas bicicletas rodando nas ruas com suas marcas – para dar a sensação de solidez. Bilhões de reais são gastos todos os anos (bancos estão entre as três “indústrias” que mais anunciam no país) para consolidar essa ideia. Trata-se de uma sensação em boa parte ilusória, pois, na maioria dos investimentos que fazemos, pouca diferença faz estarmos neste ou naquele banco em termos de riscos assumidos. Não, você não entendeu errado, é exatamente dessa forma”.

Aí sua leviandade falha mais uma vez: em crise sistêmica fica bem clara a diferença entre “banquetas” (digitais ou não) e bancos “grandes demais para bancarrota”. A Autoridade Monetária busca evitar o risco sistêmico não deixando esses bancos grandes quebrarem.

No espírito de literatura de autoajuda financeira, Eduardo Moreira desfia sua “fórmula-mágica”. “A melhor maneira de rasgar essa embalagem que veste o mundo financeiro talvez seja abordar alguns mitos e apresentar verdades reveladoras. Fatos que mudarão para sempre a forma como você lida com suas finanças e consequentemente com seus bancos. No bom e velho estilo “Você sabia?”, as frases a seguir representarão para a maioria dos leitores uma mudança de paradigma na forma como lidam com seus investimentos”.

A demonização do sistema financeiro, cujos participantes são todos nós, não me parece honesto intelectualmente. Fico por aqui nessa leitura de “O que os donos do poder não querem que você saiba”. Já sei tudo anunciado de maneira escandalosa pelo autor.

Truques do “Colarinho Branco” publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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