Alex Ribeiro (Valor, 20/02/2020) informa: um estudo feito por três economistas do Banco Central mostra os bancos privados adotarem a estratégia de primeiro cortar os juros dos empréstimos para seduzir novos clientes e, logo depois, subir as taxas a percentuais ainda maiores para extraírem lucros excessivos.
Eles examinaram 13 milhões de operações da base de dados do BC e constataram que, para atrair novos clientes empresariais, os bancos privados oferecem um spread bancário 0,32 ponto percentual menor do que os concorrentes. Mas, no sexto empréstimo, os bancos já cobram um spread 0,5 ponto maior; e, na 15a operação, 1 ponto mais alto. A estratégia — conhecida como “atraia e extraia rendas” — afeta mais as microempresas. Elas pagam spread 1,5 ponto maior na quarta operação. A partir da 18a, o sobrepreço é ao menos 4,5 ponto.
Os empresários não têm muita alternativa para fugir dos custos. Ao migrarem a outro banco com quem já tiveram relacionamento, pagam spreads 0,15 ponto maiores. Essa é uma evidência, segundo os pesquisadores, de que os bancos exercem poder de mercado sobre os clientes porque têm acesso a informações exclusivas sobre eles.
Nos bancos públicos, ocorre algo diferente: os spreads são menores não apenas no primeiro empréstimo, mas também nos subsequentes. São 2 pontos percentuais mais baratos na 20a operação. A partir da 38a, as instituições oficiais retiram um pouco do ganho concedido aos clientes, mas os custos seguem abaixo da primeira operação.
O estudo é de autoria dos economistas do BC José Renato Haas Ornelas, Marcos Soares da Silva e Bernardus Van Doornik. Como de costume, foi publicado com a ressalva de que não reflete necessariamente a visão da autoridade monetária. Apesar disso, as conclusões dão suporte à agenda do BC para ampliar a concorrência bancária. Comprovam a tese de que a abertura de informações dos clientes por meio do chamado “open banking” poderá contribuir para derrubar os spreads.
“As iniciativas de open banking podem fazer as informações mantidas por bancos incumbentes fluírem para outras instituições financeiras, de forma que as empresas poderão obter taxas de juros mais favoráveis”, dizem os economistas, no estudo. O open banking vai abrir a bancos menores e fintechs o acesso a informações da base de dados dos grandes bancos de varejo (com a autorização dos clientes) para ofertar produtos financeiros.
O estudo resolve uma controvérsia teórica entre os especialistas. Nem todos concordam com a tese de o compartilhamento de informações poderá ser benéfico para os clientes. Alguns acham: a exigência poderá levar a uma restrição de crédito.
Uma corrente teórica alerta, ao terem acesso exclusivo de informações, os bancos acumulam poder de mercado de modo a permitir extrair lucros mais altos. Por isso, defendem: a abertura de informações vai baixar custos e ampliar a oferta de crédito.
A outra corrente diz: para o mercado de crédito funcionar, os bancos devem ter algum poder de mercado. Isso porque, segundo essa tese, eles primeiro fazem um investimento acumulando informações sobre os novos clientes. Depois precisam ser pagos com juros mais altos.
O estudo mostra, porém, os bancos extraírem lucros excessivos depois de capturar o novo cliente. Eles superam muito os iniciais em acumular informações. “Embora os bancos privados possam acumular informação durante seu relacionamento com as empresas, reduzindo a assimetria de informação, esses ganhos de eficiência não são repassados para o cliente”, conclui.
Concorrência bancária e custo do crédito
Este estudo do BCB (clique no link acima) investiga os efeitos da concorrência bancária em mercados locais, com ênfase no seu impacto no custo e volume do crédito. Para tal, são explorados episódios de fusões e aquisições (F&As) de bancos com ampla atuação geográfica que alteram a estrutura de mercados bancários locais no Brasil. Por meio de metodologia de diferenças-em-diferenças, compara-se a variação do custo e volume do crédito para empresas nas localidades afetadas pelos eventos de F&A – isto é, localidades onde houve redução do número de bancos – com a variação observada em localidades que não foram afetadas pelos eventos de F&As. Os principais resultados são:
- Competição importa: a diminuição da competição bancária no nível do município reduz a oferta de crédito e eleva os spreads cobrados localmente.
- Esse efeito anticoncorrencial só é estatisticamente relevante em municípios onde o grau de competição era inicialmente baixo.
- Quando já há mais competição no mercado local ou quando não há alterações na competição, os atos de concentração produzem ganhos de escala e eficiência produtiva que podem compensar seus potenciais efeitos anticoncorrenciais.
- Tecnologias que eliminem a dimensão geográfica podem contribuir significativamente para a ampliação do crédito e redução do seu custo, na medida em que permitem maior concorrência sem a necessidade de presença física em cada localidade.
Spread Elevado no Refinanciamento publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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