Até a crise de 1929, 1% dos norte-americanos ficavam com 48% da riqueza, porcentagem que caiu para 28% em 1968, mas voltou aos 48% na crise do período 2008/09. Nos últimos dez anos, os salários perderam para os lucros dez pontos percentuais de sua participação na renda nacional dos EUA.
Paul Krugman, ganhador de Nobel em Economia, publicou artigo (NYT/FSP, 23/04/19) onde afirma: o bordão do “1%” se tornou um problema, obscurecendo a natureza da divisão de classes nos Estados Unidos do século 21.
O foco no 1% de pessoas com renda mais alta era visto originalmente como forma de corrigir a ideia reconfortante, mas falsa, de que a desigualdade cada vez maior era simplesmente resultado dos avanços na escolaridade. A realidade é que, nas últimas décadas, o formando universitário médio registrou avanço modesto em sua renda, e o dinheiro grosso foi para as pessoas bem no alto da pirâmide. Falar do “1%” era uma forma de reconhecer essa realidade de maneira sucinta, e vinculá-la a dados amplamente disponíveis.
Sim, existe uma grande diferença entre as pessoas que têm renda suficiente para não se preocuparem demais com dinheiro, e as que precisam viver na insegurança financeira que aflige muitos americanos que se consideram como parte da classe média.
De acordo com o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, 40% dos adultos dos Estados Unidos não têm dinheiro de sobra para cobrir um gasto de emergência de US$ 400 (R$ 1.546); número muito maior é o de pessoas que ficariam em dificuldades severas para cobrir o tipo de gastos que surgem por exemplo, em situações de doença, mesmo que essas pessoas disponham de planos de saúde.
Assim, se você tem renda alta o bastante para bancar sem dificuldades um plano de saúde e uma boa moradia, dispõe de ativos líquidos consideráveis e acha difícil imaginar que alguém precise de ajuda alimentar do governo, deveria se ver como parte de uma minoria privilegiada.
Mas também existe uma grande diferença entre ser afluente, e mesmo muito afluente, e ter o tipo de riqueza que o coloca em um universo social completamente à parte. É uma diferença que foi resumida três décadas atrás no filme “Wall Street: Poder e Cobiça“, quando Gordon Gekko zomba das ambições limitadas de alguém que quer ser apenas “um zé mané que ganha US$ 400 mil por ano em Wall Street, voa em primeira classe e acha que vive de um jeito confortável”.
Mesmo hoje, muitos americanos parecem não perceber o quanto os verdadeiramente ricos são ricos. Em um evento recente, Janet Gornick, minha colega na Universidade Municipal de Nova York, foi recebida com descrença ao mencionar de passagem que os 25 principais administradores de fundos de hedge dos Estados Unidos ganham em média US$ 850 milhões por ano. Mas os números dela estavam corretos.
Uma pesquisa constatou que os americanos acreditam, em geral, que os presidentes-executivos das companhias do país ganham em média cerca de 30 vezes mais que a remuneração média dos trabalhadores comuns em suas empresas. Isso deixou de ser verdade na década de 1970. Hoje em dia, o diferencial está mais perto de 300 para um.
Por que os muito ricos deveriam nos preocupar? Não se trata de inveja, e sim de oligarquia.
Grandes riquezas trazem grande poder e distanciamento das preocupações dos cidadãos comuns. O que os muito ricos desejam, eles muitas vezes conseguem; no entanto, o que eles desejam em muitos casos é nocivo para o restante do país.
Há alguns bilionários com espírito público verdadeiro, e alguns progressistas muito ricos. Mas eles não são típicos de sua classe.
Os muito ricos não precisam do programa federal de saúde Medicaid ou da previdência social; não usam escolas públicas ou serviços de transporte coletivo; podem nem depender do sistema viário público (afinal, para isso existem os helicópteros). E ao mesmo tempo, eles não querem pagar impostos.
E por isso, ao contrário do que as pessoas acreditam, os bilionários em geral exercem seu poder político (se bem que sorrateiramente) em favor de cortes de impostos para quem está no topo, de uma redução nos serviços sociais e da desregulamentação. E o apoio financeiro dos muito ricos é a força mais importante para a sustentação das políticas extremistas de direita que hoje dominam o Partido Republicano.
Por isso é importante compreender o que queremos dizer ao falarmos sobre os muito ricos. Não se trata de médicos, advogados ou escritores, alguns dos quais fazem parte do “1%”. Estamos falando de um estrato social muito mais rarefeito.
Nada disso significa que as pessoas meramente afluentes deveriam ser isentadas do custo de criar uma sociedade mais decente. A Lei de Acesso à Saúde teve seus custos cobertos em parte por impostos sobre rendas anuais superiores a US$ 200 mil –ou seja, os zés manés que ganham só US$ 400 mil ao ano pagaram parte do custo. E isso é OK: eles (nós) têm (temos) dinheiro para isso. E ficar choramingando que US$ 200 mil ao ano não quer dizer riqueza é deselegante.
Mas é preciso compreender tanto que os afluentes em geral deveriam pagar mais impostos quanto que os muito ricos são diferentes de vocês e de mim. A divisão de classe que está na raiz de nossa polarização política é muito mais bruta e muito mais extrema do que as pessoas parecem compreender.”
No Brasil, o private banking – que engloba investidores com, no mínimo, R$ 3 milhões em ativos financeiros – começou 2019 em ritmo acelerado. Ao fim de fevereiro 121.383 clientes acumulavam mais de R$ 1,114 trilhão em recursos e variação de 14,5% em 12 meses. Apesar de mais de 70% desse montante ainda estarem concentrados nos cinco maiores bancos do país, cresce a parcela alocada em bancos estrangeiros e nas gestoras de fortunas independentes.
O Itaú Private Bank, responsável pelo maior volume de recursos desta categoria, R$ 430 bilhões, somando R$ 335 bilhões locais e R$ 95 bilhões offshore. A participação de mercado do Itaú sempre cresceu de forma consistente saindo de 28% em 2017 para mais de 30% hoje.
O Bradesco administra no private mais de R$ 200 bilhões. O Santander tinha R$ 125 bilhões de ativos administrados ao fim de 2018 no país, o que exclui o offshore.
BTG Pactual Wealth Management atinge R$ 130 bilhões no private. O Credit Suisse vem ampliando sua área de gestão de fortunas no país. No mundo, administra mais de US$ 757 bilhões, sendo R$ 180 bilhões relativos ao Brasil.
As family offices têm patrimônio a partir de R$ 500 milhões. O Citi, tem 1,5 mil family offices no mundo e no Brasil mais de cem. Acabou de realizar um evento com 60 single family offices. O private banking do Citi no país, segundo estimativas de mercado, tem aproximadamente R$ 60 bilhões sob custódia.
Desigualdade Social: Riqueza X Educacional publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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