sábado, 7 de março de 2020

Economia Dependente da Petrobras

Basta a China gripar para o Brasil pegar uma pneumonia!

O Mercado acompanha, antes de mais nada, a Petrobras para “precificar o Brasil”. Em direção a tornar-se uma Economia do Petróleo, seu gigantismo face às demais empresas brasileiras colocam-na como o foco principal. A economia brasileira com a desindustrialização voltou a ser apenas uma economia exportadora de commodities para explicar seu dinamismo. Seu potencial mercado interno está em estagdesigualdade: renda estagnada e concentrada.

O crescimento de 13,7% da produção de petróleo e gás natural da Petrobras no quarto trimestre de 2019, ante igual período do ano anterior, para 3,025 milhões de barris de óleo equivalente diários (BOE/dia) deve impulsionar o resultado da petroleira nos últimos três meses do ano passado, que será divulgado hoje, após o fechamento do mercado.

A última linha do balanço também deve ser afetada positivamente por vendas de ativos concluídas no período e pela reversão de provisão de R$ 1,3 bilhão. Esse valor é referente a uma sentença favorável obtida pela Petrobras em arbitragem contra a empresa de sondas em recuperação judicial Sete Brasil.

O aumento de 6,6%, ou 130 mil barris diários de óleo extraídos pela Petrobras, no quarto trimestre, ante o trimestre exatamente anterior pode adicionar US$ 600 milhões ao Ebitda da empresa no período. Mesmo com um preço do petróleo relativamente estável (aumento de 1% ante o terceiro trimestre), com o Brent na faixa de US$ 60 a US$ 65 o barril, uma melhora nos preços domésticos da gasolina e diesel também acrescentou cerca de US$ 350 milhões ao Ebitda dos últimos três meses do ano. 

O Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), porém, ressalta o resultado esperado da Petrobras em 2019 ser, em boa medida, influenciado por receitas não recorrentes de venda de ativos. Totalizam R$ 44,5 bilhões. “Entre os ativos vendidos, destacaram-se a TAG, a BR Distribuidora e campos maduros na Bacia de Campos”, afirmou a instituição.

O Ineep lembra ainda o resultado esperado para 2019 somente será alcançado se os gastos relativos ao pagamento de bônus de assinatura na aquisição dos blocos arrematados nos leilões do ano passado, de cerca de R$ 35 bilhões após descontado o valor que a companhia recebeu da União pela revisão do acordo da cessão onerosa, não impactarem as despesas da empresa. Mas, na avaliação do instituto, como as despesas com bônus de assinatura são lançadas como ativos e depreciadas ao longo do tempo, a partir da comprovação da viabilidade técnica e comercial da produção de óleo e gás nas áreas leiloadas, estas não deverão afetar os gastos da companhia.

Favorecida pelo programa de desinvestimentos, a Petrobras fechou 2019 com um lucro líquido recorde de R$ 40,137 bilhões. O valor representa aumento de 55,7% em relação a 2018 e garantiu aos acionistas remuneração de R$ 10,6 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio (R$ 0,73 por ação ordinária e R$ 0,92 por preferencial em circulação), incluindo pagamentos já adiantados. Em relação aos resultados do quarto trimestre, o conselho de administração aprovou a distribuição de R$ 1,7 bilhão para os detentores de papéis ordinários e R$ 2,5 milhões para preferencialistas.

Ao todo, a Petrobras viu entrar US$ 14,6 bilhões em seu caixa, em 2019, oriundos de operações de vendas de ativos. Só a alienação da Transportadora Associada de Gás (TAG) e a privatização da BR Distribuidora representaram, para o caixa da companhia, no ano passado, US$ 11,275 bilhões.

“Os desinvestimentos foram fundamentais para ajudar a viabilizar o foco nos ativos em que somos o dono natural, permitindo investimento total de US$ 27,4 bilhões, sendo US$ 16,7 bilhões na aquisição de direitos de exploração e produção de petróleo [nos leilões da Agência Nacional do Petróleo]”, afirmou o presidente da companhia, Roberto Castello, em carta enviada aos acionistas.

Devido a redução de custos, a Petrobras também reportou um Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) ajustado recorde no valor de R$ 129,2 bilhões: alta de 12,5% em relação a 2018. O comando da estatal comemorou a redução dos custos de extração na base caixa, para US$ 6,5 por barril no quarto trimestre de 2019, US$ 3 a menos do que os patamares do início do ano anterior. Segundo a companhia, o número menor de contingências e a adoção da norma contábil IFRS 16 também favoreceram o resultado.

Apesar da melhora no cenário financeiro, Castello Branco fez questão de destacar: a Petrobras “continua a ser uma das petroleiras mais endividadas do mundo”, com dívida bruta de US$ 87,1 bilhões, ante os US$ 89,9 bilhões registrados no fechamento do terceiro trimestre (incluindo os efeitos do IFRS 16). A dívida líquida, contudo, subiu 4,5% na mesma base de comparação, para US$ 78,861 bilhões.

A alavancagem financeira da companhia, medida pela relação dívida líquida/Ebitda, subiu para 2,46 vezes – versus 2,34 vezes em 2018 – devido aos efeitos do IFRS 16 em 2019. Uma vez excluídos esses efeitos, o índice estaria em 1,99 vez no ano passado. Para este ano, a meta da petroleira é reduzir a alavancagem para 1,5 vez.

As receitas líquidas da estatal, por sua vez, caíram 2,6% no ano, para R$ 302,245 bilhões, apesar do aumento das exportações. A Petrobras atribuiu a queda das receitas a:

  1. a redução de 9,5% no preço médio do barril de petróleo do tipo Brent no mercado internacional em dólar (e de 2% em real);
  2. o menor volume de derivados vendidos, a preços também menores, e
  3. o encolhimento da carteira de ativos da empresa no exterior.

Castello Branco destacou, em mensagem enviada aos acionistas: os resultados consolidam a posição da petroleira como a “maior contribuinte do Brasil”. Ao todo, a empresa pagou aos governos, em royalties, impostos e bônus de assinatura nos leilões, R$ 246 bilhões, patamar também recorde.

O balanço de 2019 da Petrobras contabilizou também perdas por redução ao valor recuperável do ativo (“impairment”) no valor de R$ 11,6 bilhões, dos quais R$ 6,59 bilhões vieram da revisão de expectativa de curva de Brent, no quarto trimestre, e R$ 2,2 bilhões da postergação da previsão de entrada em operação do segundo trem da refinaria Rnest, em Pernambuco. A perfuração de poços secos rendeu uma baixa de R$ 1,25 bilhão.

No quarto trimestre, o lucro líquido foi de R$ 8,15 bilhões, alta de 288% em comparação com o apurado em igual período de 2018. Segundo a companhia, houve melhora nas margens de petróleo, menores despesas financeiras e ganhos de capital com a venda de ativos de exploração e produção no período.

A Petrobras prevê os efeitos da epidemia de coronavírus se reflitirem no resultado do primeiro trimestre de 2020. Mesmo sem ter detectado redução nas exportações de petróleo para a China, o seu principal mercado, a estatal espera um impacto devido à queda do preço do petróleo. Além disso, por causa da crise sanitária, a companhia vê uma diminuição da margem na venda de bunker (óleo marítimo) para a Ásia – um negócio sobre o qual a empresa deposita grande expectativa.

Independentemente dos efeitos do coronavírus, a empresa buscará diversificar o destino de suas exportações. A China é responsável por comprar 65% do volume de óleo bruto exportado pela companhia.

Está com nosso petróleo muito bem aceito na Europa e nos EUA. E estamos fazendo uma busca por novos mercados, como o indiano por exemplo. Tem contatos com empresas de petróleo da Índia. Elas também estão interessadas nesse óleo de baixo teor de enxofre do pré-sal.

A Agência Internacional de Energia (AIE) destaca a demanda global por petróleo ter sido “duramente afetada” pela epidemia de coronavírus e pelo “desligamento generalizado” da economia da China. A AIE estima o consumo mundial da commodity cair 435 mil barris/dia no primeiro trimestre, em relação a igual período do ano passado. O número representa a maior contração trimestral em mais de dez anos. A previsão da agência é, para 2020, a demanda global crescer 825 mil barris/dia (o menor patamar desde 2011), representando um corte de 365 mil barris diários nas projeções.

O mercado mundial passa por um “choque de demanda”, no consumo de energia, mas também um “choque de oferta”, na medida em que muitas fábricas estão fechadas na China. Porém, o impacto do coronavírus sobre a economia global será temporário.

O coronavírus não teve efeito em quantidades de exportação de petróleo, mas teve efeito nos preços. Os mercados antecipam os efeitos na atividade econômica. É só observar o comportamento dos preços do petróleo. Houve uma queda e ele vai se refletir no resultado do primeiro trimestre. Mas houve recordes na exportação de óleo em janeiro.

Mas, independentemente do coronavírus, as exportações da estatal devem cair no primeiro trimestre. A queda da demanda global coincide com a programação de paradas para manutenção das plataformas da companhia.

No primeiro trimestre, haverá paradas de manutenção de algumas plataformas. Isso reduz a produção. Como precisa de óleo para as refinarias, provavelmente reduzirá as exportações nesse primeiro trimestre.

Além da projeção sobre exportações, o coronavírus tem afetado também os preços do bunker vendido pela estatal na Ásia. No início do ano, a Petrobras esperava era ter um ganho adicional da ordem de US$ 1 bilhão em 2020 no negócio de abastecimento de bunker, em relação a 2018, devido ao aquecimento do mercado com a regulamentação do IMO 2020 – que passou a exigir neste ano percentuais menores de enxofre na composição do combustível. A nova regulação favorece tanto as exportações de bunker quanto de óleo cru do pré-sal. Este já tem, por natureza, baixo teor de enxofre.

Destacando a valorização do óleo do pré-sal no mercado, antes da crise do coronavírus, a Petrobras chegou a vender na China o barril do seu petróleo com um prêmio de US$ 4 em relação à cotação do Brent. Historicamente, a empresa estava mais acostumada a vender seus barris com descontos em lugar de prêmios.

A crise do coronavírus trouxe um impacto muito grande nos transportes. Houve uma queda do ‘crack spread’ [preço de referência] do bunker em relação ao realizado em dezembro. Chegou a ter preços em Singapura na faixa do preço do óleo combustível. Isso nunca aconteceu na história, o bunker a quase US$ 90 o barril. Sentiu nessa fase do coronavírus uma queda do spread, mas ao retomar o comércio internacional e a China passando essa fase, haverá uma retomada do ‘crack spread’ positiva para 2020.

Economia Dependente da Petrobras publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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