sábado, 15 de junho de 2019

Descontentamento dos Evangélicos com o Governo do PT

Andrea Dip, “Em nome de quem: A bancada evangélica e seu projeto de poder” (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2018), explica o endireitamento das ideias e a aproximação cada vez maior dos parlamentares evangélicos com os partidos de direita no Brasil foram acontecendo a partir de um descontentamento com o governo do PT, quando pautas progressistas avançavam no Congresso.

O Pastor Everaldo apoiava o Lula desde 1989, fez um jantar para apresentá-lo aos evangélicos. Quando trouxeram o nome da Dilma para a primeira legislatura foi uma questão. Porque mesmo no governo Lula eles já estavam sentindo as pautas das minorias, das mulheres, dos LGBTQ terem um avanço, e aquilo ia contra a expectativa desses evangélicos no Congresso Nacional.

Pudemos ver como o próprio Silas Malafaia começou a se colocar muito crítico do governo por causa do combate à homofobia. Teve essa conjuntura e uma aliança com a Universal do Reino de Deus, na figura do Crivella Ele assumiu o Ministério da Pesca de março de 2012 a março de 2014, no governo Dilma Rousseff. A Universal ganhou importância. Assim, outras organizações se sentiram preteridas.

A situação se agravou ainda mais, diz Christina Vital, quando o Ministério da Educação (MEC) lançou o material didático anti-homofobia, em 2014. Os parlamentares se colocaram claramente contra a presidenta Dilma e o PT.

Essa indisposição se arrastou em todo o governo Dilma. Em 2014, a apresentação de uma candidatura confessional mostrou como os evangélicos queriam assumir uma centralidade no pleito, se indispondo com o governo do qual antes eles eram base. Houve um afastamento durante o primeiro mandato, muitos confrontos, a tensão entre evangélicos e a esquerda com a Comissão de Direitos Humanos, e os debates sobre laicidade. Eles foram muito intensos na gestão Dilma.

Em 2015, quem assumiu a centralidade no processo foi Eduardo Cunha. Este deputado corrupto era evangélico. Daí os evangélicos tiveram uma participação importante no impeachment, palavrinha marota para não dizer “golpe semi-parlamentarista”. Eles finalmente se revelaram ser uma oposição à esquerda e ao PT.

Em entrevista, o pastor Ariovaldo Ramos, ex-presidente da Associação Evangélica Brasileira (AEVB) e um dos fundadores da Frente de Evangélicos Pelo Estado de Direito foi mais longe ao afirmar os partidos de direita, mais conservadores em geral, se aproveitaram do crescimento evangélico e da proximidade das Igrejas com os temas morais para formar alianças:

“Tudo o que a direita precisou fazer foi entregar para os pastores quem era o culpado, qual era o foco da perda de moral do Estado. E foram bem-sucedidos em caracterizar o PT como o grande vilão da imoralidade, da promiscuidade. Esse foi o mote, porque os pastores não teriam nenhum interesse na perda do Bolsa Família, na Reforma da Previdência e na Reforma Trabalhista [medidas-base do governo Temer]. O seu povo é basicamente constituído de gente que usufrui esses direitos. O problema é eles terem sido engodados, porque acreditavam o PT ser o único partido por trás da corrupção e por trás do esgarçamento do tecido social pela perda da família nuclear. Eles foram enganados e foram os prejudicados, porque a Igreja é, em sua maioria, feminina, pobre e preta. É um grupo usado, abusado, porque botou o povo na rua com o pessoal da direita e da extrema direita e foram os maiores lesados pelo Golpe e pela estupidez da elite branca brasileira.”

Descontentamento dos Evangélicos com o Governo do PT publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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