Thais Carrança (Valor, 20/01/2020) informa: o setor agropecuário deixou de empregar quase 1,8 milhão de pessoas desde 2012. Entre o terceiro trimestre daquele ano e o de 2019, a população ocupada diretamente na atividade diminuiu de 10,3 milhões para 8,5 milhões. Somente na passagem de 2018 ao ano passado, foram 174 mil pessoas a menos trabalhando no campo, apesar de um crescimento estimado de 2,39% da produção agropecuária.
Os ganhos de produtividade, o avanço da mecanização e a maior concentração da produção explicam a redução ano a ano da mão de obra na agricultura, apesar do crescimento quase contínuo da produção no país, dizem especialistas. Segundo eles, no entanto, a renda gerada pelo agronegócio fomenta a criação de empregos em outros ramos da atividade, como a indústria e o setor de serviços.
Conforme números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população ocupada nas atividades de agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura diminuiu a uma média de 2,6% ao ano entre o terceiro trimestre de 2012 e igual período de 2019 – respectivamente, o ano de início da série histórica da Pnad e o dado mais recente disponível.
Em comparação, a população ocupada total cresceu a uma média de 0,7% ao ano neste período, mesmo com as quedas registradas em 2015 e 2016, como resultado da recessão. Entre 2012 e 2019 a produção agropecuária brasileira aumentou em média 3,1% ao ano, com baixas registradas apenas em 2012 e 2016, devido a quebras de safra por problemas climáticos, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea/Esalq).
Nesse mesmo intervalo de tempo, a participação dos trabalhadores do setor agropecuário na população ocupada brasileira total recuou de 11,5% para 9,1%.
Essa tendência não é recente, ela vem de muitos anos, com maior ou menor intensidade. Isso é um reflexo da mudança na forma de produção agropecuária ou, dependendo do período, se existem oportunidades de emprego em outros setores. De 2012 para cá, predomina o primeiro fator, com o aumento da produtividade na agropecuária, que leva a uma substituição do trabalho por capital.
Esse processo de modernização tem como efeito indireto a concentração da produção, explica a pesquisadora. Com a dificuldade em competir, muitos estabelecimentos vão sumindo e a produção vai ficando mais concentrada em estabelecimentos maiores. Isso também contribui para ter menos pessoas envolvidas na agropecuária.
O movimento fica evidente quando se olha para a evolução da população ocupada por posição na ocupação. Entre 2012 e 2019, sempre considerando terceiros trimestres, dos 1,8 milhão de trabalhadores que deixaram a agropecuária, 812 mil trabalhavam por conta própria, muitos deles, provavelmente, como pequenos produtores. Cerca de 780 mil eram trabalhadores familiares auxiliares – pessoas que ajudam parentes, sem remuneração, cuja participação tem diminuído também devido à dificuldade de sucessão no campo. Outros 198 mil dos demitidos eram funcionários com carteira.
Embora a redução da mão de obra no agro seja um fenômeno estrutural, a crise recente também deixou marcas no setor. A informalidade, que vinha em queda até 2014, voltou a crescer desde então, com os trabalhadores do setor privado sem carteira passando de 18% do total do setor agropecuário no terceiro trimestre daquele ano para 23% em igual período de 2019.
Mesmo com o menor número de pessoas trabalhando na produção agrícola e o aumento recente da informalidade, o rendimento médio do setor cresceu acima daquele da população em geral. Entre 2012 e 2019, a renda média das pessoas ocupadas na agropecuária passou de R$ 1.203 a R$ 1.301, aumento de R$ 98 ou 8,1%. Já a renda média nacional passou de R$ 2.131 a R$ 2.223, crescimento de R$ 92, ou 4,3%.
A mão de obra que o universo agro mais liberou foi a mais básica, aquela de menor remuneração, cujo trabalho foi substituído pela máquina. A saída dessas pessoas da amostra aumenta a remuneração média.
Há mudança em seus negócios. Cresce a procura, por exemplo, por pilotos de drone para sistemas de mensuração de lavouras, desenvolvedores de software para controle da produtividade, engenheiros de produção e mecânicos, projetistas e designers para máquinas agrícolas, além de profissionais de compras, finanças, contabilidade, recursos humanos e administrativos que dão suporte para os grandes conglomerados agroindustriais.
Há uma miríade de novas profissões, muitas delas que já existiam em outras indústrias e que, com a profissionalização do agro, estão sendo trazidas para o setor. A remuneração de um desenvolvedor de software varia entre R$ 7 mil e R$ 12 mil, já um diretor comercial para agronegócio pode receber de R$ 30 mil a R$ 45 mil.
A mudança na demanda por profissionais no setor já aparece no grau de instrução dos trabalhadores. No terceiro trimestre de 2012, 84,7% dos ocupados na agropecuária não tinham instrução ou tinham apenas o ensino fundamental (completo ou incompleto). Esse percentual caiu a 74,7% no mesmo trimestre de 2019. Já os profissionais com ensino médio passaram de 14,1% para 23% e aqueles com superior completo subiram de 1,2% para 2,7%, ou de 118 mil para 221 mil pessoas.
Parece pouco, mas são mais de 100 mil pessoas a mais no agro com nível superior, isso reflete tanto o aumento da escolaridade da população brasileira em geral no período, como a agropecuária demandando mão de obra mais especializada.
A tendência de redução da população ocupada no agronegócio deve continuar, e pode ganhar ímpeto caso a recuperação cíclica da economia se confirme, com mais oportunidades de emprego no meio urbano. Além disso, cresce também o número de pessoas que residem no campo e atuam fora da agropecuária. Entre 2012 e 2018, a participação de residentes do meio rural atuando em empregos não agrícolas cresceu de 41,5% para 47,5%, mostra estudo do Cepea divulgado em outubro.
Apesar da redução da população ocupada nas chamadas atividades “dentro da porteira”, o setor tem gerado mais renda devido aos ganhos de produtividade. Nas regiões onde o agronegócio é a atividade predominante, observamos uma evolução da taxa de desemprego mais favorável do que nas principais áreas metropolitanas, devido ao aquecimento do setor de serviços nessas regiões.
Estudo de 2017 realizado por Serigati e coautores sobre o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) mostrou, naquela região de fronteira agrícola, a população ocupada no agro ter diminuído em média 1,4% ao ano entre 2012 e 2016, enquanto cresceu 3,3% em serviços e 0,7% na indústria.
A EMBRAPA foi essencial à conquista do cerrado brasileiro. Rafael Walendorff (Valor, 20/01/2020) informa: após fechar o escritório que mantido na África e encerrar todos os projetos de cooperação técnica com os países da região, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) quer retomar a presença no continente.
Para retornar de maneira “mais agressiva”, o presidente atual, nomeado pela aliança entre a bancada da bala e do boi, defende uma postura totalmente diferente da adotada no governo Lula: menos ajuda humanitária e mais negócios. “É colocar preço no que vamos fazer”.
O pesquisador foi efetivado recentemente na presidência da Embrapa, ainda estuda com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o melhor modelo para voltar à África. A restrição orçamentária do governo não permite cravar se haverá ou não escritórios novamente no continente, mas reforça a certeza de que o setor produtivo nacional precisa ser “carregado junto”. A intenção do chefe da Embrapa é captar valor e recursos para as tecnologias e conhecimento do país.
Não reconhece o erro estratégico anterior dos reacionários e vem com o seguinte discurso ilusório dos incautos. “Não é simplesmente pegar o que custou bilhões para a sociedade brasileira e entregar de mão beijada. É colocar preço no que vamos fazer com eles e levar o setor privado junto”.
Como exemplo para o que a Embrapa quer fazer na África, o pesquisador cita a atuação das agências de cooperação e desenvolvimento internacional dos Estados Unidos (USAID) e do Japão (Jica) no Brasil do século passado. De acordo com ele, além da ajuda técnica, a presença delas abriu espaço para a instalação de empresas privadas estrangeiras no país.
Na avaliação de Moretti, a diminuição da presença da Embrapa na África foi “um erro estratégico” do governo – o movimento ocorreu após o golpe no governo Dilma Rousseff, na contramão de seu antecessor.
A ida da Embrapa para a África fora incentivada no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que manteve uma política diplomática de aproximação com os países do Hemisfério Sul. Em 2006, o escritório da Embrapa em Gana foi inaugurado e serviu de base para projetos com 36 dos 58 países africanos. Os principais programas foram o Cotton 4, que ajudou no desenvolvimento do plantio de algodão, e o Pró-Savana, para transferência de tecnologia aplicada no Cerrado. Eles eram coordenados pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), que estabelecia prioridades e financiava as ações.
No início do governo da ex-presidente Dilma, no entanto, a atuação da ABC foi enfraquecida. O fechamento do escritório ocorreu ainda no primeiro mandato da petista e a situação não mudou na gestão de Michel Temer (2016-2018). Atualmente, nenhum programa está ativo na África, de acordo com a assessoria da Embrapa.
O resgate da relação com a África surpreende até pessoas importantes da área internacional do governo de Jair Bolsonaro. Quem frequenta a Casa Civil ouve seguidamente do ministro Onyx Lorenzoni o direcionamento para “cuidar” mais do assunto. Foi assim, inclusive, em reuniões para tratar da criação de uma agenda global para o etanol, outra política defendida durante o governo Lula que perdeu muita força sob Dilma. A reinserção da Embrapa na África também faz parte da “renovação” da diplomacia na região, de acordo com uma fonte a par do assunto.
Em meio aos esforços para resgatar a presença da Embrapa do outro lado do Atlântico, lembram, finalmente, a África ter 60% das terras agricultáveis do mundo e cerca de 400 milhões de hectares de savana idênticos ao Cerrado brasileiro, além de uma grande preocupação com a segurança alimentar.
Há oportunidades possíveis de ser aproveitadas pela Embrapa e os empresários brasileiros das áreas de sementes de forragens e de maquinário agrícola. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamento (Abimaq) está envolvida no “Green Imperative”, projeto do governo da Nigéria lançado há um ano. Ela prevê exportação de tratores, máquinas e pacotes tecnológicos brasileiros para lá.
O programa na Nigéria não conta com a participação da Embrapa. Foi estruturado pela FGV-Projetos e deve contar com financiamento de bancos brasileiros. É um grande projeto de mecanização, com participação de financiadores a taxas de juros baixas, mas sem subsídio. Tem de fazer sentido do ponto de vista econômico e ser bom para o Brasil também.
O conhecimento brasileiro na elaboração do zoneamento agrícola de risco climático é outro ponto que pode ser explorado na África.
Além da África, a Embrapa quer avançar em outros países. Nos Emirados Árabes Unidos, negocia a instalação de um novo escritório no Oriente Médio a ser custeado pelo governo local. Nos planos do presidente da Embrapa também está a reativação dos escritórios que a empresa mantinha até pouco tempo na China e na Coreia do Sul, além da criação de outro no Japão. Atualmente, apenas os Estados Unidos e a França têm representações da Embrapa.
Desemprego Rural com Aumento da Tecnologia e Produtividade e Reconhecimento de Erro Estratégico publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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