Daniel Yergin, no livro “A busca: Energia, Segurança e a Reconstrução do Mundo Moderno” (Rio de Janeiro: Editora Intrínseca; original “The Quest: Energy, Security, and the Remaking of the Modern World” publicado em 2011) dá continuidade ao seu magnífico livro “The Prize: The Epic Quest for Oil, Money & Power”. O Prêmio: A Épica Busca por Petróleo, Dinheiro e Poder. Nele, conta a história da indústria global de petróleo entre as décadas de 1850 e 1990. Sua primeira publicação foi outubro de 1990 (Editora Simon & Schuster; número de páginas: 912; Prêmio Pulitzer de Não-Ficção).
As crises de energia da década de 1970 combinaram-se à maior consciência ambiental para dar origem a uma série de novas opções energéticas, conhecidas primeiro como “energias alternativas” e, mais tarde, como “energias renováveis”. O termo abrange uma ampla gama de energias — eólica, solar, biomassa, geotérmica etc. O que lhes conferia um traço comum era o fato de não serem baseadas em combustíveis fósseis nem em energia nuclear.
Elas surgiram da agitação da década de 1970, cercadas de grande entusiasmo — “raios de esperança”, segundo uma famosa formulação. Entretanto, ao longo da década de 1980, as esperanças frustraram-se diante da queda nos custos da energia convencional, seus próprios desafios econômicos, a imaturidade da tecnologia e a decepção em seu emprego. Com preços moderados e a aparente restauração da estabilidade da energia, no início da década de 1990, as perspectivas das energias renováveis tornaram-se ainda mais desafiadoras.
Enquanto isso, a conscientização ambiental popularizava-se. Em geral, os problemas ambientais tradicionalmente eram locais ou regionais. Mas havia uma atenção crescente a um novo tipo de questão ambiental, uma questão planetária: a mudança climática e o aquecimento global.
A princípio, a atenção limitava-se a um segmento relativamente reduzido de pessoas. Em seu devido tempo, isso mudaria, com profundas implicações para a indústria de energia — convencional, renovável e alternativa.
Em outros aspectos, a combinação de políticas de energia lançadas na década de 1970 com a dinâmica do mercado havia funcionado. Diante de grande ceticismo, a eficiência energética — conservação de energia — tinha se revelado uma contribuição muito mais vigorosa para o mix de energia do que o previsto.
Ao mesmo tempo, a tecnologia estava elevando a segurança da oferta de petróleo de outra maneira — expandindo a variedade de brocas de perfuração e aumentando as reservas recuperáveis. A indústria petrolífera passava por um período de inovação, aproveitando os avanços nas comunicações, nos computadores e na tecnologia da informação para encontrar recursos e desenvolvê-los, na terra ou no mar.
Com muita frequência, na história da indústria do petróleo, diz-se que o avanço tecnológico chegou ao seu limite. O “fim da estrada” para o setor estaria bem ao alcance dos nossos olhos. Então, surgem inovações. Elas expandem radicalmente os recursos. Tal padrão se repete inúmeras vezes.
Os rápidos avanços no microprocessamento propiciaram a análise de uma quantidade muito maior de dados, permitindo aos especialistas em geofísica melhorar bastante a interpretação das estruturas subterrâneas e, assim, aumentar o sucesso da exploração. A maior capacidade de computação significou que o mapeamento sísmico das estruturas subterrâneas — os estratos, as falhas, as rochas capeadoras, as trapas — agora pode ser tridimensional, não mais bidimensional. Esse mapeamento sísmico tridimensional, embora esteja longe de ser infalível, permitiu aos exploradores melhorar bastante sua compreensão da geologia nas camadas mais profundas do solo.
O segundo avanço foi o advento da perfuração horizontal. Em lugar do tradicional poço vertical, os poços hoje podem ser perfurados na vertical nas primeiras centenas de metros e depois vertidos em um ângulo ou até de lado, sendo o progresso da perfuração controlado com extrema rigidez e medido a cada pequeno intervalo com o uso de ferramentas extremamente sofisticadas. Isso significa a possibilidade de acesso a uma parte muito maior do reservatório, aumentando assim a produção.
A terceira inovação foi o desenvolvimento de programas e visualização computadorizada que se tornaram padrão nos setores de engenharia e construção. Aplicada ao setor petrolífero, a tecnologia CAD/CAM (computer aided design/computer-aided manufacturing) permitiu que o projeto de uma plataforma offshore de bilhões de dólares fosse realizado nos mínimos detalhes na tela do computador, e que sua resiliência e eficiência fosse testada de inúmeras maneiras muito antes de se iniciar a solda da primeira peça de aço.
Avançando um pouco mais na década de 1990, a disseminação das informações e da tecnologia de comunicação, e a extraordinária queda nos custos de comunicação significaram que os geocientistas poderiam trabalhar como parte de equipes virtuais em diferentes partes do mundo. A experiência e o conhecimento de um campo em determinado lugar poderiam ser instantaneamente compartilhados com aqueles que estivessem tentando resolver problemas semelhantes em campos análogos do outro lado do mundo. Resultado: o CEO de uma empresa disse na época, com certo exagero, que cientistas e engenheiros “alcançariam o topo da curva de aprendizado uma única vez”.
Esses e outros avanços tecnológicos significaram as empresas poderem fazer coisas até pouco tempo atrás impensáveis:
- identificar novos locais para prospecção,
- explorar campos que antes não poderiam ser desenvolvidos,
- assumir projetos muito mais complexos,
- recuperar mais petróleo ou
- abrir províncias de exploração inteiramente novas.
De modo geral, a tecnologia ampliou os horizontes do petróleo mundial, permitindo o surgimento de novas fontes. Elas sustentaram o crescimento econômico e expandiram a mobilidade ao redor do mundo.
Bilhões de barris de petróleo que não poderiam ser acessados ou produzidos uma década antes estavam agora ao nosso alcance. Tudo isso veio a ser um progresso tecnológico just-in-time. Pois o mundo parecia estar seguindo em uma pista de alta velocidade em termos de crescimento econômico — e, consequentemente, da necessidade de mais petróleo.
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A geopolítica do mundo também estava mudando com extrema rapidez. Países antes fechados ou com limitações aos investimentos de empresas internacionais agora se abriam, convidando as empresas a levarem seus conhecimentos e tecnologia junto com seu dinheiro. De uma hora para a outra, rompeu-se a estrutura aparentemente imutável do confronto global.
Em particular, ocorriam mudanças nos Estados que sucederam a União Soviética: a Rússia e países recém-independentes localizados no entorno do mar Cáspio. Eles integrariam a região aos mercados globais. Era como se o final do século XX estivesse reencontrando o início do século. O efeito seria a ampliação dos alicerces da oferta mundial de petróleo.
Como dizia um artigo publicado na revista Foreign Affairs em 1993: “O petróleo é, de fato, um negócio global pela primeira vez, desde quando se levantaram as barricadas da Revolução Bolchevique.”
Essa observação teve um significado especial para a Rússia, pátria da Revolução Bolchevique. Ela agora rivalizava com a Arábia Saudita na capacidade de produção de petróleo.
História da Indústria do Petróleo e a “Revolução Silenciosa” da Tecnologia publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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