sexta-feira, 13 de março de 2020

Mais Além do Dinheiro: Instituições Em Busca de Benefício Social

David Colander e Roland Kupers, coautores do livro “Complexidade e arte das políticas públicas: resolvendo os problemas da sociedade de baixo para cima”, informam: a ideia de empreendedorismo social foi criada nos anos 80. Exemplos proeminentes são a Ashoka de Bill Drayton (https://www.ashoka.org/), uma rede global de empreendedores sociais. Muhammad Yunus ampliou o microcrédito em Bangladesh por meio de seu Grameen Bank, recebendo um Prêmio Nobel da Paz em 2006. Mas há muitos outros empreendedores sociais exemplares.

Nos campi das faculdades dos EUA, o empreendedorismo social evolui à medida que os alunos buscam maneiras de misturar seus objetivos sociais com seus objetivos materialistas. Eles querem fazer bem, mas também querem fazer o bem. Essa incapacidade de combinar harmoniosamente os dois nas instituições atuais é resolvida em instituições com fins lucrativos.

Como os coautores descrevem brevemente no capítulo 4, instituições com fins lucrativos são uma nova forma institucional. Ela combina os motivos sociais de uma organização sem fins lucrativos com os motivos de sustentabilidade financeira de uma organização com fins lucrativos. São organizações voluntárias, e não obrigatórias, formadas por pessoas para atingir seus fins sociais.

O objetivo pode ser fornecer educação de qualidade a baixo custo para os alunos ou treinar trabalhadores difíceis de empregar. Esses objetivos se tornam explícitos e iniciais em empresas com fins lucrativos e, dentro dessa estrutura, o empreendedor social descobre uma maneira de alcançar esses objetivos de maneira sustentável, usando o método de menor custo possível.

Então, onde está a política do governo? O papel do governo envolve tornar a estrutura legal e institucional amigável ao desenvolvimento dessas empresas com fins lucrativos.

Uma política estimulante para a criação de empresas com fins lucrativos é um exemplo da abordagem ativista do laissez-faire defendida pelos coautores. É uma política fiel à perspectiva de baixo para cima e se concentra em permitir as mudanças fundamentais na sociedade ocorrerem de baixo para cima. É uma política baseada em ações voluntárias.

Trata-se de uma política ecossistêmica de baixo para cima, destinada a transformar o poder do mercado em solução de problemas sociais, em oposição a apenas buscar resolver os problemas materiais de bem-estar individualista. Está na tradição altruísta pregada por John Stuart Mill e J. M. Keynes.

Seu objetivo é desenvolver normas sobre bem-estar material. Considera um problema a busca pela riqueza material dominar as metas sociais, quando a riqueza material não parece fazer as pessoas felizes além de um certo limite. É baseado no pressuposto de as pessoas terem objetivos sociais. Eles não estão sendo alcançados.

O motivo pelo qual as pessoas não demonstram sua natureza social tanto quanto gostaríamos não é a ausência de objetivos sociais, mas uma falha institucional. A atual estrutura institucional não incentiva o surgimento do lado social das pessoas. Não fornece um mecanismo através do qual os indivíduos possam alcançar seus fins sociais à medida que os veem.

Em vez disso, o governo determina e tenta resolver as necessidades sociais, segundo a visão parcial e interesseira do mandatário no Poder Executivo, minando as iniciativas de baixo para cima. Em lugar disso, as instituições atuais promovem uma cultura focada na primazia do bem-estar material.

Uma empresa com fins lucrativos trará o mesmo impulso empreendedor para alcançar fins sociais, como uma empresa com fins lucrativos para atingir fins materiais. É uma empresa onde a meta de lucro foi substituída por uma meta social incorporada ao DNA da empresa. Atingir esse objetivo social é a razão de sua existência.

Precisa gerar renda suficiente para cobrir seus custos e prever expansão e pode ter um excedente de receita sobre os custos. Mas esse excedente é direcionado para atingir as metas especificadas no estatuto da empresa.

Os coautores não estão argumentando todos os setores da economia deverem ser organizados como setores em busca de benefício social. Existem papéis importantes para fins lucrativos e para organizações sem fins lucrativos, dependendo da natureza do objetivo social e do grau de concorrência no mercado. Mas ambos terão de competir como empresas de modo a beneficiarem com a melhor parte de ambos.

O argumento ético teórico implícito para a empresa com fins lucrativos encontrado nos textos econômicos é essas empresas se tornam empreendedoras sociais com fins lucrativos quando fornecem bens bem definidos para atender aquilo desejado pelas pessoas, inerentemente, como comida e abrigo básicos. Isso ocorre quando existe concorrência significativa e quando a atividade não possui um grande componente social ou externalidade.

Dadas essas suposições, o argumento de Milton Friedman – a maximização do lucro ser a coisa moral a ser feita – faz sentido, porque maximizar o lucro maximiza uma medida razoável de bem-estar social. Essa foi a visão de Adam Smith sobre como a mão invisível do mercado funciona: dadas suposições apropriadas, “uma empresa com fins lucrativos é essencialmente uma empresa com fins lucrativos”.

Essas suposições foram incorporadas ao modelo padrão dos economistas apoiadores dos mercados. O problema é essas suposições raramente se mantêm.

A questão política é se elas são suficientemente convincentes para justificar o apoio a empresas em busca apenas de maximizar o lucro, no mundo real. Ou se agora podemos desenvolver empresas e normas capazes de levarem aos resultados sociais desejados, mesmo quando essas suposições não se sustentam.

O ativismo do laissez-faire é uma tentativa de criar um setor da economia propício a empresas com fins lucrativos, direcionadas a fins sociais, mesmo quando as premissas não se mantêm.

Empresas capazes de beneficiarem a sociedade não são simplesmente teóricas. Elas existem e os Estados estão revisando suas leis para serem mais favoráveis ​​a eles.

Há um debate animado entre legisladores, empreendedores com espírito social e especialistas em Direito sobre como estruturar leis para incentivar empresas empreendedoras sociais com benefícios. A maior parte dessa discussão foi da perspectiva de um praticante: como alterar as leis para permitir melhor as empresas com fins lucrativos cumprirem sua missão.

O interesse dos coautores aqui é da perspectiva de um formulador teórico de políticas sociais. Qual o papel das empresas, cuja meta é um benefício social, pode desempenhar na sociedade?

Acreditam esse papel pode ser importante e consideram as empresas capazes de beneficiarem a sociedade como uma evolução natural no cenário econômico. Elas permitem os mercados irem além do atendimento do bem-estar materialista (e individualista) para proporcionar bem-estar social de baixo para cima, assim como as empresas com fins lucrativos permitem os mercados fornecerem bem-estar materialista de baixo para cima.

Mais Além do Dinheiro: Instituições Em Busca de Benefício Social publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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