Touro ataca de baixo para cima. Urso ataca de cima para baixo. São metáforas, respectivamente, para a alta e a baixa do mercado de ações. Em alta, os especuladores até se endividam para apostar mais na euforia. Em baixa, surge o pânico de todos para vender tudo logo, antes de maior queda, e pagar o endividamento.
Marcelo D’Agosto (Valor, 08/01/2020) publicou artigo didático. Compartilho-o abaixo.
“Nos últimos 12 meses a rentabilidade do Ibovespa foi de 31,58%, com altos e baixos. Em maio do ano passado, por exemplo, o índice chegou a acumular queda de quase 7%, mas fechou o mês com alta de 0,7%. Em janeiro de 2019 a bolsa subiu quase 11%, mas logo no mês seguinte caiu quase 2%. O índice também foi negativo nos meses de março e agosto.
Quem preferiu fugir das oscilações do mercado acionário e investiu em aplicações atreladas ao CDI ou à taxa básica Selic ganhou, em 2019, 5,97% sem sustos. Foi substancialmente menos se comparado às alternativas mais arriscadas. [Mas superou a inflação de 4% no ano.]
A diferença entre a rentabilidade da bolsa e da renda fixa foi de 25,61 pontos percentuais no ano passado. Esse número pode ser interpretado como o prêmio de risco. Significa a compensação que o investidor recebe pelo desconforto de ver o valor das aplicações em ações oscilar no dia a dia.
Em 2019, mesmo o investidor mais conservador irá admitir que o ganho do investimento em bolsa mais do que compensou o risco de perdas. A tranquilidade de manter as aplicações em renda fixa teve um custo de oportunidade alto.
Desde julho de 2016, a rentabilidade acumulada em períodos de 12 meses do Ibovespa é positiva. Apesar desse histórico, é difícil extrapolar os ganhos para o futuro.
O mercado acionário opera em ciclos. Quando a economia vai bem, as empresas tendem a aumentar os lucros, um número maior de investidores resolve investir em ações e o preço dos títulos sobe. O inverso também acontece. Em certos momentos, a economia entra em crise, o lucro das companhias cai, os investidores liquidam suas posições e o preço das ações diminui.
Os ciclos de alta são chamados de “bull market”. Em português, “bull” significa touro. A estátua do touro dourado, mostrada pelo executivo Pablo Spyer em seus vídeos, é o símbolo do mercado em alta.
Já os ciclos de baixa são chamados de “bear market”, algo como “mercado do urso” em tradução livre. Os momentos intermediários são chamados de períodos de correção ou de recuperação. A correção é quando o mercado registra uma queda após um período de alta. E a recuperação ocorre quando os índices sobem após um intervalo de queda.
Não existe uma definição precisa para os ciclos do mercado. Uma forma simples de diferenciar as fases é comparar a rentabilidade em 12 meses com os ganhos do mês. Se ambos forem positivos, é um sinal de “bull market”.
Se tanto o retorno em 12 meses quanto o mensal forem negativos a sinalização é de “bear market”. Os períodos de recuperação podem ser definidos se a rentabilidade em 12 meses é negativa, mas o desempenho da bolsa no mês é positivo. E os períodos de correção ocorrem quando a rentabilidade em 12 meses é positiva, mas a rentabilidade no mês é negativa.
A partir dessa definição é possível identificar os ciclos do Ibovespa desde 1996. Entretanto, em vez de considerar apenas o retorno nominal do indicador, as contas foram feitas com base no ganho acima do CDI. Esse ajuste é particularmente importante no Brasil devido ao histórico de juro alto, que parece ter ficado para trás.
As barras azuis do gráfico [acima] mostram: desde janeiro de 1996, o mercado brasileiro esteve em 44% das vezes no ciclo positivo. As correções aconteceram em 21% do tempo, semelhante aos ciclos de baixa. E os períodos de recuperação aconteceram em 15% do tempo.
Já as barras amarelas mostram o retorno médio em 12 meses acima do CDI em cada ciclo. Nos períodos de “bull market” o Ibovespa rendeu 24% acima do CDI. Na correção, o ganho médio foi de 15% acima do CDI. Nos períodos de “bear market” e recuperação, a rentabilidade média em 12 meses foi de 30% abaixo do CDI, considerando sempre o intervalo de 12 meses.
Apesar da menor frequência dos períodos de baixa, as perdas médias foram maiores do que os ganhos médios. Entretanto, o bear market pode ser danoso às economias acumuladas.
Por isso, a recomendação é investir com parcimônia e buscar diversificação. Mesmo em períodos ruins, quando o preço dos ativos cai, algumas estratégias podem minimizar as perdas. Além da motivação para perseguir ganhos mais altos o importante é estar preparado para suportar as perdas.”
Bull Market seguido de Bear Market: Euforia e Pânico no Mercado de Ações publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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