Jason Zweig (Dow Jones Newswires, 27/02/2020) avalia: quando os mercados desabam, os culpados geralmente não são os menores investidores, e sim os maiores. Até agora, a maior parte dos investidores individuais (amadores) permaneceram firmes enquanto as ações caem em razão de temores de que o coronavírus possa se transformar em uma pandemia. Se continuarem se mantendo tranquilos, os pequenos investidores poderão até mesmo comprar bem barato com a saída de grandes investidores institucionais do mercado.
Os investidores profissionais, administradores de carteiras de fundos de ações, multimercados ou fundos de pensões, tendem a se movimentar mais rapidamente quando um mercado muda de repente. Isso acontece em grande parte por autopreservação, porque o maior risco que eles enfrentam é ficarem tão defasados do mercado a ponto de serem dispensados por seus clientes. Isso poder levar os profissionais a perseguir demais e por muito tempo a tendência do mercado.
Em oposição aos investidores ansiosos (daytraders), que negociam, freneticamente, em busca de melhores retornos, há os com viés do status quo. Investidores lentos preferem guiar-se por aquilo que lhes foi oferecido, em determinado momento, e com o qual se comprometeram, sem rever essa estratégia, mais tarde, e verificar se houve acerto em vista dos resultados auferidos.
Há também a resistência a realizar qualquer tipo de investimento, preferindo-se manter, por muito tempo, o dinheiro inativo na conta-corrente, arcando com custo de oportunidade.
“As instituições vendem mais do que os indivíduos quando há uma grande queda do mercado de ações”, constataram os professores de Finanças Patrick Dennis e Deon Strickland em um estudo de 2002. Eles também mostraram que, quanto mais uma ação é mantida por grandes investidores, maior é o volume de negócios durante as grandes quedas do mercado.
As ações rejeitadas pelos maiores investidores nos dias de queda tendem a ter um desempenho melhor que o do mercado nos seis meses subsequentes. As vendas por instituições quando o mercado cai pelo menos 2% “derruba os preços abaixo de seus reais valores”, concluíram os pesquisadores.
A paciência é um luxo que os investidores individuais podem ter. Os gestores de recursos precisam se concentrar não só em analisar o valor dos ativos, como também em “antecipar o que a opinião média vai esperar que a opinião média seja”, conforme escreveu John Maynard Keynes em 1936.
Isso porque os profissionais se encontram em uma luta sem fim para atrair novos recursos. Para os profissionais que buscam maximizar seus honorários, é racional – pelo menos no curto prazo – comprar ainda mais das ações mais supervalorizadas quando seus preços estão subindo, isto é, seguir tendência de alta firme ou líderes do comportamento de manada.
Quando o desempenho cai, os gestores de portfólios até então tinham — mas logo venderam — as ações mais populares. Não serão tão punidos quanto aqueles amadores a fazerem escolhas contracorrentes. “A prudência ensina que é melhor para a reputação fracassar de modo convencional, do que ser bem-sucedido de modo não convencional”, escreveu Keynes.
Quando as instituições vendem, elas sempre se livram de suas posições de maior liquidez. Isto porque estas são as mais fáceis de serem vendidas aos melhores preços.
Uma pesquisa com mais de 16 mil pequenos investidores feita pelo Vanguard Group, a gigantesca gestora de ativos, mostra o quão drasticamente suas atitudes diferem das grandes instituições. A Vanguard vem repetindo essa pesquisa a cada dois meses desde o começo de 2017. Os resultados sugerem que os investidores individuais se tornaram uma grande força de moderação dos mercados financeiros.
Os indivíduos esperam, de maneira consistente, as ações americanas terem um retorno de cerca de 5% neste ano, segundo mostra uma pesquisa da Vanguard. Isso é apenas metade da média histórica anual de 10%, contando dividendos.
Entre esses indivíduos amadores, quase 60% preveem retornos de um ano entre 0% e 6%, e pouco menos de 70% preveem retornos anuais médios na mesma faixa para um período de dez anos. Os investidores profissionais com frequência projetam retornos de mais de 7,5% ao ano.
Depois das ações caírem, mostra a pesquisa, os investidores individuais preveem retornos futuros menores, mas não muito. E quando as ações estão se saindo bem, esses investidores fazem previsões mais otimistas por uma pequena margem.
De setembro a dezembro de 2018, quando as ações caíram quase 20%, as previsões dos investidores da Vanguard sobre os retornos no ano subsequente caíram de 4,8% para 2,7%. Mas em fevereiro de 2019, com a recuperação do mercado, os investidores projetaram as ações subirem 4,9% nos 12 meses seguintes.
Mas a pesquisa da Vanguard constatou: esses investidores não tendem a comprar mais ações quando se tornam um pouco mais otimistas, ou vendem quando se tornam um pouco pessimistas. Ao contrário dos profissionais, eles sempre mudam suas opiniões sem se sentirem obrigados a agir por causa delas.
Os clientes da Vanguard podem estar menos interessados em buscar grandes retornos em lugar do público investidor em geral, negociando com frequência ou tentando medir o mercado.
Segundo os pesquisadores da Vanguard Stephen Utkus e Jean Young, o investidor típico da pesquisa tem 61 anos e é cliente há 17 anos. O valor médio das contas é de cerca de US$ 221 mil, com cerca de 72% aplicados em ações. O giro anual típico – uma medida da frequência com que os investidores movimentam seu dinheiro – é de apenas 10%. (Os gestores de fundos mútuos negociam a mais de seis vezes essa taxa, segundo a Morningstar.)
Portanto, as pessoas da pesquisa da Vanguard podem estar sendo tranquilas de uma maneira incomum. E os investidores individuais, no geral, têm sido recompensados por sua paciência há tanto tempo até haver o risco de eles se tornarem complacentes.
Este é o “bull market” mais prolongado já registrado, segundo a S&P Dow Jones Indices. Tem duração de mais de 131 meses (quase 13 anos) sem uma queda de 20% em relação ao último preço mais alto de fechamento. Nesse período, as ações proporcionaram um retorno de mais de 490%, incluindo dividendos. Somente no ano passado, o índice S&P 500 subiu 32%.
Uma grande queda abalaria essa confiança. Lembremos, porém, o pânico é raro nos mercados e na vida. Durante o bombardeio do Reino Unido pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, a maior parte da população permaneceu tão equilibrada a ponto de os “centros de neuroses” abertos pelo governo para lidar com os efeitos esperados do pânico em massa mal foram usados.[?!]
Ninguém sabe por quanto tempo o medo do coronavírus vai se estender e quanto as ações cairão em resposta. O que podemos ter certeza é os investidores individuais deverão estar entre os últimos — e não os primeiros — a vender.”
Fernando Nogueira da Costa: em outros palavras, os amadores estão atrasados!
Naiara Bertão (Valor, 28/02/2020) informa: um dos conceitos mais conhecidos em Psicologia Econômica é o efeito manada, uma espécie de reação em cadeia em que muitos investidores seguem uma única direção, mesmo sem saber ao certo o motivo. E um dos terrenos férteis para esse tipo de comportamento é a bolsa de valores.
Na volta do Carnaval, a bolsa brasileira se ajustou ao cenário externo e teve fortes perdas. Em apenas dois dias, o Ibovespa acumula queda de 9,41%. O Valor Investe ouviu consultores e especialistas para explicar o que fazer em um momento desses.
Decisões Profissionais: Vender o mais rápido possível!
Para quem já tem ações, investe em fundos de ações ou tem ETFs de renda variável (fundos que espelham índices), o principal conselho dos consultores é: respire e não tome decisões por impulso. Os vendedores de ilusões sugerem para o bem deles: fuja do efeito manada.
“Pânico é o pior conselheiro”, diz o economista da corretora Órama. “Não venda agora no pânico. Os momentos de pânico não são bons conselheiros.” Outro da Easynvest diz: “o mais importante é entender se os movimentos [de queda das ações] são especulativos ou estruturais. No caso da volatilidade que vemos no mercado nos últimos dias, não está claro se é um movimento que veio para ficar, se é uma tendência de baixa, ou se estamos vivendo uma turbulência momentânea”.
A recomendação de espera é para os investidores de longo prazo. Os investidores a fim de especular, olham só para o curto prazo, logo, o conselho é tomar cuidado redobrado neste momento. Ninguém consegue ainda ver o fim do poço e, em cenários assim, as reações podem ser exageradas. Vistas ex-post, ou seja, a posteriori.
Buscar oportunidades
Pouca gente se atenta é alguém só conseguir vender os papéis porque tem quem os compre. Segundo os analistas, quem tiver margem na carteira para aumentar a posição em ações, esta pode ser uma boa oportunidade, porque muitas ações diminuíram bastante de preço.
Quem queria uma oportunidade de entrar no mercado, pois ficou de fora da alta, nessa faixa de preço do Ibovespa entre 100 mil e 105 mil pode ser interessante entrar devagar, ou seja, se estiver fora, comprar uns 25% do almejado. Mas é importante alertar a esse investidor: se topar comprar neste momento saiba haver riscos envolvidos porque pode ver o papel afundar mais antes de subir, eventualmente. Só compre se este dinheiro não for fazer falta no dia a dia e não estiver reservado para a emergências.
Diversificação
Para comprar uma ação basta ter algum dinheiro na carteira e conta em uma corretora. Mas a recomendação dos analistas é sempre de diversificação. Escolher papéis de diferentes setores, diferentes riscos e fontes de receitas diversas é uma estratégia não só importante para não apostar em uma única ação e correr o risco de não acertar a mais demandada.
Também é importante para o tombo ser menor em momentos de turbulência. Neste cenário de risco sistêmico, quando cai toda a bolsa de valores, há quem recomende ações defensivas, como as boas pagadoras de dividendos. Elas são mais sólidas e costumam ter uma volatilidade menor.
Fundos de ações e ETFs
As recomendações valem tanto para quem tem ações mesmo, quanto para quem comprou cotas de fundos de ações ou ETFs de renda variável.
No caso dos fundos, há uma vantagem: as carteiras costumam ser mais pulverizadas e o gestor tem margem (e experiência, pelo menos em teoria) para adequar a carteira ao cenário. Em um fundo de ações, os gestores normalmente compram vários tipos de ativos e podem ter ativos mais defensivos. Eles se beneficiam da alta do dólar em um cenário como esse e se contrapõem a ativos mais impactados com queda em momentos de volatilidade.
Crônica da Queda Anunciada por Maus Fundamentos e Viés do Status Quo ou Adiamento publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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