quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

O que é Física Social?

Alex Pentland, no livro “Física Social: como boas ideias são disseminadas – as lições de uma nova ciência” (“Social Physics: How Good Ideas Spread-The Lessons from a New Science”. New York: The Penguin Press; 2014), define: Física Social é uma ciência social quantitativa capaz de descrever conexões matemáticas confiáveis ​​entre fluxo de informações e ideias, por um lado, e o comportamento das pessoas, por outro.

A Física Social nos ajuda a entender como as ideias fluem de pessoa a pessoa através do mecanismo de aprendizagem social e como esse fluxo de ideias acaba moldando as normas, a produtividade e a produção criativa de nossas empresas, cidades e sociedades. Isso nos permite prever a produtividade de pequenos grupos, de departamentos dentro de empresas e até de cidades inteiras. Também nos ajuda a sintonizar as redes de comunicação para podermos tomar melhores decisões de maneira confiável e mais produtiva.

Os principais insights obtidos com a Física Social, todos têm a ver com o fluxo de ideias entre as pessoas. Esse fluxo de ideias pode ser visto no padrão de chamadas telefônicas ou mensagens de mídia social, é claro, mas também avaliando quanto tempo as pessoas passam juntas e se elas vão para os mesmos lugares e têm experiências semelhantes.

Como veremos, os fluxos de ideias são centrais para entender a sociedade não apenas porque a informação oportuna é essencial para sistemas eficientes, mas, mais importante, porque a disseminação e a combinação de novas ideias é aquilo capaz de impulsionar a mudança de comportamento e a inovação.

Esse foco no fluxo de ideias é o motivo pelo qual Alex Pentland escolheu o nome “Física Social”. Assim como o objetivo da física tradicional é entender como o fluxo de energia se traduz em mudanças no movimento, a física social procura entender como o fluxo de ideias e informação traduz-se em mudanças no comportamento.

Como um exemplo de física social em ação, considere o comportamento dos operadores do mercado financeiro. Eles compartilham dicas sobre uma rede social. Há momentos quando muito poucos traders lucram muito, resultados ruins para os traders e seus corretores. Eles perdem seus negócios quando desistem. Para melhorar os resultados dos traders, os corretores tentaram soluções padrão, como tentar melhorar o conhecimento e a experiência dos traders. Esses remédios tradicionais têm algum efeito: em um caso, o desempenho de um grupo de traders aumentou cerca de 2%.

Mas, então, um corretor concordou em permitir o laboratório de pesquisa do MIT tentar uma abordagem de física social, recorrendo aos seus modelos matemáticos de como as ideias se espalham pelas redes sociais. Analisando as milhões de mensagens detalhadas entre os comerciantes, em uma rede social, Alex Pentland descobriu os efeitos da influência social dentro da rede serem muito fortes, causando o fenômeno chamado de comportamento de manada, no qual os comerciantes reagiam exageradamente um ao outro, e assim todos tendiam a adotar a mesma estratégia de negociação.

A matemática da física social indicou a melhor abordagem para corrigir esse problema era mudar a rede social, a fim de retardar a disseminação de novas estratégias dentro dela. Quando Alex Pentland implementou essa mudança, ela dobrou o retorno médio do investimento, deixando as abordagens econômicas padrão “na poeira”.

“Diminuir a disseminação de ideias não é algo encontrado em um manual de gerenciamento padrão. Esse resultado não foi acidental, porque tivemos análises matemáticas baseadas em milhões de bits de dados. Elas nos permitiram planejar intervenções precisas e prever com precisão qual seria o resultado. Essas equações fazem parte da matemática da física social.”

O nome física social tem uma longa história. Seu uso original foi no início de 1800, quando, usando uma analogia derivada da física newtoniana, a sociedade foi conceituada como uma vasta máquina. Mas a sociedade simplesmente não é muito maquinal ou mecânica.

Em meados do século XX, houve uma segunda onda de interesse pela Física Social, quando se descobriu muitos indicadores sociais terem regularidades estatísticas, como certa distribuição e a Lei da Gravidade. Em paralelo, os cientistas sociais refinaram teorias sobre o básico.

Mais recentemente, vimos uma onda de “sociofísica”, através da qual descobrimos regularidades estatísticas no movimento e na comunicação humanos, e correlações interessantes com indicadores econômicos. Como consequência desses novos tipos de dados, as teorias das Ciências Sociais tornaram-se muito mais quantitativas.

Nenhum desses esforços, no entanto, realmente atinge o mecanismo impulsionador das mudanças sociais. Ele é a causa dessas regularidades estatísticas. Tanto a teoria quanto a descrição matemática permanecem fragmentadas e difíceis de aplicar a problemas práticos. Precisamos ir além da mera descrição dos fenômenos sociais para construir uma teoria causal da estrutura social.

O progresso no desenvolvimento representa passos em direção ao chamado por David Marr de uma Teoria Computacional do Comportamento: uma explicação matemática de por que a sociedade reage da maneira como ela faz e como essas reações podem (ou não) resolver problemas humanos.

Esse tipo de Teoria Computacional do Comportamento se concentra no processo gerativo humano. É o necessário para construir sistemas sociais melhores. Tal teoria poderia unir mecanismos de interações sociais com os dados massivos de comportamento recém-adquiridos, a fim de projetar sistemas sociais melhores.

Este livro apresenta o início de uma teoria prática e baseia-se em uma série de trabalhos de Alex Pentland publicados recentemente nos principais periódicos científicos do mundo. Essa teoria é uma família enganosamente simples de modelos matemáticos. Pode ser explicada em inglês simples e fornece uma explicação razoavelmente precisa para as dezenas de exemplos do mundo real descritos neste livro.

Esses exemplos incluem: tomada de decisão financeira (incluindo fenômenos como bolhas); “ponto de inflexão” – estilo de mudança de comportamento com recrutamento de milhões de pessoas para ajudar em uma busca, para economizar energia, ou para sair e votar; bem como a influência social e seu papel na formação de visões políticas, comportamento de compra e escolhas de saúde.

O teste final de uma teoria prática, é claro, é se pode ou não ser usada para moldar os resultados. É boa o suficiente para engenharia?

Para responder a essa pergunta, Alex Pentland mostra neste livro como essa nova teoria já está sendo usada para criar melhores empresas, cidades e instituições sociais. Quase exclusivamente entre as Ciências Sociais, essa nova estrutura de Física Social fornece resultados quantitativos em escalas múltiplas: variam de pequenos grupos a empresas, a cidades e até a sociedades inteiras. Atualmente, uma estrutura de Física Social está em uso diário em várias implantações comerciais, atendendo a dezenas de milhões de pessoas em tarefas como investimento financeiro, monitoramento da saúde, marketing, melhoria da produtividade da empresa e aumento da produção criativa.

No final, porém, a importância de uma Ciência da Física Social não terá apenas sua utilidade em fornecer previsões matemáticas precisas e úteis. Se a Física Social é apenas matemática complexa, então seu uso será restrito a especialistas especialmente treinados.

Seu impacto final também depende dela oferecer às pessoas – por exemplo, líderes do governo e da indústria, acadêmicos e cidadãos comuns – uma linguagem melhor em relação ao antigo vocabulário de mercados e classes, capital e produção. Palavras como “mercados”, “classes políticas” e “movimentos sociais” moldam nosso pensamento sobre o mundo. Eles são úteis, é claro, mas também representam um pensamento excessivamente simplista. Eles, portanto, limitam nossa capacidade de pensar com clareza e eficácia. Neste livro, Alex Pentland apresentará um novo conjunto de conceitos com os quais podemos discutir com mais precisão nosso mundo e planejar o futuro.

O que é Física Social? publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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