Maurício Hissa (Bastter), no livro “Eu Quero Ser Rico: O Passo a Passo para Alcançar a Independência Financeira”, publicado em 2014, afirma: “não há atalho. A fórmula da riqueza prevê que você poupe todo mês, invista todo mês, e se aproveite dos juros compostos no longo prazo”.
As pessoas vivem atrás de métodos maravilhosos de enriquecimento e dispensam o único realmente maravilhoso: a poupança mensal, o investimento mensal, e o benefício dos juros compostos a trabalharem para você.
Antes de tudo, é preciso aceitar a realidade: os retornos correspondem aos riscos.
A taxa de juros paga pelos bancos seguros em cima do dinheiro depositado corresponde no máximo ao CDI (Certificado de Depósitos Interbancários) para grande volume de negócios. Essa é a taxa formada nas operações diárias do mercado interbancário– onde cada banco deficitário, em dado momento, capta de outro superavitário –, usada como referência para avaliar a rentabilidade das aplicações em FIFs, CDBs, LCI/LCAs.
Se os bancos de varejo grandes (“big five”) pagam aproximadamente o CDI, como um banco, por que alguém, ou qualquer instituição, pagaria mais em relação ao CDI em um investimento seu? No varejo, os bancos grandes pagam menos em relação ao CDI ou à SELIC, custo para tomar dinheiro emprestado junto ao Banco Central do Brasil.
É necessário por quem deseja ficar rico aceitar não haver mágica, só há uma forma: aumentando o risco, acontece até no caso de um embuste criminoso não durável.
Se “uma banqueta” paga o prometido e o prometido é muito acima do CDI, isso só comprova alguma fraude, em vez de comprovar a honestidade do negócio. Há investimentos de risco capazes de pagar, por alguns meses, bem mais em relação ao CDI, mas terão também períodos de perdas. Sua capitalização deve ser realizada em longo prazo de forma contínua, evitando grandes oscilações, isto é, riscos de perdas.
“É muito fácil enganar as pessoas, pois elas desejam ser enganadas, não querem aceitar a realidade. Quantos e quantos poderiam ser ricos se não tivessem ido atrás da riqueza fácil e rápida. Produziram bastante dinheiro durante a vida, mas por serem mal orientadas e por estarem sempre atrás de alguma ilusão, quase todo o dinheiro foi perdido em negócios ilusórios de 4% ao mês, consumo de porcarias, pagamento de juros e carnês, custo dobrado de tudo que se compra a prazo em milhares de prestações, etc.”
Quem vai atrás dos atalhos se perde em meio à fantasia e, junto com isso, vai embora seu dinheiro. Quem segue o caminho da poupança e do investimento em juros compostos vai enriquecendo progressivamente.
Não é errado assumir um risco maior em busca de um retorno maior, se souber o que está fazendo e tenha capital (e equilíbrio emocional) para suportar as variações. Investir em ações nada mais é do que isso, ao menos no curto prazo. Por essa razão, é recomendável fazer uma reserva emergencial em renda fixa antes de começar a aplicar em ações. Senão, o risco maior das ações no curto prazo pode fazer você ter de vender as ações em baixa se colocar dinheiro do qual precisará.
“A maioria dos seres humanos tem cabeça de jogador. Poucos são os que têm cabeça de poupador. O ser humano (que costumo chamar “seromano”), quando entra na bolsa de valores, por exemplo, não pensa: “Vou me tornar sócio de grandes empresas, vou usar a bolsa como instrumento de poupança.” A grande maioria pensa: “Oba, descobri uma forma de ficar rico fácil. Basta eu comprar no fundo e vender no topo e pronto. Em poucos meses fico rico. Vou largar o emprego!”
Depois de sofrer muitas decepções na ilusão de ficar rico fácil, na bolsa de valores, uma minoria até aprende, mas a grande maioria vai embora chamando a bolsa de cassino. E para voltar só durante a próxima alta já consolidada e à véspera de sua reversão para a baixa…
Bolsa de Valores não é cassino. Na verdade, “você pode perfeitamente frequentar um cassino apenas para se divertir, gastando um pouco de dinheiro e indo lá algumas vezes como se vai a um cinema ou a um show.”
“O jogador sempre encontrará um lugar para jogar, pois não precisa do cassino. O cassino está dentro dele. O poupador, o investidor, aquele que não tem cabeça de jogador, pode viver dentro de um cassino que não jogará.”
O problema é o ser humano e sua cabeça de jogador. A solução nunca está em atacar o instrumento, mas sim mudar o comportamento, via Educação Financeira, de quem o opera.
Para enriquecer é necessário ter alguma ambição, desejar mais, querer crescer, etc. O problema surge quando a ambição foge ao controle, quando não há planejamento, quando se almeja ganhar muito sem considerar os riscos: a ambição sem qualquer controle. A chamada ambição desmedida.
Quando se chega ao dinheiro, existe sim Matemática Financeira e Teoria da Probabilidade. Estuda-se Finanças Comportamentais parar as emoções ficarem sob controle.
A ambição desmedida causa danos. Vem da falta de planejamento financeiro e de se desconsiderar os riscos. O ambicioso desmedido pensa em ganhar muito – e rapidamente. Para esse autoengano, faz qualquer coisa por instinto e apaga os riscos de sua mente.
A “sorte do iniciante” ocorre quando o amador entra na bolsa de valores, durante uma tendência de alta generalizada, ganha logo e se sente todo poderoso distinto dos demais investidores por eles já terem amargado perdas. Insiste em ficar lá, dando dicas para os outros, até perceber a reversão. Aí persevera e agrava suas perdas de capital até ter a humildade de sair, realizando-as.
“Há de se manter sempre certo grau de humildade perante o dinheiro e os negócios. Se você está ganhando dinheiro não quer dizer necessariamente que é mais esperto que os outros ou que descobriu um caminho sem erro. O dinheiro é um só e, da mesma forma que ele está vindo para você neste momento, ele pode tomar outro rumo em um futuro próximo”.
Outro grave dano causado pela soberba é a ilusão de os ganhos serem constantes e permanentes. Assim, não há mais a necessidade de poupar. O “esperto” começa a gastar em consumismo desenfreado, muda seu padrão de vida e, quando a realidade aparece na forma da correção das probabilidades, não sobra nada. Em caso de soberba, “o dinheiro não aceita desaforo”.
Oráculo é quem cai sempre na armadilha da previsão do futuro. “Como o ser humano é naturalmente orientado por resultados nasce um messias, um salvador, um gênio a cada mês. Com diversos charlatões fazendo centenas de previsões sobre o futuro, é natural um acertar. Este sortudo passa a ser o gênio da vez, vende bastantes livros e cobra milhares de dólares por entrevistas ou palestras, até ser substituído pelo próximo.
Acompanhando e seguindo esses profetas, “o seromano” começa, ele mesmo, a prever o futuro e tem o azar de acertar algumas vezes, o que fará basear seus investimentos e negócios em previsões. Ele cai na fantasia de acertar o momento de comprar e de vender – Market timing–, o momento de entrar em um negócio e o momento de sair. Infelizmente é da natureza do “seromano” comum comprar caro no meio da euforia e vender barato em meio à depressão.
Outro componente emocional capaz de levar a prejuízos enormes são as tentativas de empatar ou “correr atrás do prejuízo”. Devido à perda da autoestima, diz: – “Só saio desse negócio depois que recuperar meu prejuízo!”
“Por que o prejuízo tem de ser recuperado naquele negócio específico? Pior, se é um negócio ruim, por que continuar nele atrás de um dinheiro que nem existe mais? Essa é uma das relações mais fortes e um dos maiores desvios mentais e emocionais criados nos negócios e nos investimentos, muito comum na bolsa de valores, quando o sujeito compra uma ação de uma empresa ruim, a ação cai e ele decide esperar ela voltar ao “empate” para sair.
É comum também não aceitar a existência de um só preço para a ação (ou qualquer outra coisa precificada por cotação em mercado secundário): é o preço capaz de encontrar alguém disposto a comprar e alguém aceitando vender. Não existe, para ações, carros ou qualquer bem, inclusive imobiliário, o preço pelo qual você comprou, o preço de custo em dado momento passado, o preço imaginado para comprar ou vender. Existe apenas o preço que estão pagando neste momento presente. Essa é a única realidade atual.
Daí o equívoco doconceito de empatar ou recuperar dinheiro perdido. Como recuperar algo não mais existente?
Bastter, no livro “Eu Quero Ser Rico”, recomenda: “não se deixe influenciar pelo que já teve ou pelo que deveria ter ou pelo que você acha que terá no futuro. Nada disso está sob seu controle. O que você controla são suas decisões e suas atitudes. Você pode poupar todo mês, investir e aumentar progressivamente seu capital. Você pode investir em sua capacitação e em seu desenvolvimento, pode trabalhar mais (em termos de eficiência e não necessariamente de horas) e melhor, pode poupar mais, se informar mais sobre como investir, se desenvolver como investidor. Tudo isso você pode. Mas você não tem controle algum sobre o que perdeu no passado ou sobre quanto ganhará no futuro.”
Sem Atalho para Enriquecimento publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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