Descobri Mihaly Csikszentmihalyi, autor de vasta obra na área da Psicologia Positiva, entre as quais “Flow: A Psicologia da Felicidade” (London: Rider; 2017), através de uma palestra TED em 2004. Não consegui até hoje memorizar e pronunciar seus sobrenome. J
Ele é professor e ex-presidente do Departamento de Psicologia da Universidade de Chicago. Nos últimos vinte anos, ele esteve envolvido em pesquisas sobre tópicos relacionados ao fluxo. Financiamento para esses estudos veio do Serviço de Saúde Pública e vários subsídios privados, principalmente a Fundação Spencer. Além disso, um grande interesse em seu trabalho vem crescendo fora da academia, encabeçado por artigos substanciais em publicações como Psychology Today, The New York Times, The Washington Post, The Chicago Tribune, Omni, Newsweek, and elsewhere. Ele é autor dos livros Beyond Boredom and Anxiety, e co-autor de The Creative Vision, The Meaning of Things, e Being Adolescent. Mihaly Csikszentmihalyi sintetiza sua obra em “Flow: The Psychology of Happiness”.
Flow apareceu pela primeira vez nos Estados Unidos em 1990. Durante vários anos antes disso, as pessoas vinham lhe pedindo para coletar as pesquisas publicadas em revistas acadêmicas obscuras e para torná-las disponíveis para um público mais amplo. Ele, finalmente, deu ouvidos ao conselho e descobriu no processo algo conhecido por mim desde meu retorno à Universidade da Era Qualis: escrever para um público leigo é muito mais divertido (assim como mais difícil) em lugar de escrever para colegas acadêmicos.
Quando ele estava escrevendo este livro, jamais sonhou com o impacto a ser obtido por ele desde o seu lançamento. Por exemplo, até agora o Flow foi traduzido para 14 idiomas diferentes, incluindo sérvio, português, japonês e chinês e coreano. Foi adotado por quatro clubes do livro nos EUA e mais em outros lugares. Um grande número de leitores de todo o mundo escreveu cartas contendo relatos eloquentes de como eles usaram o livro para melhorar a qualidade de suas próprias vidas. Além disso, as ideias contidas neste livro encontraram seu caminho em uma variedade de aplicações, variando de política para educação; de hospitais psiquiátricos para o Cirque de Soleil; desde a fabricação de automóveis na Nissan e Volvo até o design de museus de arte.
Claramente, Flow tocou um nervo na psique coletiva. Por muito tempo a psicologia se concentrou quase exclusivamente nas sombras da existência humana. O comportamento de homens e mulheres era visto como determinado pela herança biológica e por forças externas, distorcidas pelo desejo frustrado. Pouca atenção foi dada ao que torna a vida suportável, agradável e gratuita. Nesse vácuo, Flow trouxe uma mensagem de a vida poder ser uma aventura emocionante, divertida e criativa.
A cada década, essa mensagem se torna mais e mais relevante. Pois, à medida que as tecnologias esotéricas proliferam e os crescentes poderes de criação e destruição caem nas mãos de nossa espécie, a responsabilidade pelo uso de tais poderes sabiamente está se tornando cada vez mais urgente. Vamos exaurir os recursos do planeta sem pensar enquanto podemos ter uma vida muito mais gratificante com menos desperdício? A ganância vai dividir a humanidade em obscenamente rica e abismalmente pobre? O que realmente faz as pessoas felizes por estarem vivas? Quais são as experiências internas capazes de fazerem a vida valer a pena?
Este trabalho clássico sobre a felicidade apresenta os princípios gerais de modo a permitirem as pessoas reais transformarem vidas chatas e sem sentido em pessoas cheias de prazer. Introduz o fenômeno do “fluxo” ou êxtase – um estado de alegria, criatividade e envolvimento total, no qual os problemas parecem desaparecer e há um sentimento estimulante de transcendência.
Êxtase tem dois significados. Um se refere ao estado de quem se encontra como que transportado para fora de si e do mundo sensível, por efeito de exaltação mística ou de sentimentos muito intensos de alegria, prazer, admiração, temor reverente, etc. Outro é crítico à absorção em uma ideia fixa, acompanhada de perda de sensibilidade ou mesmo motricidade.
Adotaremos aqui seu sentido original. Etimologicamente, a palavra “êxtase” se originou a partir do grego ékstasis. Este termo se refere à sensação de “tirar alguém de sua própria mente”, ou seja, um estado de transe motivado por uma perturbação mental. Esta pode ser benigna ou maligna.
Êxtase é o estado emocional quando o indivíduo se sente fora de si – ou fora de seu cotidiano rotineiro, morninho e chatinho – e entra em transe, caracterizado pela intensificação extrema de variados sentimentos, como o prazer, a alegria, o medo, etc.
O estado de êxtase costuma ser provocado em reação a um estímulo emocional bastante intenso. O ápice do orgasmo é considerado como um estado de êxtase.
Algumas doutrinas, como o budismo, por exemplo, utilizam técnicas de meditação e relaxamento para atingir o “nirvana”, ou seja, encontrar uma condição emocional capaz de despertar a sensação de grande paz e ausência total de tristeza ou sofrimento. O termo “nirvana” tem origem no sânscrito, podendo ser traduzido por “extinção” no sentido de “cessação do sofrimento”.
Nirvana é uma palavra do contexto do Budismo. Significa o estado de libertação atingido pelo ser humano ao percorrer sua busca espiritual. Indica um estado eterno de graça. Também é visto por alguns como uma forma de superação do karma.
É uma renúncia ao apego material. Este não eleva o espírito e apenas traz sofrimento. Através da meditação se consegue percorrer os passos fundamentais para chegar ao nirvana, considerado como a última etapa a alcançar pelos praticantes da religião.
Para os materialistas ateus – ateu sou, materialista tenho dúvidas –, nirvana é utilizado em um sentido mais geral para designar alguém em estado de plenitude e paz interior, sem se deixar afetar por influências externas. Também se emprega com o sentido de aniquilamento de certos traços negativos da própria personalidade, porque a pessoa consegue se livrar de tormentos como orgulho, ódio, inveja ou egoísmo. Estes sentimentos afligem o ser humano, impedindo-o de viver em paz. No entanto, em sentido figurado, nirvana muitas vezes é uma palavra usada com um sentido depreciativo, indicando um estado de apatia ou inércia.
Baseando-se em extensa pesquisa, Mihaly Csikszentmihalyi explica como este estado prazeroso de “fluir” ou êxtase pode ser trazido por todos nós e não apenas deixado ao acaso. Cada um de nós tem o potencial de experimentar o fluir, seja no trabalho, no lazer ou em nossos relacionamentos. Através da compreensão do conceito de fluir, podemos aprender a viver em harmonia conosco, nossa sociedade e, finalmente, com o universo maior. Temos direito natural, desde o nascimento, ao estado de felicidade.
O verbo fluir tem significados figurados diversos:
- ter origem; provir, derivar, emanar, como em “várias consequências fluem de certas premissas”;
- diminuir de intensidade; desfazer-se;
- percorrer distâncias (no espaço ou no tempo) com rapidez; correr, circular.
Vamos deixar fluir a leitura de Fluir, a Psicologia da Felicidade. Vamos a usufruir, ou seja, ter o usufruto dela, estando na posse ou no gozo de algo inalienável: conhecimento. Fruição é o ato de aproveitar satisfatória e prazerosamente alguma coisa… como a vida.
Flow: A Psicologia da Felicidade publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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