sexta-feira, 6 de março de 2020

Alcançar o Desejado pelas Pessoas: Obter a Ecoestrutura

David Colander e Roland Kupers são coautores do livro “Complexity and the Art of Public Policy: Solving Society’s Problems from the Bottom Up” (Princeton University Press, 2014).

Embora a relação no quadro da complexidade entre soluções de baixo para cima e intervenções de cima para baixo pareça refletir a distinção entre a solução fundamentalista de mercado e a solução de controle, na realidade é uma polaridade muito diferente. Keynes e Hayek entenderam isso, mas muitos dos que os seguiram não.

O desenvolvimento da Ciência da Complexidade nos permite revisitar seus pensamentos e adicionar precisão. Ambos apoiavam soluções ascendentes sempre quando possível. Isso foi dito por Keynes opinar: “o mundo deveria ser povoado só por quem compartilha a posição moral de Hayek”… Ironia, né?

Essa posição moralista vê o poder do governo como corrupto. Permite os politicamente poderosos projetarem as regras para se beneficiarem e solidificarem seu poder e seus pontos de vista. Essas visões são baseadas em leitura com viés apriorístico da história. “O quadro de complexidade aceita também qualquer ação do governo ter problemas”, dizem os coautores.

O ponto no qual Keynes e Hayek diferiam estava na leitura de quão bem-sucedido o governo poderia ter ao fornecer orientações úteis de baixo para cima. Os defensores ativistas da política de laissez-faire veem o governo em condições de desempenhar um papel positivo útil na tentativa de influenciar o que surge, enquanto os apoiadores passivos da política de laissez-faire veem as tentativas do governo de orientar, provavelmente, levando a soluções piores em relação a o que aconteceria sem a orientação do governo. Ambas são posições razoáveis, ​​mas a teoria social não resolve.

O que torna a política tão complicada no quadro da complexidade é os objetivos específicos da política não serem dados. Eles se desenvolvem de maneira endógena, de baixo para cima, e não podem ser totalmente especificados a priori.

Os objetivos específicos da política não podem ser conhecidos com certeza por ninguém, incluindo o governo. Os indivíduos podem conhecer seus objetivos para a sociedade, mas os objetivos da sociedade são a mistura de todos os objetivos individuais. Os objetivos sociais específicos de uma sociedade emergem à medida que o sistema evolui.

No quadro da complexidade, um objetivo importante do governo é criar um ambiente no qual as pessoas reflitam sobre seus objetivos para a sociedade. Ocorrerá de modo os verdadeiros objetivos sociais das pessoas poderem surgir, mas não para tentar impor metas específicas às outras pessoas.

No exemplo da economia do compartilhamento, os objetivos emergentes são diretos, alcançar as metas com economicidade, rapidez e segurança. Na maioria das situações sociais, é menos claro e os formuladores de políticas acabam sendo tentados a fazer suposições altamente simplificadas sobre a motivação das pessoas e quais são seus objetivos.

Em uma política de baixo para cima, o objetivo social emerge do processo. As pessoas são livres para escolher seus objetivos individuais e coletivos, e também são livres para escolher como alcançá-los.

Depois de se perceber esses objetivos envolverem coordenação em torno de um bem comum e ação coletiva, a política se torna mais problemática. Como exemplo, considere a abundância de alimentos no mundo e nossa aparente incapacidade de alimentar a todos, seja pelo mercado ou pelo controle do governo.

Deixar problemas comuns de bens para a “sociedade”, onde a sociedade envolve uma variedade de grupos policêntricos, oferecendo alternativas ao mercado ou ao governo, pode ser uma opção atraente. Mas isso só pode ser tentado se houver um ambiente no qual os grupos policêntricos sejam incentivados.

Atualmente, esses grupos coletivos eficazes com objetivos sociais são muito menos numerosos do possível em um sistema amigável de baixo para cima. O ecossistema desenvolvido não foi amigável para eles. Assim, o suporte a soluções de complexidade pode envolver o suporte a uma política de ecoestrutura projetada para incentivar o desenvolvimento desses grupos policêntricos alternativos.

Na parte III, o livro apresenta alguns exemplos de como uma ecoestrutura pode ser formulada para estimular o surgimento de organizações possíveis de desempenhar esse papel. Em todos os casos, envolve governos promovendo soluções de baixo para cima.

No quadro padrão, associa a ação do governo a soluções de controle de cima para baixo e a ação de baixo para cima do mercado com o fundamentalismo do mercado. Isso pode parecer estranho.

No quadro da complexidade, não. O governo não controla, mas influencia a maneira como as metas evoluem e emergem. Pode tentar fazer essa influência ser a mais positiva possível. Qual é a melhor maneira de fazer isso é o debate sobre a meta política. Ele é um debate muito diferente daquele sobre a política do governo dentro de um quadro de controle padrão.

A política de complexidade envolve incentivar o desenvolvimento de um ambiente institucional amigável às soluções políticas de baixo para cima, para elas poderem evoluir e se desenvolver.

Ela se opõe à política tradicional de controle de cima para baixo pela mesma razão apontada pelos fundamentalistas de mercado: porque o governo não é muito bom em resolver problemas sociais e as soluções impostas de cima para baixo pelo governo tendem a minar o desenvolvimento de soluções de baixo para cima, possíveis de se desenvolver. Em lugar disso, a política de complexidade apoia uma política capaz de tratar o governo e as empresas privadas como parceiros dos quais novas formas institucionais combinadas podem evoluir.

Alcançar o Desejado pelas Pessoas: Obter a Ecoestrutura publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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