sábado, 21 de março de 2020

Efeitos da Recorrência do Ciclo Econômico sobre a Economia de Mercado

Conforme Ludwig von Mises, em seu livro “Ação Humana: Um Tratado de Economia”, as reiteradas tentativas de alcançar a prosperidade pela expansão do crédito, responsáveis pelas flutuações cíclicas da atividade econômica, se devem, em última análise, à popularidade de gozada pela inflação e pela expansão do crédito.

Essa popularidade se manifesta claramente na terminologia corrente. O boom é considerado como estímulo aos negócios, à prosperidade e ao progresso. Sua consequência inevitável, o ajuste das condições à realidade do mercado, é considerado como crise, declínio, estagnação, depressão.

As pessoas se revoltam diante da evidência de o elemento perturbador provir dos maus investimentos e do excesso de consumo, no período do boom. Não suportam os portadores de maus agouros como Ludwig von Mises. Ele adverte: “esse boom artificial está condenado ao fracasso”. Ficam procurando algum milagre capaz de fazê-lo durar.

O “estraga-prazeres” afirma: só se pode chamar de progresso econômico uma melhora na qualidade e um aumento na quantidade dos produtos. “Se aplicássemos esse critério às várias fases das flutuações cíclicas da atividade econômica, teríamos de chamar o boom de retrocesso e a depressão de progresso.”

O boom desperdiça escassos fatores de produção através de maus investimentos e reduz o estoque disponível através do excesso de consumo. Suas alegadas vantagens são pagas com o empobrecimento.

A depressão, por outro lado, é o retorno a um estado de coisas onde todos os fatores de produção são empregados de maneira a melhor satisfazer as necessidades mais urgentes dos consumidores.

Ludwig von Mises condena o boom e apoia a depressão!

“Tentativas desesperadas têm sido feitas para achar no boom alguma contribuição positiva ao progresso econômico. Tem-se dado ênfase ao papel representado pela poupança forçada na acumulação de capital. O argumento é inútil.

É muito discutível a afirmação segundo a qual a poupança forçada pode conseguir mais senão compensar uma parte do consumo de capital ocorrido no boom. Se aqueles louvadores dos efeitos alegadamente benéficos da poupança forçada fossem coerentes, eles teriam de propugnar um sistema fiscal de modo a subsidiar os ricos com impostos arrecadados das pessoas de menor renda. A poupança forçada assim conseguida proporcionaria um aumento líquido do capital disponível, sem provocar simultaneamente um consumo de capital ainda maior.

Os defensores da expansão do crédito costumam também alegar alguns dos maus investimentos feitos no boom tornarem-se rentáveis posteriormente. Esses investimentos, dizem eles, foram feitos cedo demais, isto é, em um momento quando a quantidade de bens de capital e as valorações dos consumidores ainda não justificavam a sua construção.

Não obstante, o dano causado não foi muito grave, se esses projetos fossem, de qualquer forma, executados mais tarde. Pode-se admitir essa descrição ser correta em relação a alguns casos de mau investimento provocado pelo boom.

Mas ninguém se atreveria a dizer essa afirmativa ser aplicável a todos os projetos cuja execução tenha sido encorajada pelas ilusões criadas por meio de uma política de dinheiro fácil.

Seja como for, nada disso poderá alterar as consequências do boom nem desfazer ou atenuar a depressão certamente vinda em seguida. Os efeitos do mau investimento se fazem sentir de qualquer maneira, mesmo se esses maus investimentos forem considerados mais tarde, em outras condições, como investimentos saudáveis.

O boom produz empobrecimento. Mas muito mais desastrosos são os seus danos morais. As pessoas ficam desanimadas e deprimidas. Quanto mais otimistas estão durante a prosperidade ilusória do boom, maior é o seu desespero e a sua sensação de frustração depois.

O indivíduo está sempre pronto a atribuir a boa sorte à sua própria eficiência e a considerá-la uma recompensa bem merecida pelo seu talento, dedicação e probidade. Mas a reviravolta da sorte ele a atribui a outras pessoas e, sobretudo à absurdidade das instituições políticas e sociais.

Não culpa as autoridades por terem provocado o boom. Condena-as pelo inevitável colapso. Na opinião do público, mais inflação e mais expansão do crédito são os únicos remédios contra os males provocados pela inflação e pela expansão do crédito.

 

Efeitos da Recorrência do Ciclo Econômico sobre a Economia de Mercado publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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