quarta-feira, 12 de junho de 2019

Economia da Felicidade: falseamento da ideia de “o dinheiro não traz felicidade”

Matt Ridley, autor do livro “O Otimista Racional” (Rio de Janeiro: Editora Record; 2014), pergunta: as pessoas se tornam mais felizes à medida que necessidades e luxos ficam mais baratos?

Uma pequena indústria caseira cresceu na virada do século XXI devotada ao tema da Economia da Felicidade. Começou com o paradoxo de que as pessoas mais ricas não são necessariamente as mais felizes.

Além de um determinado nível de renda per capita (US$ 15 mil por ano, segundo Richard Layard), o dinheiro não parece comprar bem-estar subjetivo. À medida que livros e ensaios sobre o assunto jorravam da academia, a Schadenfreude, um certo prazer em ver o sofrimento alheio, se instalou em grande escala entre analistas felizes por ver confirmada a infelicidade dos ricos.

Os políticos entenderam, e os governos da Tailândia à Grã-Bretanha começaram a pensar em como maximizar a felicidade nacional bruta em lugar do PIB. Como resultado, departamentos do governo britânico agora têm “divisões de bem-estar”.

Ao rei Jigme Singye Wangchuck, do Butão, se atribui ter sido o primeiro a pensar nisso, em 1972, quando declarou o crescimento econômico ser meta secundária para o bem-estar nacional. Se o crescimento econômico não produz felicidade, disse o novo sábio, então não fazia sentido lutar por prosperidade.

Logo, a economia mundial deveria ser levada a um pouso tranquilo em um nível razoável de renda. Ou, como disse um economista: “Os hippies estavam certos o tempo todo.”

Se for verdade, “isso fura um pouco a bola” do otimista racional. Para que celebrar a contínua derrota da morte, da escassez, da doença e do trabalho penoso se isso não torna as pessoas mais felizes? Mas isso não é verdade.

O debate começou com um estudo de Richard Easterlin em 1974. Ele descobriu: embora em um país rico as pessoas ricas sejam de modo geral mais felizes do que as pessoas pobres, os países mais ricos não tinham cidadãos mais felizes do que os países pobres.

Desde então, o “paradoxo Easterlin” se tornou o dogma central do debate. O problema é que ele está errado.

Dois estudos foram publicados em 2008 analisando todos os dados, e a conclusão clara de ambos é: o paradoxo Easterlin não existe. Isto porque:

  1. pessoas ricas são mais felizes comparadas às pessoas pobres;
  2. países ricos têm mais pessoas felizes em lugar de os países pobres; e
  3. as pessoas ficam mais felizes à medida que ficam mais ricas.

O primeiro estudo simplesmente trabalhava com amostras pequenas demais para revelar diferenças significativas. Em todas as três categorias de comparação — dentro dos países, entre países e entre épocas —, a renda extra compra, de fato, bem-estar geral. Isso quer dizer: em média, coletivamente, no geral, outras coisas sendo equitativas, mais dinheiro, de fato, torna as pessoas mais felizes.

Nas palavras de um dos estudos, “ao todo, nossas comparações de séries periódicas, assim como a comprovação de repetidos cortes transversais internacionais, parecem apontar para uma importante relação entre crescimento econômico e crescimento do bem-estar subjetivo”.

Há exceções. Os americanos atualmente não mostram tendências a uma felicidade crescente. Seria porque os ricos se tornaram mais ricos, e os americanos comuns não prosperaram muito em anos recentes? Ou seria porque os Estados Unidos atraem continuamente imigrantes pobres (infelizes), o que mantém baixo o quociente de felicidade? Quem sabe?

Não é porque os americanos são tão ricos que não ficam nem um pouco mais felizes: japoneses e europeus tornaram-se consistentemente mais felizes à medida que enriqueciam, apesar de serem, com frequência, tão ricos quanto os americanos. Além disso, surpreendentemente, as mulheres americanas ficaram menos felizes em décadas recentes, apesar de ficarem mais ricas.

Obviamente, é possível ser rico e infeliz, como muitas celebridades gloriosamente nos lembram. Naturalmente, é possível ficar rico e descobrir que se é infeliz porque não se é ainda mais rico, e o vizinho ou as pessoas da televisão são mais ricos do que você.

Os economistas chamam isso de “monotonia hedônica”. O resto de nós chama isso de “tentar ter o padrão de vida de outra pessoa”.

É provavelmente verdade os ricos causarem muito dano desnecessário ao planeta ao se esforçarem, continuamente, para serem mais ricos, muito além do ponto quando isso tem algum efeito sobre sua felicidade. Afinal, eles são dotados de instintos para “competição e rivalidade”, pois são descendentes de caçadores-coletores, cujo status relativo, não absoluto, determinava suas recompensas sexuais.

Por esse motivo, um imposto sobre o consumo para estimular a poupança voltada para investimento não é, necessariamente, uma má ideia. Entretanto, isso não significa que alguém seria necessariamente mais feliz se fosse mais pobre — estar em boa situação e infeliz é certamente melhor do que ser pobre e infeliz.

Naturalmente, algumas pessoas serão infelizes não importa o quanto sejam ricas, enquanto outras conseguem se recobrar de problemas e ficar alegres mesmo na pobreza: os psicólogos descobriram as pessoas terem níveis razoavelmente constantes de felicidade aos quais retornam após a alegria ou o desastre.

Além disso, um milhão de anos de seleção natural moldaram a natureza humana para ser ambiciosa e educar crianças bem-sucedidas e a não se acomodar no contentamento: as pessoas estão programadas para desejar, não para apreciar.

Ficar rico não é o único e sequer o melhor modo de ser feliz. A liberação social e política é muito mais eficaz, diz o cientista político Ronald Ingleheart: os grandes ganhos em felicidade vêm de se viver em uma sociedade capaz de proporcionar liberdade para se fazer escolhas sobre o estilo de vida — onde viver, com quem se casar, como expressar a sexualidade e assim por diante.

É o aumento da livre escolha, desde 1981, que tem sido responsável pelo aumento de felicidade registrado desde então em 45 de 52 países. Ruut Veenhoven acha: “quanto mais individualizada a nação, mais os cidadãos desfrutam a vida”.

Matt Ridley, no livro “O Otimista Racional”, defende o credo liberal. Em algumas passagens confunde o leitor com a defesa do individualismo egoísta. Este se distingue da liberdade de escolha individual, ou seja, do direito de minoria se sobreviver com seus valores morais e éticos contra eventual maioria da plebe ignara eleitora de um populista de direita.

Economia da Felicidade: falseamento da ideia de “o dinheiro não traz felicidade” publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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