A essência da teoria monetária Ludwig von Mises, em seu livro “Ação Humana: Um Tratado de Economia”, consiste na percepção de as mudanças na relação monetária provocadas por variações dos encaixes não afetarem os vários preços, salários e taxas de juros, nem ao mesmo tempo, nem na mesma proporção.
Se não houvesse essa desigualdade, a moeda seria neutra. As mudanças na relação monetária não afetariam a estrutura dos negócios, o tamanho e a orientação dos vários setores da indústria, o consumo, a riqueza e a renda dos vários estratos da população. Se fosse assim, a taxa bruta de juro do mercado também não seria afetada – nem transitória nem definitivamente – pelas mudanças no âmbito da moeda e do crédito circulante.
O fato de a taxa de juro originário ser afetada por essas mudanças decorre das repercussões desiguais provocadas pelas mesmas na riqueza e na renda dos vários indivíduos. O fato de, independentemente das variações na taxa de juro originário, a taxa bruta de mercado ser temporariamente afetada é, em si mesmo, uma manifestação dessa desigualdade.
Se a quantidade adicional de moeda entra no sistema econômico, de maneira a só atingir o mercado de crédito após já ter provocado um aumento nos preços das mercadorias e dos salários, esses efeitos imediatos e temporários sobre a taxa bruta de mercado, se existirem, serão muito pequenos. A taxa bruta de juro do mercado é tão mais violentamente afetada quanto mais cedo a injeção da quantidade adicional de moeda ou de meios fiduciários atingirem o mercado de crédito.
Quando, em uma expansão do crédito, a quantidade total de substitutos de moeda é utilizada para conceder empréstimos às empresas, a produção se expande. Os empresários tomam a iniciativa de expandir a produção, seja lateralmente (isto é, sem aumentar o período de produção da indústria considerada), seja longitudinalmente (isto é, estendendo o período de produção).
Em ambos os casos, as instalações adicionais exigem o investimento de fatores de produção adicionais. Mas a quantidade de bens de capital disponíveis para investimento não aumentou. A expansão de crédito, por outro lado, também não provoca uma restrição do consumo.
É verdade – como já foi assinalado por von Mises, anteriormente, ao tratar da poupança forçada –, enquanto a expansão do crédito aumentar, uma parte da população será compelida a restringir seu consumo. Mas dependerá das condições específicas de cada caso de expansão do crédito o fato de essa poupança forçada de alguns grupos de pessoas serem suficiente para compensar o aumento de consumo de outros grupos, provocando assim um aumento líquido da poupança no mercado como um todo.
De qualquer modo, a consequência imediata da expansão do crédito é um aumento no consumo efetuado pelos assalariados cujos salários aumentaram graças ao acréscimo da demanda por mão de obra provocada pelos empresários a expandirem suas atividades.
Se o aumento de consumo daqueles assalariados favorecidos pela inflação e a poupança forçada dos outros grupos prejudicados por ela fossem iguais e, portanto, o consumo total não se tivesse alterado, nesse caso, a situação seria a seguinte: a alteração na produção teria sido efetuada pelo aumento do período de espera.
Mas a demanda por bens de consumo não teria diminuído, o que teria sido necessário para que as reservas consumíveis durassem por um período maior. Evidentemente, este fato resultaria num aumento dos preços dos bens de consumo, o que provocaria uma tendência à poupança forçada.
Entretanto, esse aumento nos preços dos bens de consumo fortaleceria a tendência de expansão da atividade econômica. Os empresários, a partir do fato de a demanda e os preços estarem subindo, concluiriam valer a pena investir e produzir mais.
Seguiriam adiante e a intensificação de suas atividades provocaria novo aumento nos preços dos bens de consumo. Os negócios se expandiriam enquanto os bancos continuassem a expandir o crédito.
Ao se iniciar a expansão creditícia, já estão em operação todos os processos de produção considerados rentáveis, nas condições vigentes no mercado. O sistema caminha para um estado no qual:
- todos os que quisessem ganhar salário encontrariam emprego e
- todos os fatores de produção não conversíveis seriam empregados.
Isso porque a demanda dos consumidores e a quantidade disponível de fatores materiais não específicos e de mão de obra o permitiriam.
A produção só pode continuar a se expandir se a quantidade de bens de capital for aumentada por uma poupança adicional, isto é, por um excedente da produção sobre o consumo.
O traço característico da alta provocada pela expansão do crédito consiste no fato de esses bens de capital adicionais ainda não estarem disponíveis. Os bens de capital necessários à expansão das atividades empresariais terão de ser retirados de outras linhas de produção.
Essência da Teoria Monetária de Ludwig Von Mises publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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