sábado, 27 de abril de 2019

Neuromarketing: Encontro Histórico entre Ciência e Marketing

No livro “A lógica do consumo” de autoria de Martin Lindstorm você testemunha um encontro histórico entre ciência e marketing. Uma união de fatores aparentemente opostos capaz de ter lançado nova luz sobre a maneira como você decide o que escolher — desde alimentos a telefones celulares, cigarros e até candidatos políticos — e o motivo de suas escolhas.

Agora, você e seu cérebro entendem melhor o que está por trás desse ataque publicitário que se vale de nossas preferências ocultas, desejos inconscientes e sonhos irracionais, e que exerce uma influência tão desmedida em nosso comportamento todos os dias. Graças às imagens neurológicas, podemos agora entender melhor o que realmente guia o nosso comportamento, as nossas opiniões e até nossa preferência.

Quando você pensa a respeito, é estranho quanto tempo levou para que ciência e marketing se unissem. Afinal, a ciência existe desde quando os seres humanos começaram a se questionar a respeito do motivo para termos um certo comportamento.

E o marketing, uma invenção do século XX, tem feito perguntas do mesmo tipo há mais de cem anos. A ciência são fatos irrefutáveis, a palavra final. Os profissionais de marketing e anunciantes, por outro lado, passaram mais de um século tateando.

A verdade é a maior parte das estratégias de marketing, publicidade e branding serem um jogo de adivinhação — e todos aqueles anúncios bem-sucedidos são considerados, em retrospecto, pura sorte. Antes do neuromarketing, profissionais de marketing e anunciantes não sabiam exatamente o que guiava nosso comportamento, então, tinham de confiar na sorte, na coincidência, no acaso ou repetir continuamente os mesmos truques.

Mas agora sabemos: aproximadamente 90% do nosso comportamento de consumo é inconsciente. Chegou a hora de uma mudança de paradigma. Martin Lindstorm comparou os antigos anunciantes a Cristóvão Colombo pegando um mapa simples, rascunhado, de uma Terra quando ele acreditava ser plana.

Graças a experiências de rastreamento cerebral, agora estamos presenciando uma mudança quase aristotélica no pensamento; as empresas estão começando a perceber que o mundo, na verdade, é redondo. Chega de velejar, ziguezaguear e cair da beirada do mundo em um abismo. Há muito a se aprender com a ciência do neuromarketing.

Em breve, um número cada vez maior de empresas vai se esforçar para manipular medos e inseguranças a respeito de nós mesmos para nos fazer pensar que não somos suficientemente bons, que se não comprarmos um determinado produto, estaremos de alguma forma perdendo algo.

Sem determinado produto, pensaremos: vamos nos tornar cada vez mais imperfeitos; teremos caspa, pele ruim, cabelos opacos; seremos gordos ou não saberemos nos vestir bem. Se não usarmos um certo creme de barbear, as mulheres vão passar por nós sem nem nos olhar; se não tomarmos um certo antidepressivo, seremos ignorados para sempre; se não usarmos uma certa marca de lingerie, nenhum homem se casará conosco. É preciso lembrar para você estar envelhecendo e começando a aparentar a idade que de fato tem?

Esse tipo de medo funciona. E agora, mais do que nunca, as empresas estão percebendo isso.

E mais, o branding que conhecemos está apenas começando. Espere que absolutamente qualquer coisa tenha uma marca no futuro — pois, como seu estudo de rastreamento cerebral mostrou, o cérebro está programado para atribuir às marcas um significado quase religioso e, em virtude disso, criamos lealdades imutáveis em relação a elas.

O neuromarketing ainda está engatinhando e, nos próximos anos, só vai expandir o seu alcance. Embora talvez nunca consiga nos dizer exatamente onde fica o “botão das compras” no nosso cérebro, o neuromarketing certamente ajudará a prever certas direções e tendências que vão alterar a configuração, e o destino, do comércio em todo o mundo.

E, de qualquer forma, que outra opção temos? Podemos, como indivíduos, fugir do alcance dos profissionais de marketing, das marcas e da nova configuração da publicidade que agrada à nossa mente subconsciente? Isso não é fácil no mundo atual.

Talvez se você fosse ao supermercado, estocasse alimentos para as próximas duas décadas e, depois, se fechasse em casa com trancas duplas. Tirasse o televisor da tomada. Desligasse o telefone celular. Cancelasse a conexão de internet banda larga. Em outras palavras, se você se isolasse totalmente do mundo exterior.

Mas suspeito que a vida logo se tornaria um pouco enfadonha e chata. Você estaria a salvo dos publicitários, mas a que preço?

A alternativa?

Um mundo no qual você enfrenta o ataque violento da publicidade entendendo melhor quais são seus impulsos e motivações, o que causa atração e repulsa, o que incomoda.

Um mundo no qual você não é um escravo das operações do seu subconsciente nem um fantoche nas mãos de profissionais de marketing e empresas que tentam controlá-lo.

Um mundo no qual, antes de sair correndo para comprar aquele novo creme para a pele com aroma de baunilha, aquele xampu com o misterioso fator X ou aquele maço de Marlboro que sua mente racional sabe que vai depositar glóbulos de gordura em seus pulmões, você para.

Porque esse é um mundo no qual nós, consumidores, podemos escapar de todos os truques e armadilhas que as empresas usam para nos seduzir e nos fazer comprar seus produtos e no qual podemos voltar a agir racionalmente. E espero que, ao escrever A lógica do consumo: verdades e mentiras sobre por que compramos, eu tenha ajudado a criar esse mundo. Então, fique atento.

Neuromarketing: Encontro Histórico entre Ciência e Marketing publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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