Raghuram Rajan, no livro “O terceiro pilar” (The Third Pillar: How Markets and The State leave The Community Behind. New York: Penguim Press; 2019), afirma: as escolas, a porta moderna para a oportunidade, são a instituição comunitária por excelência. As qualidades variadas das escolas, em grande parte determinadas pelas comunidades nas quais estão situadas, condenam alguns enquanto elevam os outros.
Quando o caminho para entrar no mercado de trabalho não é nivelado, e subitamente íngreme para alguns, não é de admirar algumas pessoas sentirem o sistema ser injusto. Elas então estão abertas às ideologias cujas propostas vão no sentido do abandono do sistema de mercado liberal. Ele nos serviu muito bem desde a Segunda Guerra Mundial.
A maneira de resolver este problema, e muitos outros em nossa sociedade, não é principalmente através do Estado ou através dos Mercados. É revivendo a Comunidade e fazendo ela cumprir suas funções essenciais, como a escolarização, de maneira melhor. Só então temos a chance de reduzir o apelo de ideologias radicais.
Raghuram Rajan examina maneiras de fazer isso, mas talvez o mais importante seja retomar o poder assumido constantemente pelo Estado de volta à comunidade.
À medida que os mercados se tornaram globais, os organismos internacionais, impulsionados por suas castas de sábios-tecnocratas ou pelos interesses de países poderosos, determinados por suas castas dos governantes oligarcas, atraíram o poder das Nações, para ficar apenas em suas próprias mãos, ostensivamente, ao trabalharem em favor das castas dos mercadores, visando facilitar o funcionamento dos mercados globais. Os nacionalistas populistas exageram até o limite a respeito de como o poder migrou para organismos internacionais, mas isso não deixa de ser real.
Mais problemático, dentro de um país, o Estado tem usurpado muitos poderes da Comunidade para cumprir as obrigações internacionais, harmonizar as regulamentações nas comunidades domésticas, bem como garantir a comunidade usar bem o financiamento federal. Isso enfraqueceu ainda mais a Comunidade.
Nós devemos reverter isso. A menos que seja absolutamente essencial para a boa ordem, o poder deve ser transferido dos organismos internacionais para os países. Além disso, dentro dos países, poder e financiamento devem passar do nível federal para as comunidades.
[Raghuram Rajan propõe uma “desglobalização” e uma “desnacionalização” para o regresso a um “localismo tribal”, inspirado em aldeias da Índia, em um retrocesso histórico?!]
Felizmente, a revolução das TIC ajuda a fazer isso, como Raghuram Rajan argumenta em seu livro. Se efetuada com cuidado, essa descentralização preservará os benefícios dos mercados globais e, ao mesmo tempo, permitirá as pessoas terem mais senso de autodeterminação. Localismo – no sentido de centrar mais Poderes, gastos e atividades na Comunidade – serão uma maneira de gerenciar as tendências centrífugas de desorientação dos mercados globais e novas tecnologias.
Em vez de permitir que os instintos tribais naturais das pessoas sejam preenchidos por meio do nacionalismo populista, o que, combinado com os poderes militares nacionais, gera um coquetel de riscos, seria melhor se eles fossem perseguidos no nível da comunidade.
Uma maneira de acomodar uma variedade de comunidades dentro de um grande país diverso é adotar uma definição cívica inclusiva de cidadania nacional, onde se é cidadão, caso se aceite um conjunto de valores, princípios e leis comumente acordados que definem a Nação. É o tipo de cidadania que a Austrália, o Canadá, a França, a Índia ou os Estados Unidos oferecem.
É o tipo de cidadania assumido pelo muçulmano paquistanês-americano Khizr Khan, cujo filho morreu lutando no Exército dos Estados Unidos. Ele lembrou poderosamente à Convenção Nacional Democrata de 2016, quando acenou com uma cópia da Constituição dos Estados Unidos. Esse documento definia sua cidadania e era a fonte de seu patriotismo.
Dentro dessa ampla estrutura inclusiva, as pessoas devem ter a liberdade de se reunir em comunidades com outras como elas. A Comunidade, e não a Nação, torna-se o veículo para aqueles que apreciam os laços de etnia e querem alguma continuidade cultural.
É claro as comunidades deverem estar abertas para que as pessoas possam entrar e sair se quiserem. Alguns, sem dúvida, preferem viver em comunidades etnicamente mistas, enquanto outros preferem viver com pessoas de sua própria etnia. Todos eles devem ter a liberdade de fazê-lo.
A liberdade de associação, com discriminação ativa proibida por lei, tem de ser o futuro de grandes países diversos. No final, aprenderemos a apreciar o outro, mas até lá vamos viver pacificamente, lado a lado, senão juntos.
Os Mercados também devem se tornar mais inclusivos. Grandes corporações dominam muitos mercados, cada vez mais fortalecidos pela posse privilegiada de dados, propriedade de redes e direitos de propriedade intelectual. Profissionais licenciados credenciados dominam muitos serviços, impedindo a concorrência daqueles sem as licenças necessárias. Esta é uma razão pela qual os vizinhos amigáveis não podem ajudar a reconstruir uma casa hoje em sistema de mutirão ou autoajuda comunitária.
Em todas as situações, devemos localizar as barreiras à competição e à entrada e removê-las para a igualdade de oportunidades estar disponível para todos. Assim, à medida que lutamos por um Estado inclusivo e Mercados inclusivos, de modo a incorporarem a comunidade empoderada na sociedade e mantê-la engajada e dinâmica, alcançaremos um localismo inclusivo. Este será essencial para o renascimento da comunidade e um reequilíbrio dos pilares.
Mesmo em tal cenário, porém, o próprio esforço da comunidade, para se recompor, será crítico.
Nacionalismo Cívico: Restauração do Pilar Comunitário para uma Vida Saudável publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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