Crise do coronavírus exige reação global de política fiscal:
“(…) a natureza desta crise é diferente. O choque de 2008 paralisou, primeiramente, o sistema financeiro, o que provocou um colapso da demanda. O covid-19 é um choque econômico, que abala tanto a oferta — por meio de fechamentos de fábricas, ruptura das cadeias de suprimentos e restrições de viagens — quanto a demanda.
Os consumidores que contraíram a doença ou que estão evitando contraí-la saem menos e gastam menos. Com o avanço da crise, ganha corpo uma crise de caixa tanto para empresas que sofrem com queda da receita quanto para consumidores que perdem suas fontes de renda ou seus empregos.
Portanto, o tipo de apoio, e a maneira como ele é feito, terá de ser diferente desta vez. Sem liderança política mundial, os presidentes dos bancos centrais e os ministros das Finanças poderão ter de contar mais com parcerias formadas especificamente para esse fim. A política monetária, além disso, tem menos espaço para agir como antídoto. Os cortes de taxas de juros contribuem para fortalecer a confiança, ao reduzir o custo do dinheiro. Mas pouco ou nada farão para reparar as cadeias de suprimento rompidas, apressar a volta de operários ao trabalho e impulsionar os gastos dos consumidores, confinados às suas casas. Com as taxas de juros das economias avançadas, fora os EUA, já próximas ou abaixo de zero, muitos bancos centrais têm, de todo modo, um poder de fogo limitado.
As autoridades econômicas poderão ter um impacto maior por meio de financiamento e de medidas fiscais.”
O mundo desabando e aqui os idiotas neoliberais continuam com a mesma pregação ideológica de cortes fiscais!
Por que eles não se perguntam e dão uma resposta à questão-chave: qual é a razão da depreciação da moeda nacional e da queda da bolsa de valores brasileira e, destacadamente, as ações da maior empresa nacional, a Petrobras, terem sido as maiores do mundo?! Os fundamentos da economia brasileira são saudáveis? A política econômica ultraliberal e omissa é adequada?!
André Ramalho e Rodrigo Polito (Valor, 10/03/2020) dão informações fundamentais para estudar o caso da Petrobras.
O colapso dos preços do petróleo derrubou o valor de mercado da Petrobras em R$ 91,1 bilhões no pregão de ontem. As implicações da desvalorização da commodity, porém, vão muito além dos impactos sobre as ações da estatal na bolsa. Se o atual patamar do barril persistir pelos próximos meses em torno dos US$ 35, a expectativa é a petroleira ter mais dificuldades para atingir a sua meta de desalavancagem e, com isso, leve mais tempo para aumentar a distribuição de dividendos.
O barril do tipo Brent recuou 24%, cotado a US$ 34,36, e puxou a queda de 29,7% das ações da Petrobras na B3 ontem. Diante do novo cenário, a companhia pode ser obrigada a cortar investimentos e custos e a acelerar a venda de ativos – o ambiente para o fechamento de bons negócios, porém, tende a ficar mais difícil.
A Petrobras tem como meta reduzir sua alavancagem, medida pela relação dívida líquida/Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) para 1,5 vez até o fim de 2020. Depois de atingir o pico de 5,11 vezes em 2015, em meio ao salto do dólar, na época, a empresa vem conseguindo reduzir esse patamar nos últimos anos, baseada sobretudo na venda de ativos, e fechou 2019 com o índice em 2,46 vezes (incluindo os efeitos do IFRS 16).
O mercado de commodities, no entanto, é dinâmico e menos de 20 dias após a companhia reportar o seu balanço de 2019 com uma geração de caixa operacional anual recorde de R$ 101,7 bilhões, a realidade agora é outra. A Petrobras se depara, neste momento, com más notícias vindas das duas frentes que impactam diretamente a sua alavancagem: de um lado, o dólar alto pressiona para cima o endividamento; na outra extremidade, a desvalorização do óleo puxa para baixo a geração de caixa.
O BB Investimentos calcula, por exemplo, que, para cada variação de US$ 5 nos preços do óleo, o Ebitda da Petrobras é afetado em US$ 3 bilhões. O Bradesco BBI, por sua vez, estima que as receitas da petroleira para 2020 podem cair de R$ 321 bilhões para R$ 223 bilhões, se confirmado o cenário de petróleo a US$ 35 o barril.
A previsão da estatal é aumentar os dividendos a partir de 2021, para quando é esperada a queda de sua dívida bruta para menos de US$ 60 bilhões. O receio entre os investidores, agora, é que, com a menor capacidade de pagamento da dívida, em função de uma geração de caixa menor, a nova política de dividendos seja adiada.
Até então o dólar não era motivo de alarde, embora 76% da dívida líquida, de US$ 63 bilhões, esteja atrelada à moeda americana (a dívida bruta da estatal é de US$ 87 bilhões). O comando da companhia considera alto o endividamento da empresa, mas a equipe financeira confia nos contrapesos da geração de caixa operacional, nos desinvestimentos e na redução de custos para enfrentar a alta do câmbio. O novo cenário de Brent a US$ 35, se persistir por mais tempo, porém, muda a equação.
A Petrobras informou que ainda é prematuro projetar eventuais impactos estruturais no mercado. “A companhia segue monitorando o mercado e implementando seu plano estratégico, que a prepara para atuar com resiliência em cenários de preços baixos”, informou a empresa, em nota. A petroleira alegou que, graças a esse esforço e a avanços tecnológicos, vem reduzindo custos de operação no pré-sal a níveis resistentes a cotações baixas do petróleo. “Cabe lembrar que outros fatores influenciam a rentabilidade da operação, tais como a taxa de câmbio”, comentou.
Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Edmar Almeida, o dilema da empresa, entre investir e pagar dívidas, vai se acentuar daqui para frente. Com a geração de caixa pressionada para baixo, a Petrobras terá de buscar alternativas.
O Credit Suisse destaca: os cortes de investimentos e o programa de venda de ativos – um dos principais pilares da desalavancagem da companhia – serão postos à prova agora. O banco, no entanto, ressalva: o balanço patrimonial da companhia já não é mais tão frágil e a empresa está mais preparada para um cenário de resiliência. O BB alerta, por outro lado: o cenário de preços baixos pode comprometer a venda das refinarias, carro-chefe do programa de desinvestimentos.
O receio é de que, com quedas nas receitas da indústria, alguns potenciais interessados podem perder seus poderes de compra. A Wood Mackenzie, por exemplo, estima que, se o Brent permanecer em US$ 35 o barril pelo restante do ano, até US$ 380 bilhões em fluxo de caixa podem desaparecer do mercado, ante as projeções dentro de um cenário de preços a US$ 60.
Do lado operacional, um cenário de petróleo a US$ 35 ainda é suficiente para preservar a competitividade da estatal. Nesse nível de preços, contudo, a Petrobras pode começar a ter dificuldades para tirar projetos do papel.
Para Rodrigo Leão, coordenador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), ao se concentrar na produção para exportação, a Petrobras terá cada vez menos margem de manobra para lidar com esse cenário e preços mais baixos.
Para os neoliberais adeptos da Teoria das Vantagens Comparativas e favoráveis ao Brasil assumir sua vocação natural de exportador de commodities, indiferentes à desindustrialização em andamento, nem um choque externo como esse consegue fazê-los pensar “fora-da-caixa” mental, onde ideologicamente se enclausuraram!
Gente burra…
Quedas Brasileiras Maiores do Mundo: Por que, heim, neoliberais? publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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