sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Página Infeliz na História do Brasil: Década de 2010

Uma grande motivação para manter este modesto blog pessoal durante os dez últimos anos foi, em metade da década pelo menos, ser uma “página infeliz de nossa história”. Nesta época de regressão de valores democráticos e volta ao obscurantismo evangélico-militar com sua intolerância aos intelectuais e à cultura diversa, é um instrumento de luta para tomarmos consciência da necessidade de resistência. A volta da Velha Matriz Neoliberal representa também uma reversão no crescimento econômico brasileiro!

Bruno Villas Bôas (Valor, 20/01/2020) informa: mais de 80% dos países cresceram mais rapidamente em comparação ao Brasil nos anos 2010 (2010-2019), um dos piores períodos de crescimento econômico da história brasileira, mostra levantamento do economista Marcel Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

De acordo com o levantamento, 160 dos 193 países da amostra (ou 83% do total analisado) tiveram uma expansão média do Produto Interno Bruto (PIB) mais forte do que o Brasil nos anos 2010. O PIB brasileiro cresceu 1,3% ao ano na média de 2010 a 2019 – para este último ano, foram consideradas a projeção do boletim Focus, do Banco Central (BC), para o Brasil e as do FMI para os demais países da pesquisa.

Esse ritmo médio de crescimento do PIB brasileiro é quase um terço da média mundial do período, que foi de crescimento de 3,8% ao ano. Também fica atrás do de países desenvolvidos como Estados Unidos (2,3%) e Alemanha (2%). Iguala-se ao Japão (1,3%), que há muito tempo caminha em marcha lenta. Supera parte das nações no epicentro da crise da dívida na Europa, como Portugal (0,7%) e Grécia (queda de 2%).

A fraqueza da economia brasileira no período fica ainda mais eloquente na comparação com o PIB médio dos países emergentes. Ele foi de 5,1% ao ano entre 2010 e 2019. Dados levantados pelo pesquisador do Ibre/FGV mostram que esse desempenho foi liderado por países asiáticos, como a China (7,6% ao ano), a Índia (7,2%), o Vietnã (6,3%) e a Indonésia (5,4%).

A América Latina e Caribe teve uma expansão lenta na década, de apenas 2% ao ano. Além do mau resultado do próprio Brasil, que representa algo com 30% da economia da região, o número foi impactado pelo resultado pífio da Venezuela (-9,5%). Com a recessão no fim da década, a economia da Argentina cresceu 1,2% ao ano no período, pior do que as de Chile (3,5%) e Uruguai (3,1%).

Os anos 2010 tiveram um início feliz e um final infeliz na economia brasileira. O primeiro ano do período foi marcado por um forte crescimento do PIB, de 7,5%, perdendo apenas para países como China (10,3%) e Índia (8,6%). Na média de 2010 a 2013, o país cresceu 4,1% ao ano. Foi uma época de estímulos ao consumo e sem erros tão graves na condução da política econômica como os que levariam o país à Grande Depressão a partir de 2015.

Os erros de política econômica começaram no segundo mandato do governo Dilma, em 2015, com a nomeação do economista neoliberal Joaquim Levy, indicado pelo Bradesco. Eles se intensificaram após o golpe semi-parlamentarista com os corruptos do PMDB liderando a aliança com os reacionários em geral. A recessão se transformou na Grande Depressão de 2015 e 2016. A incerteza cresceu entre empresários e consumidores. Aqueles, principalmente, os industriais, apoiaram a extrema-direita — e até hoje estão aliados a ela.

O Banco Central perdeu credibilidade por manter a maior taxa de juros do mundo muito tempo além da queda da taxa de inflação para a concentração de riqueza financeira inclusive em membros de sua diretoria. Após 16 anos de superávit primário, passamos a ter déficit primário.

O PIB do Brasil recuou 2,1% ao ano entre 2014 a 2016, o triênio classificado como recessivo pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace). Este colegiado busca definir a cronologia de expansões e crises da economia brasileira. Os piores anos do período foram 2015 (-3,5%) e 2016 (-3,3%), este marcado pelo processo de golpe contra a Presidenta Dilma Rousseff, reeleita em 2014 e impossibilitada de governar pelos pacotes-bomba do presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

A reta final do período foi de muito lenta recuperação da atividade econômica, com ritmo médio de crescimento de 1,3% do PIB do Brasil de 2017 a 2019. Os neoliberais acusam os últimos anos terem sido marcados por uma sucessão de eventos acidentais. É falsa desculpa dizerem eles terem frustrado a recuperação da atividade e da confiança de agentes, como a greve dos caminhoneiros, o rompimento da barragem de Brumadinho (MG) e a crise argentina.

Como a queda do PIB foi muito grande e a recuperação muito lenta, os anos 2010 foram piores, inclusive, em termos de crescimento do que os anos 80 (+2,9%), a chamada década perdida.

Nos últimos 40 anos, o Brasil cresceu em média 2,3% ao ano. É pouco para o país deixar para trás uma das maiores recessões de sua história.

Página Infeliz na História do Brasil: Década de 2010 publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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