Raghuram Rajan, no livro “O terceiro pilar” (The Third Pillar: How Markets and The State leave The Community Behind. New York: Penguim Press; 2019), vai explicar como o localismo inclusivo pode conter muitas das respostas que as grandes nações diversas precisam e o que podemos fazer para alcançá-lo.
O Estado terá a responsabilidade de criar uma estrutura inclusiva em nível nacional, usando mercados de acesso aberto para incluir e conectar um conjunto diversificado de comunidades locais. Vamos examinar o tipo de constituição nacional capaz de funcionar bem em um país diverso. Rajan vai descrever o localismo: o processo de descentralizar o poder para o nível local, para as pessoas se sentirem mais capacitadas em suas comunidades. A Comunidade, e não a Nação, se tornará um possível veículo de coesão étnica e continuidade cultural.
À medida que os mercados se globalizaram, o poder e os recursos para agir também se elevaram, da comunidade para a região, para o Estado e até mesmo para o Superestado. Algumas potências nacionais legítimas estão agora circunscritas por acordos internacionais. Dentro das Nações, muitas decisões são centralizadas, quando há pouca razão para fazê-lo.
O localismo, portanto, significa devolver o poder ao povo, da esfera internacional às Nações e dentro das Nações, do nível federal ao regional e ao nível da comunidade. Significa seguir estritamente o princípio da subsidiariedade – os poderes devem permanecer no nível mais descentralizado, consistente com seu uso efetivo.
O empoderamento forçará cada um a assumir alguma responsabilidade, tornando mais difícil sucumbir à apatia ou apontar os dedos. Isso permitirá aos grupos a possibilidade de manter a identidade, a continuidade cultural e a coesão.
Muitos temem as comunidades empoderadas poderem se tornar abrigos para racistas, facilmente sequestradas por comparsas corruptos e propensos ao tradicionalismo obscurantista opressivo. Tudo isso é possível até nas comunidades atuais, mas pode piorar se as comunidades tiverem mais poderes.
No entanto, o localismo inclusivo não significa os poderes da comunidade não serem controlados – eles serão equilibrados pelos outros dois pilares, os Mercados e o Estado, o que forçará abertura e inclusão. A lei federal garantirá a comunidade estar aberta a bens e serviços de todo o país, embora a própria comunidade tenha voz substancial sobre as regulamentações da produção local. Além disso, o livre fluxo de pessoas, tanto dentro, quanto fora, será garantido por lei.
As comunidades ainda podem tentar ser estreitas e paroquiais, mas os custos econômicos de ser assim, especialmente dada a possibilidade de se beneficiar dos fluxos de comércio e pessoas através de suas fronteiras, limitarão o quão improdutivo ou opressivo a comunidade terá.
Os esforços de desenvolvimento em comunidades economicamente mais fracas serão impulsionados pela liderança da comunidade sempre quando disponíveis, mas também apoiados pelo Estado. A comunidade será auxiliada na construção de infraestrutura, ajudada na melhoria da qualidade de suas escolas e faculdades comunitárias e subsidiada para fornecer apoio adaptado baseado na comunidade para os necessitados.
A tecnologia ajudará o Estado a monitorizar levemente, mesmo enquanto descentraliza muito para a Comunidade. Da mesma forma, a tecnologia ajudará os membros da comunidade a controlar o governo local. Muitas dessas soluções tecnológicas são escalonáveis e, uma vez desenvolvidas, podem ser reutilizadas em várias comunidades, com alguma personalização local sempre quando necessário.
Para promover ainda mais a inclusão, o Estado quebrará as barreiras à oportunidade e à mobilidade quando se acumularam ao longo dos anos. Por exemplo, barreiras à construção em algumas áreas. Elas tornaram os preços dos imóveis proibitivos para os recém-chegados e devem ser derrubadas.
Parte disso irá interferir com os poderes da comunidade, mas quando a inclusividade vai contra o localismo, a inclusividade deve sempre triunfar. Isto é consistente com o tema ao longo deste livro. Quando temos de escolher entre a concorrência e os direitos de propriedade, devemos invariavelmente escolher a concorrência.
Em termos mais gerais, no entanto, os mercados precisam se tornar mais acessíveis e as ações dos agentes de mercado mais aceitáveis para a comunidade. A primeira exige ações do Estado, e a segunda exige repensar os valores dos agentes do mercado, como corporações.
Os nacionalistas populistas vão se retirar de sua missão de tomar o país e refazê-lo à sua imagem? Eles aceitarão enclaves dentro do país se acharem poderosos a ponto de ter o país inteiro?
Qualquer análise séria de grandes países ricos sugere: mesmo a corrente nacionalista populista mais comprometida continuará a aumentar a diversidade, apesar de uma restrição estrita à imigração, simplesmente porque as minorias mais pobres do país têm taxas de fecundidade mais altas. A menos que o grupo majoritário esteja disposto a impor um regime draconiano de apartheid, mantido pela violência, o caráter do país mudará naturalmente.
Se alguns na maioria realmente temem ser inundados culturalmente, o localismo inclusivo lhes dá uma maneira de manter sua cultura através de comunidades monoculturais, mesmo enquanto o resto do país celebra múltiplas culturas. Nos países em envelhecimento com as populações nativas minoritárias e as imigrantes em rápido crescimento, algumas acomodações como o localismo inclusivo podem ser a única opção civilizada.
Rajan espera o medo ou o ressentimento do outro não ser uma permanente característica de nossas sociedades. O localismo inclusivo não pretende ser uma condição final. Em vez disso, ajudará a aliviar as pressões, dando tempo a todos na sociedade para apreciar o valor da diversidade e descobrir maneiras de administrá-la.
Precisamos construir uma sociedade para o futuro, quando nossos povos estarão muito mais interligados em lugar do distanciamento de hoje. Nós não queremos esquecer nossas culturas, nossas tradições, nossas próprias identidades. Ao mesmo tempo, não queremos eles atrapalharem uma humanidade mais ampla. O localismo inclusivo é um trampolim para alcançar ambos.
Não vamos subestimar o quão difícil tudo isso será. Construtores de nações – desde democratas benevolentes, como o indiano Ambedkar e Nehru até ditadores assassinos como o Stalin da Rússia – descobriram ser mais fácil derrubar identidades comunitárias, resistir ao localismo e não o deixar prosperar.
No entanto, eles não podiam acabar com o controle da comunidade sobre as pessoas. Talvez seja hora de tentar outra abordagem, especialmente porque a tecnologia facilita a descentralização da governança e a comunicação entre as comunidades.
Da mesma forma, os marxistas argumentaram os Mercados se baseiam na destruição da identidade ao tornar tudo semelhante à mercadoria e a um negócio transacional, enquanto a Comunidade faz exatamente o oposto. Eles argumentam os Mercados e a Comunidade nunca poderem ser compatíveis.
No entanto, embora tenhamos visto a tensão entre os Mercados e a Comunidade repetidamente neste livro, eles coexistem. Negociamos anonimamente no mercado, mas depois voltamos para casa como voluntários para as festividades do dia da escola. Temos múltiplas identidades, como enfatiza Amartya Sem, por exemplo, ser comerciante durante o dia e diácono na igreja da comunidade à noite.
Além disso, a tecnologia nos dá os meios para criar mais identidade no Mercado, ao mesmo tempo ser capaz de nos dar novas maneiras de unir melhor a comunidade. Sem minimizar a dificuldade de nossa tarefa, vamos ter esperança de ver que a realizamos em um mundo diferente do mundo do passado.
Localismo Inclusivo na Comunidade publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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