sábado, 7 de março de 2020

Quadro da Política de Complexidade

Para todo problema complexo,
há uma resposta clara, simples e errada
. (H. L. MENCKEN)

David Colander e Roland Kupers são coautores do livro “Complexity and the Art of Public Policy: Solving Society’s Problems from the Bottom Up” (Princeton University Press, 2014). Descrevem os quadros de política fundamentalista de mercado e de controle de estado, para explicar detalhadamente o quadro de política de complexidade.

A primeira coisa a observar sobre o quadro de políticas em complexidade é, embora o fundamentalista de mercado e o modelo de controle estatal tenham chegado a respostas definitivas simples às políticas, o quadro de políticas considerando a complexidade não. Não é possível dizer uma política ser teoricamente melhor em lugar de outra. Para a Ciência da Complexidade, a política não possui uma resposta teórica definida.

Seu quadro recebe orientação da teoria, mas não prescreve respostas definitivas. As decisões políticas fazem parte de um conjunto de decisões em evolução, sendo tomadas em um complexo sistema em evolução.

Qualquer decisão tomada em determinado momento se baseia em um conjunto de decisões em desenvolvimento, tomadas no passado, e terá consequências desconhecidas para decisões futuras. Está sendo feito de maneira distante de um conhecimento perfeito de um processo em permanente andamento. A política de complexidade fornece amplas opções e ideias para novas direções criativas na política, não recomendações precisas.

O fato de as decisões em sistemas complexos serem tão incertas e difíceis de tomar não significa se dever evitar lidar com elas matematicamente e cientificamente. Pelo contrário, ela permite modelos matemáticos muito mais complicados, pois os modelos são usados ​​para uma finalidade diferente.

Os economistas visam não descrever com precisão o mundo real, mas entender a topografia da paisagem sob o sol. Os modelos matemáticos estão tentando mapear diferentes tipos de topografia, o que poderia ser útil ao procurar as chaves de política, mas eles não representam a pesquisa completa das chaves.

As respostas da política podem ser encontradas apenas por aqueles capazes de pesquisar no escuro, o que envolve lidar com toda a complexidade do sistema. O fato de alguém estar usando os modelos principalmente para orientação, e não para prescrições, lhe dispensa de forçar os modelos a ter relevância política direta.

Isso é uma das principais razões para os problemas com os modelos econômicos existentes. Em vez disso, pode-se usar matemática de nível superior, dependendo da tarefa.

Em termos técnicos, em vez de usar modelos de equilíbrio estático, possíveis de ser resolvidos analiticamente, é possível usar modelos dinâmicos não-lineares. Eles estão além da solução analítica, mas sobre eles as ferramentas computacionais podem lançar luz.

Como os coautores discutem em capítulos posteriores, a matemática de sistemas complexos em evolução é realmente difícil e ainda está em desenvolvimento. Por isso, no passado, economistas e outros cientistas sociais os evitavam.

É também por isso seus conselhos sobre políticas não terem sido especialmente úteis quando a solução exigia uma compreensão abrangente de nosso complexo sistema socioeconômico em evolução.

Atualmente, os formuladores de políticas contam com dois modelos muito mais simples:

  1. o modelo de política padrão vê o Estado como corrigindo falhas do mercado e
  2. o modelo fundamentalista de mercado enxerga apenas as falhas do governo.

No modelo de controle estatal, o mercado funciona muito bem por si só, e funcionaria perfeitamente, exceto por problemas de retornos crescentes, monopólio e as chamadas externalidades – resultantes de decisões que não envolveram o tomador de decisão. Isso deixa um papel para o Estado – impedir monopólios e corrigir externalidades.

Esse modelo domina as discussões sobre políticas. Assim, a política do governo é quase invariavelmente considerada com ele:

  1. controlando a economia,
  2. corrigindo externalidades,
  3. ajustando o sistema para aumentar os retornos ou
  4. regulando a economia por impostos ou regulamentos.

O mantra de política básica do modelo padrão é: precisamos de um governo fazer o sistema funcionar eficientemente, como o modelo padrão (ou a Economia Normativa) diz: o que deveria ser.

O modelo fundamentalista de mercado, por outro lado, integra o aspecto evolutivo do sistema econômico à sua visão de mundo. Ele vê a economia de mercado como auto-organizada e incontrolável.

Mas, para adoção desse modelo, é preciso ter uma visão muito simplória dessa evolução. Ele vê o mercado como evolutivo, mas o Estado, de alguma forma, está fora do sistema evolutivo. O resultado é os fundamentalistas do mercado verem o Estado como uma tentativa de fazer o impossível: “controlar” a evolução.

Assim, quase como uma reação instintiva, veem qualquer intervenção do Estado como prejudicando o sistema. Assim, sua conclusão política é manter o Estado fora da economia.

Muitos dos argumentos apresentados pelos fundamentalistas de mercado contra o controle do governo são baseados em uma visão implícita, mas limitada, da complexidade da economia. O que a moderna Teoria da Complexidade faz é levar o governo à evolução.

Essa reformulação pode ser vista como uma extensão do modelo fundamentalista de mercado: vê o sistema social como evolutivo, mas com uma reviravolta vê o Estado e outras instituições coletivas como tendo co-evoluído com as instituições de mercado. Eles foram desenvolvidos para auxiliar o mercado e, teoricamente, são tão necessários para o sistema em funcionamento quanto o mercado.

O quadro de complexidade da política pensa na política na estrutura coevolucionária. Nele, não há Mercado independente do Estado, e nenhum Estado independente do Mercado. Portanto, na estrutura da complexidade, a estrutura fundamentalista de mercado das questões políticas perde elementos centrais da nossa economia real.

Quadro da Política de Complexidade publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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