Adrian Wood publicou um livro clássico, denominado “Uma Teoria dos Lucros” (Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra; 1980). Nele, destaca serem os dois aspectos principais do comportamento financeiro de empresas abertas, relacionado aos interesses dos portadores de suas ações:
- a política de dividendos e
- as emissões de novas ações.
A maior preocupação do acionista é obter a maior taxa de retorno possível de suas ações, considerando sua aversão ao risco.
A taxa de retorno de uma ação em dado período depende de três fatores:
- da cotação no início do período;
- do valor dos dividendos líquidos distribuídos durante o período;
- do valor do ganho ou perda de capital, descontados impostos e custos de transação com ações, resultante da alteração de sua cotação no período.
Esta é a regra do jogo especulativo, normal ou esperado. Porém, o acionista é intolerante quando mudança no comportamento da empresa afeta a taxa de retorno, embora esta só dependa em parte do procedimento desta empresa em questão. A taxa depende mais do desempenho do mercado secundário de ações.
Enquanto a empresa só define a política de dividendos, o mercado acionário determina tanto a cotação inicial no momento da compra quanto a cotação final no momento da venda. Mas os acionistas adotam a hipótese do mercado eficiente. Acham a precificação refletir de imediato as expectativas dos especuladores quanto aos dividendos e aos ganhos futuros. Nessa avaliação pensam como fundamentalistas e não como grafistas.
Na verdade, a cotação de qualquer ação dependerá mais das expectativas correntes dos participantes do mercado de ações sobre suas próprias expectativas futuras. É um jogo especulativo de adivinhações sobre o futuro a se tornar predominante para o antecipar antes dos outros.
No entanto, no caso de empresas não-financeiras ainda sem capital aberto. Quando ocorre a abertura com lançamento primário de ações, a expectativa de retorno vai depender unicamente do comportamento de seus acionistas em reação ao pagamento de dividendos.
Será obtida uma taxa de retorno acima da média quando a empresa superar as expectativas prévias do mercado de ações e uma taxa abaixo da média quando ela for capaz de alcança-las. Isso nada tem a ver com o bom ou o mau desempenho da empresa com relação aos seus dividendos. A empresa excelente em comparação com outras pode ter sido previamente subestimada – e vice-versa. Uma empresa com antecedentes insatisfatórios pode superar as expectativas ainda mais pessimistas dos participantes do mercado de ações.
Naturalmente, as expectativas dos retornos de uma dada ação variam amplamente, dependendo dos comportamentos dos diferentes acionistas. Ex-ante, haverá discordância a respeito de qual perspectiva é “boa” ou “ruim” – e de como o mercado de ações vai reagir face ao futuro desempenho da empresa. Por isso, uns acionistas escolhem uma, outros privilegiam outra. Cada qual espera uma perspectiva distinta.
O comportamento usual é simples:
- compram-se as ações subestimadas e
- evitam-se as ações superestimadas.
A sub e a superavaliação se referem ao preço da ação em relação aos retornos esperados por cada participante do mercado.
A regra deduzida é simplória: basta ter expectativas mais corretas em comparação às dos demais acionistas. Ex-post, o desempenho da empresa vai afetar, indiretamente, a taxa de retorno obtida por seus acionistas.
As empresas cujas ações oferecem as melhores taxas de retornos são as capazes de:
- alcançar as expectativas de seus acionistas e
- burlar as expectativas iniciais do mercado de ações.
Caso contrário, os acionistas obterão uma baixa taxa de retorno, quando foram demasiadamente otimistas, quer em relação ao desempenho da empresa das ações possuídas, quer em relação à reação do mercado de ações face àquela performance.
Na realidade, embora uma companhia não possa garantir aos seus acionistas uma taxa de retorno acima da média, ela deve tentar impedir eles receberem uma baixa taxa de retorno.
- Para tanto, deve anunciar, previamente, quais são suas próprias expectativas e intenções com relação ao futuro.
- Depois, esforçar-se para agir em conformidade com o anúncio.
Na verdade, o comportamento da empresa só tem uma influência limitada e indireta sobre a segurança dos acionistas. Ela tem pouco controle sobre as expectativas. A influência mais importante é o comportamento especulativo do mercado de ações.
Interesses dos Acionistas publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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