sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Sete Pecados da Língua

Em vez em quando gosto de ler a Dad Squarisi. Eu conheci suas dicas quando morei em Brasília e lia seus artigos no Correio Braziliense, onde é Editora de Opinião. Um aprendizado recente com livro dela foi eliminar o “queísmo”. Pode reparar, hoje fujo dos “que(s)” como o diabo da cruz! E o abuso deles em textos de outros autores, principalmente de jornalistas, me incomoda muito.

Desta feita fui ler seu livro “Sete pecados da língua” (SP: Editora Contexto; 2017). Saí de sua leitura um pouco desapontado. Para não deixar de registrar alguns conselhos, resumo seu último capítulo, denominado “A oitava maravilha da língua”. Na verdade, são dez mandamentos para a boa escrita.

1 Seja adequado

Confundir as vestes tem nome. É inadequação. O mesmo princípio orienta o texto. Horóscopo exige palavras genéricas. Reportagens, fatos e vocábulos concretos. Salas de bate-papo, abreviaturas inventadas, troca de letras, signos incompreensíveis a muitos mortais. Não se trata de certo ou errado. Mas do português adequado à ocasião.

2 Seja claro

Montaigne, há 400 anos, disse: o estilotem três virtudes. A primeira: clareza. A segunda: clareza. A terceira: clareza. Graças a ela, o receptor entende a mensagem sem ambiguidades.

3 Seja preciso

A precisão tem íntima relação com as palavras. Buscar o vocábulo certo para o contexto é trabalho árduo. Exige atenção, paciência e pesquisa. Consultar dicionários, textos especializados e profissionais da área deve fazer parte da rotina de quem escreve.

Quem fala de Economia, por exemplo, tem de distinguir o significado de salário, vencimento, provento, pensão, subsídio ou verba de representação. Uma reportagem sobre política não pode dizer que os deputados vetaram um projeto: quem veta é o presidente da República. A Câmara rejeita.

4 Seja natural

Imagine o leitor estar à sua frente conversando com você. Sinta-se à vontade. Faça pausas e perguntas diretas. Dê ao texto um toque humano. Você se dirige a pessoas de carne e osso.

5 Seja fácil

No mundo de corre-corre, queremos textos curtos, precisos e prazerosos. Facilidade fisga. Para chegar lá, opte por palavras familiares. As longas e pomposas são pragas. Em épocas passadas, quando a língua era instrumento de exibição, gozavam de enorme prestígio. Falar difícil dava mostras de erudição. Impressionava.

Hoje a realidade mudou. E-mail, Twitter e WhatsApp exigem rapidez. Prefira a ordem direta. Evite intercalações. Vacine-se contra redundâncias, pedantismo e verborragia. Escreva frases curtas. “Uma frase longa”, escreveu Vinicius, “não é nada mais que duas curtas.”

6 Seja leve

Não canse. Respeite o tempo, os ouvidos e o bom gosto do leitor. Busque a frase elegante, capaz de veicular com clareza e simplicidade a mensagem que você quer transmitir.

7 Seja respeitoso

Boa parte das pessoas se indigna com palavrões, obscenidades e expressões chulas. Só os acolha em situações excepcionais.

8 Seja surpreendente

Surpresa chama a atenção e desperta a curiosidade. É o gosto pelo inusitado. Fuja dos modismos e chavões. Eles roubam a força e o frescor. Pontapé inicial, abrir com chave de ouro, chorar um rio de lágrimas, ver com os próprios olhos, cair como uma bomba e cia. foram surpreendentes algum dia. Hoje soam como coisa velha. Clichês transmitem a ideia de escritor preguiçoso, desatento ou malformado. Em suma: incapaz de surpreender.

9 Seja dinâmico

Só o movimento mantém viva a língua. Frases mornas e tediosas afugentam o leitor. Seja dinâmico. Vá logo ao ponto. Abuse de verbos e substantivos. Prefira a voz ativa. Evite palavras pomposas. Varie o vocabulário, as estruturas e o tamanho da frase.

10 Seja gentil

As palavras carregam carga ideológica. Algumas mais; outras menos. A sociedade está atenta aos vocábulos reforçadores de preconceitos. Fuja deles. Cor, idade, peso, altura, origem e preferências sexuais são as principais vítimas.

Gentileza não se restringe a palavras. Atinge períodos, parágrafos, chega ao texto completo. Ao se expressar, comece bem, de forma atraente, de modo a despertar o interesse e estimular a vontade de chegar ao fim. Aí, ofereça o prêmio cuidadosamente escolhido: um fecho tão forte quanto a introdução.

Só.

Sete Pecados da Língua publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



Nenhum comentário:

Postar um comentário