Na Introdução do livro, Partisans, Antipartisans, and Nonpartisans: Voting Behavior in Brazil (Cambridge University Press, 2018) de coautoria de David J. Samuels (University of Minnesota) e Cesar Zucco (Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro), eles dizem o restante deste livro estar organizado da seguinte maneira.
O capítulo 2 define seu núcleo, ou seja, os termos partidarismo e antipartidarismo com maior profundidade. Então, exploram a extensão do partidarismo positivo e negativo no Brasil desde os anos 80, mostrando, às vezes, mais da metade dos eleitores manterem atitudes partidárias negativas, isto é, simplesmente “ser contra”. Grande parte desse sentimento gira em torno de gostar ou não do PT.
A próxima tarefa é explicar o surgimento do petismo e antipetismo. Mostram essa profunda divisão política entre os eleitores brasileiros não ser uma função sociológica ou demográfica, devido a fatores como classe ou raça, mas em vez disso residir em visões normativas distintas sobre como a política deve funcionar.
Descartando qualquer suspeita de as atitudes partidárias no Brasil possam ser inconsequentes, o capítulo 3 mostra o partidarismo positivo e o negativo, particularmente, petismo e antipetismo, mas também para o PSDB e o PMDB, até certo ponto, têm efeitos semelhantes aos observados pelos estudiosos em outros países. Aproveitam uma série de evidências empíricas, incluindo estudos eleitorais brasileiros e pesquisas nacionais realizadas desde 1989, pesquisas originais em painéis de 2010 e 2014 e um experimento de pesquisa original.
Acham base para argumentar: aqueles militantes com sentimento partidário positivo não trocam alianças prontamente e se envolvem em motivações emocionais de autoengano, racionalizando a imagem de seu partido como moralmente digno, mesmo em face de fatos contraditórios com essa dedução. Enquanto isso, partidários negativos fazem o mesmo, mas ao contrário, ajustando os fatos à sua imagem preconcebida do partido, sempre confirmando a pressuposta razão preconceituosa para gostar dele ser considerado algo moralmente indigno.
Tendo explicado a existência de partidarismo e antipartidarismo e o que eles querem dizer, o capítulo 4 concentra-se na ascensão e declínio de petismo desde a eleição de 2014, mas emergindo a partir das passeatas de junho de 2013, quando a extrema-direita “saiu do armário”, onde tinha se metido envergonhada desde o fim da ditadura militar.
Argumentam os eleitores terem seguido um dos dois caminhos para o petismo, ambos incorporavam a estratégia do partido de “mobilizar os mobilizados”: um antes de Lula conquistar a presidência em 2002 e o outro depois. Até 2002, o PT enfatizou a política de oposição e alcançou indivíduos na sociedade civil, expandindo deliberadamente o nível da organização municipal do partido. Esses esforços de divulgação continuaram após 2002, mas o que chamou os eleitores para a bandeira do partido depois daquele ano foi um sucesso do governo Lula na implementação de várias políticas de melhoria da igualdade social. Elas pareciam colocar os princípios do partido em ação.
Tudo isso desmoronou por volta de 2014. Para explicar a reversão da “roda da fortuna” do PT, os coautores focam na ideia de a intensidade do partidarismo variar. Os eleitores podem atualizar a avaliação das qualidades de seu partido, em direção dinâmica para contar com seu apoio. No caso do PT, sugerem essa atualização ser mais provável entre partidários relativamente mais novos.
Depois de 2002, o PT captou apoiadores cujo apego ao partido estava enraizado em seu desempenho no cargo governamental mais do que em seus princípios declarados. Muitos desses novos petistas também eram novos participantes da classe média brasileira. Infelizmente para o PT, a inflação de alimentos, provocada pela seca entre 2013 e 2016, o equívoco do Banco Central do Brasil em elevar juros para combater quebra de oferta, e a recessão iniciada do segundo trimestre de 2014 corroeu os ganhos econômicos desses petistas. Por sua vez, esses fatores econômicos, politicamente, podem ter desgastado a fé dos dissidentes no partido.
Observam, embora as alegações de corrupção naquela época certamente não ter ajudado a imagem do PT, um escândalo semelhante sob Lula, denominado “mensalão” por quem foi denunciado por corrupção nos Correios – o líder do PTB –, não condenou o PT junto aos eleitores satisfeitos com o desempenho econômico brasileiro. Isso sugere logicamente a incapacidade do governo de gerenciar as flutuações cíclicas (e acidentais) da economia é relativamente mais importante para explicar o declínio do petismo em vez da denúncia da corrupção.
O capítulo 5 trata do impacto do partidarismo positivo e negativo no comportamento de votação. Relativamente, existe pouca pesquisa sobre o comportamento de voto dos brasileiros, e o que há concentra-se nas eleições presidenciais. Apesar de muita pesquisa ter explorado os próprios partidos dedicados apenas a conquistar uma base legislativa, para barganhar fisiologicamente por cargos e benesses, sabemos pouco sobre como e por que os eleitores escolhem candidatos para legislativos com base em relacionamentos interpessoais e candidatos de outros partidos para cargos majoritários. Será devido ao mesmo pragmatismo oportunista (e não ideológico) do “toma-lá-dá-cá”?
Quem resume a sabedoria convencional, sugere para a maioria dos eleitores “comida-na-mesa, prestígio pessoal e desempenho econômico” são fundamentais. Neste capítulo, os coautores mostram essa interpretação ser insuficiente: “para cima e para baixo”, o partidarismo molda as escolhas de voto de muitos brasileiros.
Especificamente, atitudes partidárias positivas têm efeitos poderosos para os apoiadores mais educados do PT e PSDB, mas apenas efeitos fracos para apoiadores do PMDB e antipetistas em geral. Estes são fortemente avessos aos candidatos do PT, seja pela religião evangélica submissa à pregação de sabidos pastores oportunistas por suas alianças fisiológicas, seja pela aversão anti-intelectual ao esnobismo dos bem-educados.
O último capítulo empírico do livro (capítulo 6) traz uma perspectiva comparativa, concentrando-se nos ganhos potenciais da expansão do estudo de partidos e sistemas partidários para incluir totalmente o conceito de partidarismo negativo.
Como o exame detalhado do Brasil demonstrou, um país com alto nível de partidarismo positivo subestima o nível de “coerência” do sistema partidário no eleitorado e o comportamento da votação em nível individual, porque muitos eleitores supostamente independentes não têm um sentimento partidário positivo. De fato, o apego pode ter atitudes partidárias fortemente negativas.
Uma vez que o partidarismo negativo é levado em consideração, uma imagem diferente do sistema partidário, segundo certos padrões de coerência e votação, emerge. Usam dados de pesquisas e de estudo comparativo de Sistemas Eleitorais para revelar o valor agregado de incorporar atitudes negativas a uma história sobre o partidarismo no comportamento durante a votação.
O capítulo 7 conclui em defesa da principal tese do livro: a relativa coerência do “sistema partidário no eleitorado” do Brasil, em grande parte, reflete as atitudes dos eleitores a favor ou contra o PT.
Organização do Livro “Partisans, Antipartisans, and Nonpartisans: Voting Behavior in Brazil” publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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