domingo, 22 de março de 2020

Ilusão durante o Boom e Desilusão durante a Depressão

Ludwig von Mises, em seu livro “Ação Humana: Um Tratado de Economia”, critica a expansão do crédito provocadora do boom artificial. A “normalização”, após uma Grande Depressão, é o status quo a ser mantido, segundo sua parolagem. A austeridade deve ser permanente! Viva a estagnação conservadora, quando não há novo valor adicionado e há maior concentração de riqueza dos compradores de ativos existentes.

Os defensores da alavancagem financeira ser o segredo do negócio capitalista apelam:

  • vejam as fabricas e as fazendas cuja capacidade de produzir não está sendo usada ou, pelo menos, não a plena capacidade;
  • vejam as pilhas de mercadorias invendáveis e as multidões de trabalhadores desempregados; e
  • vejam também como as massas populares ficariam felizes se pudessem satisfazer suas necessidades mais amplamente.

Só está faltando crédito. Crédito adicional possibilitaria aos empresários prosseguir ou ampliar a produção. O desempregado encontraria emprego de novo e poderia comprar os produtos. Esse raciocínio parece plausível. No entanto, Ludwig von Mises, essa argumentação a favor da expansão do crédito é absolutamente falsa!

Se as mercadorias não podem ser vendidas e os trabalhadores não conseguem achar emprego, a única razão possível é a de os preços e os salários pedidos estarem muito altos. Quem quiser vender seus estoques ou sua capacidade de trabalho terá de reduzir suas pretensões até encontrar um comprador. Essa é a Lei do Mercado.

Esse sistema de preços relativos é o expediente por meio do qual O Mercado orienta a atividade dos indivíduos de forma a melhor contribuir para a satisfação das necessidades dos consumidores.

Os maus investimentos do boom alocaram mal os fatores de produção não conversíveis em detrimento de outras alocações nas quais eram mais urgentemente necessários. Há uma desproporção na alocação dos fatores não conversíveis entre os vários setores da indústria.

Essa desproporção, devida à má alocação de capital, só pode ser corrigida pela acumulação de novo capital e pelo seu emprego naqueles setores onde está fazendo falta. É um processo lento.

Enquanto está em curso, é impossível utilizar plenamente a capacidade produtiva de algumas instalações para as quais faltam meios complementares de produção.

É inútil alegar também existir capacidade ociosa nas fábricas produtoras de bens cujo grau de especificidade é pequeno. Costuma-se dizer: “o baixo nível de vendas desses bens não pode ser explicado por uma desproporcionalidade do capital fixo dos diversos setores. Eles poderiam ser empregados em outros setores onde são necessários”. Isso também é um erro.

Se aciarias e usinas siderúrgicas de minas de cobre e serrarias não puderem funcionar a plena capacidade, a razão é uma só: não existem no mercado compradores em número suficiente para comprar toda a produção por preços superiores aos custos de exploração.

Como o variável custo só pode consistir em preços de outros produtos e salários, e como o mesmo é válido em relação ao preço desses outros produtos, chegamos inevitavelmente à conclusão de os salários são muito altos:

  • para todos aqueles com desejo de trabalhar encontrarem emprego e
  • para utilizar os equipamentos inconversíveis até o limite onde não se torne necessário retirar bens de capital não específico e mão de obra de outros empregos, onde atenderiam melhor as necessidades mais urgentes.

Depois do colapso do boom, só existe uma maneira de retornar a uma situação onde haja uma firme melhoria do bem-estar material: acumular capital, através de nova poupança, de modo a poder aparelhar adequada e harmoniosamente todos os setores da produção com os bens de capital necessários.

É preciso prover aqueles setores indevidamente negligenciados durante o boom com os bens de capital faltantes a eles. Os salários terão de baixar. As pessoas terão de restringir o consumo, temporariamente, até repor o capital desperdiçado nos maus investimentos.

“Quem não gosta dos incômodos do período de ajustamento deve impedir, a tempo, a expansão do crédito.” Esta é a máxima moralista de Ludwig von Mises. Sugere boa ser a economia estagnada em lugar da economia com grande dinamismo para elevação de sua renda per capita de maneira mais igualitária.

“Não adianta interferir no processo de ajustamento por meio de nova expansão de crédito. Na melhor das hipóteses, essas intervenções só conseguem interromper, perturbar e prolongar o processo curativo da depressão, se não chegarem a provocar um novo boom com todas as suas inevitáveis consequências.

O processo de ajustamento, mesmo não havendo uma nova expansão do crédito, se prolonga em decorrência dos efeitos psicológicos provocados pelo desapontamento e frustração. As pessoas demoram a se livrar da auto-ilusão de uma prosperidade irreal.

Os homens de negócio tentam continuar projetos não lucrativos. Tendem a não enxergar a realidade quando esta é desagradável.

Os trabalhadores não aceitam reduzir seus ganhos ao nível exigido pela situação do mercado. Querem, se possível, evitar uma diminuição do seu padrão de vida. Não querem mudar de emprego nem de local de residência.

Quanto maior tiver sido o seu otimismo nos dias do boom, maior será a sua resistência ao ajuste. Chegam a deixar passar boas oportunidades por terem perdido momentaneamente a autoconfiança e a capacidade de iniciativa.

Mas o pior é quando as pessoas são incorrigíveis. Depois de alguns anos redescobrirão a expansão do crédito e a velha história, uma vez mais, se repetirá.”

 

Ilusão durante o Boom e Desilusão durante a Depressão publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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