Ele foi exclusivo. Caro e desejado por muitos jovens (e não tão jovens) da década de 80 no Brasil, o Escort conversível foi um dos marcos do mercado automotivo nacional no saudoso período, onde o país ainda não podia importar carros.
O Escort conversível durou dez anos no mercado brasileiro e teve duas gerações, sendo o único de seu tipo – oriundo de fábrica – por seis anos, até que o Chevrolet Kadett GSI adotou uma capota de tecido.
Nascido de um projeto global da Ford, o Escort sem teto rígido reuniu os esforços da marca americana e da Karmann-Ghia para sua execução no Brasil.
O desejado conversível mexeu até com as empresas de customização da época, que faziam diversos modelos de carros fora-de-série e o Escort conversível não escapou disso, tendo modelos da Sulam e Engerauto, por exemplo.
Embora na Europa o modelo original tivesse opção cabriolet em diversas versões, mesmo algumas bem simples, no Brasil, apenas o esportivo XR3 teve a primazia de oferecer essa opção.
Com capota de tecido importado, manuseio fácil e a famosa barra de proteção central, o Escort conversível era o puro prazer ao dirigir com o vento soprando no rosto e invadindo o interior sem delongas.
Escort conversível
Em 1983, o Ford Escort surgiu no mercado nacional, sendo um produto global que chegara ao Brasil com carroceria notchback (dois volumes e meio) com versões L, GL e Ghia, tendo duas ou quatro portas.
Esse modelo também oferecia motor CHT 1.4 nas duas versões mais baratas, mas era o CHT 1.6 que reinaria no compacto, assim como meses depois, o CHT mais forte, o 1.6 à álcool com 82,9 cavalos que equipara o esportivo XR3.
Para a Ford, a gama do Escort, no entanto, ainda não era completa e, por isso, decidiu trazer mais uma opção, o Escort conversível na versão XR3, devido ao preço mais alto e também como uma forma de exclusividade.
A ideia deu tão certo que o modelo alcançou a segunda geração na época da Autolatina, recebendo a carroceria da quarta geração europeia, além de mecânica Volkswagen e outros melhoramentos.
Primeira geração
Popular nos EUA e Europa, o conversível de fábrica era algo que o brasileiro viu desaparecer depois do fim do Typ 14 da Karmann-Ghia nos anos 60.
Em 1985, a Ford surpreendia o mercado nacional com um XR3 diferente, o Escort conversível. O produto exigiu que a montadora americana fechasse um acordo com a Karmann-Ghia do Brasil para sua produção.
A Ford fornecia o Escort para que a Karmann fizesse os cortes e ajustes necessários para que o modelo ganhasse a capota retrátil, que era importada da Alemanha.
O projeto não era apenas uma simples adaptação como aquelas de fabricantes de fora-de-série nacionais. O Escort conversível deveria ser igual ao europeu e atender ao então rígido padrão de qualidade da Ford.
No Brasil, a única empresa capaz de realizar isso era a Karmann-Ghia, tal como sua sede na Alemanha (Osnabrück), que fazia carros conversíveis de excelência, como o Volkswagen Golf Cabrio, por exemplo.
Coincidentemente, a empresa de origem alemã – tal como a Ford, sediada em São Bernardo do Campo – foi a última a produzir um conversível de fábrica no Brasil.
O Escort conversível recebera reforços estruturais necessários por causa do corte de teto e colunas. Para manter a rigidez da plataforma, a Karmann adicionou mais aço no assoalho e também uma barra transversal ligando as colunas B.
Esse “arco” do XR3 conversível era bem elegante para a época, apoiando também a capota, que era montada em uma articulação de aço dobrável na traseira.
Para acomodar o mecanismo, que era de acionamento manual com travas no arco do para-brisa, a Ford projetou um banco traseiro mais estreito.
Além disso, o Escort conversível tinha ainda uma vigia traseira de vidro com desembaçador elétrico, diferente dos carros fora-de-série, que eram de plástico.
Havia ainda janelas laterais reduzidas e retráteis, garantindo um pouco mais de visibilidade para quem ia atrás. Apesar do tamanho e da presença de vidro na estrutura, a capota era de fácil manejo.
A aerodinâmica com a capota fechada era de 0,38 de cx, ainda boa se comparada às transformações independentes. O Escort conversível com tudo o que vinha junto, pesava apenas 70 kg a mais que o XR3 regular.
Com estanqueidade garantida, o Escort XR3 com capota retrátil tinha um projeto tão bom que até o porta-malas perdeu pouco em espaço, caindo de 305 litros para 291 litros no conversível.
Estilo
Apesar de ser o XR3 já conhecido, o Escort conversível tinha algumas coisas exclusivas em relação ao esportivo de teto fixo. Ele, por exemplo, não tinha o aerofólio traseiro do XR3 de teto fixo.
O Escort XR3 cabriolet brasileiro tinha grade com lâminas aerodinâmicas e formato retangular, bem como faróis quadrados e de parábola única, empregando piscas de cor laranja separados.
O logotipo da Ford ia no centro da grade, que era parcialmente coberta por dois faróis de milha, item clássico dos esportivos dos anos 80.
Estes eram presos em um para-choque de lâmina única e na cor do carro, que vinha ainda com dois bumpers dotados de lavadores de faróis, entre estes e a grade, bem como coberturas pretas laterais que se uniam aos para-lamas.
Estas duas partes eram unidas por mais uma proteção, que cobria parte do para-choque. Mais abaixo, a carroceria vinha nua, mas com a pintura geral. Havia ali dois faróis de neblina presos em suportes sob os bumpers.
Um friso preso envolvia a parte inferior da frente e se moldava com spoilers laterais junto às rodas dianteiras. O XR3 da época não tinha saias laterais, mas apenas acabamento preto na base da carroceria.
Contudo, as saias de rodas traseiras tinham também spoilers parecidos com os dianteiros, sempre à frente da roda. O para-choque traseiro tinha borrachão de proteção da lâmina, assim como “pás” laterais e dois batentes como na frente.
A parte inferior da carroceria não tinha acabamento diferenciado, tendo apenas a cor da carroceria. Havia uma alça para reboque. O escape era simples e sem ponteira decorada. As rodas eram de liga leve ou aço com calotas de 12 furos.
O Escort conversível tinha tampa do bagageiro exclusiva, que abria até embaixo por causa da área menor, o que obrigava a criação de um vão muito parecido com o da perua Escort europeia.
De fato, as lanternas do XRE cabrio eram as mesmas da perua duas portas vendida na mesma época no mercado europeu, tendo lentes com os mesmos cortes da grade frontal.
A tampa do Escort conversível tinha fechadura simples e portava a placa, tendo ainda um amortecedor para sustentar seu peso no acionamento. Ao lado dela, sobre a carroceria, ficava a antena do rádio.
A capota do Escort conversível ficava parcialmente para fora da carroceria, o que explica a perda reduzida no volume do bagageiro. Com tecido impermeável, ela vinha com cobertura estética e aerodinâmica.
Os retrovisores eram grandes e pretos, enquanto as portas dianteiras adotavam grandes quebra-ventos. Já as colunas B eram integradas ao arco central, ficando expostas com capota e vidros fechados.
O XR3 conversível tinha ainda frisos pretos nas laterais, enquanto o interior era bem cuidado, com bancos em veludo e detalhes em vermelho, além de volante de dois raios em “V” invertido. Este era bem pequeno.
Nele, o cluster tinha conta-giros com faixa vermelha para cima, além de velocímetro, hodômetros parcial e total, nível de combustível e temperatura da água.
O ar condicionado era opcional, com controles verticais ao lado da instrumentação. O esportivo tinha ainda rádio toca-fitas e bancos confortáveis com apoios de cabeça largos na frente.
Quando surgiu em 1985, o Escort conversível já veio com diferencial mais curto, amortecedores e molas mais firmes, direção mais direta e discos de freio dianteiros ventilados, melhoramentos que o XR3 ganhou depois do lançamento.
Atualização
Em 1986 – como modelo 1987 – o Escort conversível ganhava no Brasil o mesmo facelift que na Europa, que lá marcava também uma mudança de geração.
Agora, o capô descia pela frente, fundido-se com uma grade afilada em plástico ABS, que era integrada ao novo para-choque envolvente de mesmo material.
Este vinha com acabamento preto e filetes vermelhos, tendo ainda dois batentes dianteiros, mas para suporte dos faróis de milha, que continuaram. Os faróis simples eram novos, tendo recortes na parte interna.
Não havia mais faróis de neblina e nem spoilers envolventes nas saias de rodas. Rodas de liga leve aro 14 agora tinham desenho de lâminas e agradavam.
Frisos pretos nas laterais e lanternas verticais lisas na traseira, marcavam o Escort conversível, que ainda recebeu novo para-choque traseiro envolvente e com os mesmos frisos vermelhos da frente e laterais.
A tampa traseira manteve o chanfro, destoando das lanternas. Os bancos em veludo com tons de cinza e vinho (a mesma das portas e laterais) eram um luxo, realmente.
O painel novo vinha com iluminação indireta, mas mantendo um conjunto completo. Redesenhado completamente, a parte frontal ganhou um formato elegante e comandos de ar condicionado junto dos difusores de ar.
Já o espaço para o rádio toca-fitas era do tipo 1din e havia cinzeiro, além de acendedor de cigarros, porta-moedas e porta-fitas cassete. A alavanca de câmbio não era esportiva, mas o volante de dois raios era novo e atraente.
Ele imitava couro perfurado e tinha uma boa pegada. No Escort conversível, em sua versão XR3, tinha quatro alto-falantes, sendo dois sob o painel (nas laterais) e dois na altura dos ombros de quem ia atrás.
Apesar do banco reduzido, o espaço era para três, que iam apertados. Os cintos eram todos subabdominais e os vidros traseiros eram manuais, enquanto os dianteiros eram elétricos.
No ano de 1989, o Escort conversível ganhou motor AP 1.8 à álcool da VW, que entregava 99 cavalos e 16 kgfm.
Em 1992, o Escort conversível já tinha para-choques na cor do carro, adicionando ainda rodas redesenhadas, bancos novos e amortecedores eletrônicos do XR3 Fórmula.
Com piscas brancos, o Escort XR3 cabriolet vinha ainda com capota de acionamento eletro-hidráulico, bem como direção hidráulica.
Segunda geração do Escort conversível
A segunda geração do Escort conversível chegou na linha 1993 com desenho mais aerodinâmico e fluido, mas durou pouco. Sem grade frontal e com faróis de neblina novamente, mas sem os de milha.
Dentro da Autolatina, ele veio com mecânica VW, assim como o anterior, tendo filetes vermelhos externos, rodas aro 15 polegadas que imitavam turbinas, saias laterais, retrovisores na cor do carro e teto de acionamento elétrico.
A traseira agora era a mesma do XR3 de teto rígido, tendo ainda nomenclatura com detalhes em vermelho. Por dentro, o ambiente mantinha a padronagem com tons de vinho e cinza nas portas e nos bancos Recaro.
O volante esportivo tinha 3 raios, enquanto o painel novo era inspirado no anterior e trazia sistema de áudio com equalizador digital e amplificador.
Equipado com motor AP 2.0 com injeção eletrônica e 115,5 cavalos, o Escort conversível teve sua potência elevada em 1994 com a injeção digital da FIC, que elevou a potência para 122,4 cavalos.
Em 1995, o XR3 saía de cena junto com sua versão “descapotável”, após 10 anos de sucesso.
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