Ludwig von Mises nasceu em Lemberg (hoje, Lviv na Ucrânia), no Império Austro-Húngaro, filho de pais judeus. Seu bisavô paterno havia sido elevado à pequena nobreza ao receber de Francisco José I o título de edler.
O seu pai trabalhava como engenheiro na cidade, e como descendentes de famílias de grande fortuna o jovem Ludwig teve uma infância confortável. A família lhe proporcionou uma esmerada educação. Assim, aos doze anos, Ludwig falava fluentemente alemão, polonês e francês, lia em latim, e entendia o ucraniano.
Quando Ludwig ainda era pequeno, sua família voltou para Viena, onde tinha raízes. Em 1900, Mises frequentou a Universidade de Viena, sendo influenciado pelos trabalhos de Carl Menger. Entre 1904 e 1914 Mises assistiu às aulas do economista austríaco Eugen von Boehm-Bawerk, tendo concluído seu doutorado em 1906.
Mises lecionou na Universidade de Viena de 1913 a 1934. Ele também atuou como conselheiro econômico do monarquista Otto von Habsburg e do governo austrofascista de Engelbert Dollfuss. Epa!
Como judeu, Mises temia pela sua integridade física diante do avanço nazista na Europa. O assassinato de Dollfuss pelos Nazis convencido a fugir do país em 1934, em direção a Genebra na Suíça, onde passou a lecionar no Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais até 1940.
Em 1940, ele imigrou para Nova Iorque, indo aos Estados Unidos sob o patrocínio da Fundação Rockefeller. Como muitos outros intelectuais representantes do liberalismo clássico, recebeu apoio do Fundo William Volker para obter uma posição nas universidades norte-americanas.
Finalmente, tornou-se professor visitante na New York University de 1945 até sua aposentadoria em 1969, sendo então financiado pelo empresário Lawrence Fertig. Durante parte desse período atuou como consultor acerca de assuntos monetários para a União Pan-europeia e recebeu um doutorado honorário do Grove City College.
Ludwig Heinrich von Mises faleceu no dia 10 de outubro de 1973, aos 92 anos de idade, no hospital St. Vincent em Nova Iorque.
O economista e teórico político F. A. Hayek ao brindar Mises, em uma festa, disse: “É um dos mais educados e informados homens que eu já conheci”. Paul Samuelson, um dos mais influentes economistas do século XX, inseriu Mises em sua lista imaginária daqueles merecedores de receber o Prêmio Nobel, caso a categoria de Economia fosse instituída desde o começo, em 1901, junto às demais.
Mises escreveu e lecionou, incansavelmente, divulgando o liberalismo clássico, sendo um dos líderes da Escola Austríaca de Economia. Em Human Action, publicado em 1949, Mises revelou o fundamento conceitual da Economia. Ele a chamou de praxeologia, a Ciência da Ação Humana. Muitos de seus trabalhos tratavam de dois temas econômicos relacionados:
- economia monetária e inflação.
- diferenças entre economias planificadas e livre mercado.
Mises defendia as pessoas demandarem dinheiro por causa da sua utilidade como meio para aquisição de outros bens, não por algum valor intrínseco da forma da moeda. Qualquer expansão do crédito causa ciclos econômicos com booms seguidos de depressão para reajustamento.
Contraditoriamente de sua postura contra o crédito, era defensor convicto do free banking: um sistema bancário não regulado com concorrência inteiramente livre.
Mises sugeriu o socialismo falhar no aspecto econômico por causa do problema do cálculo econômico. O uso de uma economia planejada em substituição ao mercado, na alocação dos fatores de produção, romperia com o sistema de preços relativos. São indicadores necessários à alocação de capital de acordo com as necessidades dos agentes econômicos.
Em artigo publicado em 1920, Mises argumentou: sem uma economia de mercado não haveria um sistema de preços relativos funcional, o qual considerava essencial para alcançar uma alocação racional dos bens de capital para os seus usos mais produtivos. O socialismo falha porque a demanda não pode ser conhecida sem preços estabelecidos pelo mercado.
Oskar Lange iniciou a reflexão socialista sobre esse assunto a partir do ponto de vista de Mises, com o ensaio editado em outubro de 1936, On the Economic Theory of Socialism, publicado na Review of Economic Studies. Os argumentos de Mises foram ampliados por economistas austríacos posteriores, como Hayek.
No livro Intervencionismo: Uma Análise Econômica (1940), Ludwig von Mises escreveu:
“A terminologia usual da linguagem política é estúpida. O que é esquerda e o que é direita? Por que Hitler é de ‘direita’ e Stalin, seu amigo e contemporâneo, de ‘esquerda’? Quem é ‘reacionário’ e quem é ‘progressista’?
Reação contra políticas pouco inteligentes não deve ser condenada. E progresso em direção ao caos não deve ser elogiado. Nada deve ser aceito apenas por ser novo, radical, e estar na moda.
‘Ortodoxia’ não é um mal se a doutrina na qual o ortodoxo se baseia for válida. Quem é antitrabalhista, aqueles cuja meta é rebaixar o trabalho ao nível da Rússia, ou aqueles cujo desejo é levar os trabalhadores ao padrão de vida capitalista dos Estados Unidos? Quem é ‘nacionalista,’ aqueles colocando seu país sob os calcanhares dos Nazistas ou preservando sua independência?”
Muitos economistas e estudiosos foram influenciados pelas ideias de Von Mises. Entre os mais notáveis destacam-se o economista Friedrich Hayek, o poeta Max Eastman e a dramaturga Ayn Rand.
As ideias de Mises foram também considerados uma forte influência para a política Reaganomics do presidente norte-americano Ronald Reagan.
Mises foi criticado por diversos motivos, tanto por suas ideias como por sua personalidade. Desde a metade do século XX, Mises foi considerado um economista anticientífico.
O historiador econômico Bruce Caldwell em uma resenha publicada em 1957 sobre o livro A Mentalidade Anticapitalista, em The Economist, criticou von Mises:
“O Professor von Mises tem uma mente analítica esplêndida e um admirável paixão pela liberdade, mas como estudante de natureza humana é pior do que nulo. E como debatedor, é de baixo padrão.”
Um comentarista conservador, Whittaker Chambers, publicou uma crítica negativa desse livro no ‘National Review‘, classificando a tese de von Mises segundo a qual o sentimento anticapitalista fundamenta-se na “inveja” como “conservadorismo barato” e “ignorância”.
Em uma entrevista de 1978, Friedrich Hayek, comentando sobre o livro de von Mises “Socialismo” disse: “em primeiro lugar nós sentíamos ele ser tremendamente exagerado e mesmo ofensivo. Ele feriu os nossos sentimentos mais profundos, mas gradualmente ele ganhou-nos por aí, embora por muito tempo – eu aprendi: ele estava sempre certo em suas conclusões – embora eu não estivesse completamente satisfeito com seus argumentos.”
Outro economista conservador, Milton Friedman, considerava von Mises inflexível em seu pensamento reacionário: “a melhor história dele, lembrado por mim, aconteceu em uma reunião em Mont Pelerin quando ele se levantou e disse: “Vocês são um bando de socialistas!” Estávamos discutindo a distribuição de renda, e se deveríamos ter imposto de renda progressivo. Algumas pessoas, simplesmente, expressaram a opinião de o imposto de renda dever ser progressivo.”
Em outra ocasião, Fritz Machlup, ex-aluno de von Mises e um dos seus mais fiéis discípulos, deu uma palestra onde ele questionou a ideia de um padrão para a cotação do ouro e se expressou em favor de taxas de câmbio flutuantes. Von Mises teria ficado tão bravo a ponto de não falar com Machlup durante três anos.
O economista Murray Rothbard, ex-colega de von Mises, confirmou: ele era intransigente. Porém, contesta os relatos de sua agressividade. Em suas palavras, von Mises foi “incrivelmente doce, pesquisando constantemente para projetos de pesquisa para seus alunos, infalivelmente cortês e nunca amargo”.
O livro publicado em 1927 por von Mises, “Liberalismo”, tem sido largamente ignorado, exceto quanto aos seus comentários sobre o fascismo. Marxistas, como Herbert Marcuse e Perry Anderson, criticaram von Mises por sua aprovação ao fascismo italiano, especialmente como forma de combate à esquerda. Mais recentemente o economista J. Bradford DeLong[30] e sociólogo Richard Seymour, repetiram as críticas. Von Mises escreveu naquele livro:
“Não se pode negar o fascismo e movimentos semelhantes, visando o estabelecimento de ditaduras, são cheios de boas intenções. Sua intervenção, em dado momento, salvou a civilização europeia. O mérito do fascismo por si só viverá eternamente na história. Mas apesar da sua política ter sido a salvação do momento, ela não é do tipo capaz de garantir um sucesso contínuo. O Fascismo foi um improviso para fazer face a uma emergência. Entendê-lo como algo além disso seria um erro fatal.”
O biógrafo de Mises, Jörg Guido Hülsmann, classifica a a crítica de Mises ter justificado o fascismo como “absurda”. Aponta para o resto da citação na qual ele chamou o fascismo de perigoso e o descreve como um “erro fatal”, classificando-o como um “improviso de emergência” contra a crescente ameaça do comunismo e o socialismo, este exemplificado pelos bolcheviques na Rússia.
Ludwig von Mises foi contrário aos sindicatos, aos direitos trabalhistas, aos partidos políticos, ao nacionalismo e a qualquer intervenção e regulamentação do Estado na economia.
Na visão de alguns apologistas da Escola Austríaca, as teorias de von Mises teriam sido comprovadas com a Crise de 1929.
Segundo esses apologistas, ele havia previsto com dois anos de antecedência, quando, em meados de 1929, recusou um emprego no banco vienense Kreditanstalt, contra a vontade da sua noiva, dizendo: “Uma grande crise está a caminho e eu não quero meu nome de modo algum associado com isso.”
Entretanto, críticos afirmam essa declaração ser desprovida de qualquer fundamentação, não oferecendo sequer evidência de von Mises estar se referindo à economia americana, a uma depressão global ou mesmo à saúde financeira do próprio banco Kreditanstalt.
Fonte: Wikipedia
Fernando Nogueira da Costa: minha leitura de sua Teoria da Expansão do Crédito como a causa fundamental do Ciclo Econômico – e sua decorrente condenação é ilustrada pela máxima: “Tentar analisar o capitalismo e deixar de lado bancos, dívidas e dinheiro é como tentar analisar voos de pássaros e ignorar eles terem asas. Boa sorte!”
Ele reconhece e descreve bem a Economia Positiva: o que é. Porém, falha em sua Economia Normativa: o que deveria ser. É um pregador reacionário contra a evolução da história. Infelizmente, possui muitos seguidores cegos de ódio contra a esquerda.
Biografia de Ludwig von Mises: a Criação explica a Criatura? publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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