Francisco Góes (Valor, 19/06/19) entrevistou o ex-presidente da instituição de fomento, Paulo Rabello de Castro, a respeito da nomeação do engenheiro Gustavo Montezano. Amigo de baladas de um dos filhos do capitão-miliciano, foi apontado para ser o novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Ele terá de enfrentar uma “escolha de Sofia” – uma decisão difícil, tomada sob pressão -, no entendimento do e “A escolha se dará entre ser um gestor público, honrando o nome do pai dele [Roberto Montezano] ou ser mais um pau mandado“, disse Rabello, que presidiu o BNDES no governo de Michel Temer.
Devolução de recursos potenciais para financiamento deve ganhar rapidez com novo presidente Montezano. O pau-mandado foi indicado pelo governo para presidir o BNDES com duas prioridades bem definidas.
- Uma delas é a devolução de “empréstimos perpétuos” ao Tesouro Nacional: isto não é “pedalada fiscal”?!
- A outra prioridade do governo preocupado só com perseguição político-ideológica, com a mesma retórica desde a campanha eleitoral, cobra a fake-news divulgada por ele: abertura da “caixa-preta” do BNDES, em especial em relação aos contratos de apoio à exportação de serviços para Cuba e Venezuela.
Rabello disse: neste aspecto da “caixa-preta”, Montezano ficará entre a “cruz e a caldeirinha” – em grande dificuldade -, uma vez que terá que escolher entre a verdade e a “fake news“, fatos manipulados para atender a um interesse específico. “[Montezano] precisará ser sensato como o pai, que foi meu aluno [na EPGE/FGV], ter a mesma compostura, senão daqui a pouco está queimado”, disse Rabello.
Na visão do economista, não existe caixa-preta a ser aberta no BNDES, apesar do discurso do governo de extrema-direita para reverbera nas mídias sociais de seus seguidores imbecis na internet. Para ele, a caixa-preta tornou-se uma repetição insistente do governo Bolsonaro.
Na sua gestão no banco, de onde saiu em março de 2018 em um projeto de pré-candidatura à Presidência da República, procurou fazer uma análise detalhada para entender como o BNDES funciona e opera. Ele queria saber se o banco era falho em alguns aspectos ou se faltavam controles. O resultado dessa análise foi a publicação do Livro Verde, relatório sobre as atividades do banco. O livro foi publicado em 2017, quando o BNDES completou 65 anos, e se constitui em uma defesa do trabalho “íntegro” da instituição, nas palavras do próprio Rabello, na introdução do trabalho.
O documento dedicou uma parte a “boxes” nos quais se tratou de operações específicas feitas pelo banco, algumas das quais se tornaram alvo de polêmica. Um dos boxes, por exemplo, se intitula: “O que o banco foi fazer em Cuba”. Nesse trecho, o texto diz que o relacionamento da instituição com o país caribenho começou em 1999, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, via financiamentos para a exportação de ônibus da Mercedes-Benz e carroceria Busscar. O box também menciona o apoio ao porto cubano de Mariel dizendo que apenas nesse projeto atuaram como fornecedoras cerca de 450 empresas brasileiras.
Para Rabello, o Livro Verde mostrou não existir “caixa-preta” a ser aberta. “A caixa-preta foi aberta e permanece aberta.” Ele também diz ter descoberto, na sua passagem pelo banco, um ponto de crítica à instituição. “O BNDES praticamente não corre risco. E não é nem a União que corre, mas os intermediários, que finalizam a operação, ou os asseguradores de uma operação. O banco é rigoroso em não pôr em risco os recursos do país. Tem inadimplência, sim, mas o BNDES é um dos [bancos] mais rentáveis e menos contingenciáveis a riscos”, afirmou.
Em relação à devolução de recursos ao Tesouro, Rabello disse que a urgência nesse tema se deve à chamada regra de ouro, dispositivos legais que vedam o uso de recursos provenientes de dívida para pagamentos de despesas correntes. No tema da devolução, Rabello acredita que, mais uma vez, Montezano vai enfrentar dificuldades pois há contratos com a União que precisam ser respeitados e cumpridos, e que são fiscalizados pelo Tribunal de Contas da União (TCU). “A devolução tem questões técnicas e legais envolvidas, Montezano não poderá responder a esse tema de forma tosca.”
Na opinião dele, o governo cai em contradição quando coloca sobre o banco demandas como a transparência e a devolução de recursos simultaneamente: “Estão querendo muito de uma organização que é [supostamente] um poço de malfeitos“, ironizou Rabello.
Ele também mostrou-se crítico em relação à pressa em vender ações da carteira da BNDESPar, braço de participações societárias do BNDES. “Se eu tivesse vendido ações de JBS [quando presidia o banco], hoje estaria sendo crucificado.” Para ele, é preciso analisar quais são as ações que o banco tem em carteira e que estão maduras para a venda. Citou como exemplo a posição importante que o banco tem na Petrobras e que, na sua visão, precisará ser vendida de forma mais relevante em algum momento. Nos últimos trimestres, o banco vem vendendo em bolsa ações que detém de Petrobras, mas as vendas são escalonadas para não causar impactos no papel. Sobre o futuro de curto prazo do BNDES, Rabello mostrou- se pessimista: “O BNDES será empurrado a marchar para trás“.
Crime Lesa Pátria: Desmanche Neoliberal do BNDES publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com