Daniel Yergin, no livro “A busca: Energia, Segurança e a Reconstrução do Mundo Moderno” (Rio de Janeiro: Editora Intrínseca; original “The Quest: Energy, Security, and the Remaking of the Modern World” publicado em 2011), narra as razões fundamentais das fusões e aquisições ocorridas entre as maiores companhias de petróleo privadas.
A crise financeira asiática gerou uma enorme ruína econômica. Assim, as suposições para o final de 1997, incorporadas no acordo de Jacarta, estavam todas erradas. Implementando o acordo de Jacarta, a Opep vinha aumentando sua produção — mas, ao mesmo tempo, a demanda caía.
Agora, havia petróleo demais no mundo. Quando não tinha mais espaço nos tanques para armazenamento, os navios-petroleiros que normalmente transportavam petróleo foram transformados em depósitos flutuantes. Mesmo assim, ainda havia petróleo demais. E demanda de menos. O preço caiu para US$ 10 por barril e, para alguns tipos de petróleo, chegou a US$ 6 por barril — preços vistos apenas durante o colapso de 1986. O mundo acreditava jamais voltariam a acontecer.
A reunião de 1997 em Jacarta seria lembrada pelos exportadores daí em diante como uma advertência — a “Síndrome de Jacarta” —: o perigo de aumentar a produção quando a demanda enfraquecia ou mesmo quando era apenas incerta. Foi um erro que não pretendiam repetir jamais.
O colapso dos preços contribuiu para outro fato. Deu origem à mais abrangente remodelagem da estrutura da indústria do petróleo desde a dissolução do Standard Oil Trust pela Suprema Corte dos Estados Unidos, em 1911. O resultado foi algo que teria sido inimaginável sem as circunstâncias criadas pela queda dos preços.
Com os preços lá embaixo, as finanças da indústria do petróleo desmoronaram. Houve cortes gerais nos orçamentos das empresas e demissões. “Afogadas em petróleo”, dizia a manchete de capa da revista The Economist. Com certo exagero, ela captava o que havia se tornado a convicção generalizada de que os preços ficariam demasiadamente baixos por algum tempo e que o futuro do setor era incerto.
Para alguns, no entanto, foi uma oportunidade, nada fácil pelas circunstâncias, mas uma chance para acertar as coisas. Afinal, as pessoas ainda precisariam de petróleo; na verdade, precisariam de mais petróleo quando o crescimento econômico fosse retomado, o que significaria preços mais altos.
Porém, a indústria teria de ser mais eficiente, gerenciar melhor seus custos e alavancar as habilidades e a tecnologia em uma extensão maior. Isso apontava em uma direção: uma escala maior. E a maneira de se chegar lá seria por meio de fusões.
A “Era das Supermajors” estava começando. A “globalização e escalonamento incomparáveis” resultantes das fusões — combinados a uma maior eficiência e a um leque muito mais vasto de oportunidades — levariam a “retornos superiores e valorizações inéditas”.
Em suma, os acionistas valorizariam muito mais as empresas maiores. E, implicitamente, as empresas menores e menos valorizadas estariam em risco.
Alguém tinha que sair na frente. Mas como as fusões poderiam ser realizadas?
Aquisições hostis pareciam algo difícil demais, portanto, as empresas teriam de concordar com um preço. Havia também um obstáculo formidável: o que se conhece nos Estados Unidos como antitruste e na Europa como política de competitividade. Afinal, o mais famoso caso antitruste da história envolveu a Standard Oil Trust, de John D. Rockefeller, cuja dissolução fora determinada pela Suprema Corte, em 1911.
Em meados da década de 1860, Rockefeller havia saído de Cleveland com o “nosso plano”, um conceito para transformar a volátil, caótica e individualista nova indústria do petróleo dos Estados Unidos em uma indústria organizadíssima, operando sob sua liderança.
O resultado foi uma empresa enorme, a Standard Oil Trust. Ela controlava até 90% da indústria do petróleo dos Estados Unidos e dominou o mercado global. Ao fazer tudo isso, Rockefeller na realidade havia criado a moderna indústria petrolífera. Ele também inventou a companhia “integrada” de petróleo, na qual o produto fluía dentro dos limites corporativos do momento quando jorrava até quando chegava ao consumidor.
Rockefeller tornou-se não só o homem mais rico dos Estados Unidos, mas também um dos mais odiados. Na verdade, tornou-se a própria personificação do monopólio na era dos magnatas desonestos.
Em 1906, o governo do “demolidor de monopólios”, o presidente Theodore Roosevelt, entrou com um processo acusando a Standard Oil Trust de restringir o comércio nos termos da Sherman Antitrust Act [Lei Sherman Antitruste]. Em maio de 1911, a Suprema Corte dos Estados Unidos confirmou as decisões dos tribunais inferiores e ordenou a Standard Oil Trust ser desmembrada em 34 empresas distintas.
Desde a dissolução da Standard Oil Trust, quase todos os estudantes de direito interessados em antitruste estudam o caso. E, por repetidas vezes ao longo das décadas, desde 1911, a indústria foi investigada por alegações e suspeitas de conspiração e repressão do comércio.
As combinações, que criariam empresas ainda maiores, não serviriam apenas para atiçar as chamas da suspeita? Mas os tempos haviam mudado. O campo de jogo global era muito maior.
Ao todo, as grandes companhias internacionais de petróleo (International Oil Companies, ou IOCs) controlavam agora menos de 15% da produção mundial. A maior parte dela estava nas mãos das companhias nacionais de petróleo (National Oil Companies, ou NOCs). Elas haviam assumido o controle na década de 1970.
Algumas dessas NOCs, como a Saudi Aramco, estavam se tornando concorrentes eficazes e capazes, apoiadas em reservas imensas. Faziam parecer menor qualquer coisa que as tradicionais IOCs pudessem ter.
Para ganhar eficiência e reduzir custos — e com a aprovação das autoridades antitruste —, algumas das empresas uniram, em mercados-chave, suas refinarias e redes de postos de gasolina. Mas nenhuma delas tentara derrubar a situação vigente, as delimitações das fronteiras corporativas tão bem estabelecidas pela decisão da Suprema Corte de 1911.
Consolidação das Sete Irmãs: Fusões e Aquisições publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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