quinta-feira, 4 de abril de 2019

Apreciação e Qualidade de Vida

Obs.: no gráfico acima com graus de desafios e habilidades combinados em dois eixos, se traduz boredom como tédio, arousal como excitação, e worry como preocupação.

Mihaly Csikszentmihalyi, no livro “Fluir: A Psicologia da Felicidade” (London: Rider; 2017), diz existirem duas estratégias principais que podemos adotar para melhorar a qualidade de vida com fluidez.

O primeiro é tentar fazer as condições externas corresponderem aos nossos objetivos.

A segunda é mudar a forma como vivenciamos as condições externas para elas se ajustarem melhor aos nossos objetivos.

Por exemplo, sentir-se seguro é um componente importante da felicidade. A sensação de segurança pode ser melhorada comprando uma arma, instalando fechaduras fortes na porta da frente, movendo-se para um bairro mais seguro, exercendo pressão política na Prefeitura para mais proteção policial ou ajudando a comunidade a se tornar mais consciente da importância da autoproteção por uma ordem civil. Todas essas respostas diferentes visam trazer condições no ambiente mais alinhadas com nossos objetivos.

O outro método pelo qual podemo-nos sentir mais seguros envolve modificar o que entendemos por segurança. Se alguém não espera segurança perfeita, reconhece os riscos serem inevitáveis ​​e consegue desfrutar de um mundo tal como ele é, longe do idealmente previsível, a ameaça de insegurança não terá uma chance tão grande de prejudicar a felicidade.

Nenhuma dessas estratégias é eficaz quando usada sozinha. Mudar as condições externas pode parecer funcionar primeiro, mas se uma pessoa não estiver no controle de sua consciência, os velhos medos ou desejos logo retornarão, revivendo as ansiedades anteriores. Não é possível criar uma sensação completa de segurança interna, mesmo comprando toda uma ilha caribenha e cercando-a com guarda-costas armados e cães de ataque.

O mito do rei Midas ilustra bem o fato de só controlar as condições externas não necessariamente melhora a existência. Como a maioria das pessoas, o rei Midas supôs: se ele se tornasse imensamente rico, sua felicidade estaria garantida. Então ele fez um pacto com os deuses. Depois de muito pechinchar, eles concederam seu desejo de tudo tocado por ele se transformar em ouro. O rei Midas achou ter feito um acordo absolutamente de primeira linha. Nada impedia ele se tornar o homem mais rico e, portanto, o homem mais feliz do mundo. Mas sabemos como a história termina: Midas logo se arrependeu de sua barganha porque a comida em sua boca e o vinho em seu paladar se transformaram em ouro antes dele poder engoli-los. Então, ele morreu cercado por pratos dourados e taças de ouro.

A velha fábula continua a ecoar pelos séculos. As salas de espera dos psiquiatras estão cheias de ricos e outros pacientes bem-sucedidos. Eles, aos quarenta ou cinquenta anos, despertam repentinamente, na crise da meia-idade, para o fato de uma casa suburbana luxuosa, carros caros e até mesmo uma educação da Ivy League não serem suficientes para trazer paz de espírito.

No entanto, as pessoas continuam esperando a mudança das condições externas de suas vidas fornecer uma solução. Se elas pudessem ganhar mais dinheiro, estar em melhor forma física ou ter um parceiro mais compreensivo, elas supostamente teriam feito isso. Mesmo se reconhecermos o sucesso material não necessariamente trazer felicidade, nos envolvemos em uma luta sem fim para alcançar objetivos externos, esperando eles serem capazes de melhorarem nossa vida.

Riqueza, status e poder se tornaram em nossa cultura símbolos muito poderosos de felicidade. Quando vemos pessoas ricas, famosas ou de boa aparência, tendemos a supor suas vidas serem muito gratificantes, mesmo quando todas as evidências apontem para o fato delas serem miseráveis. E assumimos sem refletir muito: se pudéssemos adquirir alguns desses mesmos símbolos, seríamos muito mais felizes.

Se realmente conseguirmos nos tornar mais ricos, ou mais poderosos, acreditamos, pelo menos por um tempo, a vida como um todo melhoraria. Mas os símbolos podem enganar: eles tendem a nos distrair em relação à realidade – e não a representar. E a realidade é: a qualidade de vida não depende diretamente do pensado pelos outros pensam de nós ou do possuído por nós. É, sim, como nos sentimos sobre nós mesmos e sobre o que acontece conosco. Para melhorar a vida, é preciso melhorar a qualidade da experiência.

Isso não quer dizer dinheiro, aptidão física ou fama serem irrelevantes para a felicidade. Podem ser bênçãos genuínas, mas somente se ajudarem a nos fazer sentir melhor. Caso contrário, eles são, na melhor das hipóteses, neutros, na pior das hipóteses, obstáculos para alcançar uma vida recompensadora.

Pesquisas sobre felicidade e satisfação com a vida sugerem, em geral, existir uma leve correlação entre riqueza e bem-estar. As pessoas em países economicamente mais ricos tendem a se considerar mais felizes em lugar das pessoas em países menos ricos.

A pesquisa World Happiness Report de 2018, relatório mundial de felicidade realizado por uma rede da ONU, identificou, dentre 156 países, a Finlândia como o lugar mais feliz do mundo. O foco principal do estudo este ano, além dos níveis gerais e mudanças da felicidade, foi a imigração. Apesar de ser novidade a Finlândia no primeiro lugar, o top 10 continua o mesmo dos últimos dois anos.

Todos os dez primeiros colocados da lista tendem a atingir altos níveis de satisfação nas seis variáveis mais importantes para o bem-estar da população:

  • Média salarial;
  • Expectativa de vida saudável;
  • Apoio social;
  • Liberdade;
  • Confiança;

Os dez países mais felizes do mundo em 2018 segundo o World Happiness Report:

  • Finlândia
  • Noruega
  • Dinamarca
  • Islândia
  • Suíça
  • Holanda
  • Canadá
  • Nova Zelândia
  • Suécia
  • Austrália

As mudanças entre os países mais felizes do relatório são bem pequenas, mas suficientes para mudar a posição deles entre as dez principais. No entanto, Togo, na África Ocidental, foi o país com maior melhoria em relação à última pesquisa, subindo 17 posições. Na outra ponta, a Venezuela, às beiras de uma guerra civil, mais decaiu: 2,2 pontos em uma escala de 0 a 10.

A felicidade pode mudar – e de fato muda – de acordo com a qualidade da sociedade na qual as pessoas vivem. A felicidade dos imigrantes depende dos mesmos fatores sociais que a dos nativos. Os países com a população mais feliz não são os mais ricos e sim os que apresentam um conjunto mais equilibrado de suporte social e institucional para uma vida melhor.

Ed Diener, pesquisador da Universidade de Illinois, descobriu: as pessoas muito ricas relatam ser felizes em média 77% do tempo, enquanto pessoas de riqueza média dizem ser felizes apenas 62% do tempo. Esta diferença, embora estatisticamente significativa, não é muito grande, especialmente considerando o grupo muito rico foi selecionado de uma lista dos quatrocentos americanos mais ricos.

Também é interessante notar nem um entrevistado no estudo de Diener acreditava em o dinheiro por si só garantir a felicidade. A maioria concordou com a afirmação: “O dinheiro pode aumentar ou diminuir a felicidade, dependendo de como é usado”.

Em um estudo anterior, Norman Bradburn descobriu o grupo de renda mais alta relatar ser feliz 25% mais tempo se comparado ao de menor renda. Novamente, a diferença estava presente, mas não era muito grande. Em uma pesquisa abrangente intitulada A Qualidade da Vida Americana, publicada há uma década, os autores relatam: a situação financeira de uma pessoa é um dos fatores menos importantes entre aqueles capazes de afetar a satisfação geral com a vida.

Dadas essas observações, em vez de se preocupar em “como ganhar um milhão de dólares” ou “como ganhar amigos e influenciar pessoas”, parece mais benéfico descobrir como a vida cotidiana pode ser mais harmoniosa e mais satisfatória, e assim alcançar por uma rota direta o que não pode ser alcançado através da busca de atalhos tortuosos para alcançar metas simbólicas, mas ilusórias.

Apreciação e Qualidade de Vida publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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