segunda-feira, 16 de março de 2020

A Busca: Energia, Segurança e a Reconstrução do Mundo Moderno

Daniel Yergin, no livro “A Busca: Energia, Segurança e a Reconstrução do Mundo Moderno” (Rio de Janeiro: Editora Intrínseca; original “The Quest: Energy, Security, and the Remaking of the Modern World” publicado em 2011) dá continuidade ao seu magnífico livro “The Prize: The Epic Quest for Oil, Money & Power”.

O Prêmio: A Épica Busca por Petróleo, Dinheiro e Poder é a história contada por Daniel Yergin da indústria global de petróleo entre as décadas de 1850 e 1990. Sua primeira publicação ocorreu em outubro de 1990 (Editora Simon & Schuster; número de páginas: 912; Prêmio Pulitzer de Não-Ficção), justamente na época da Guerra do Golfo Pérsico. Ele retoma a história desse ponto, mas amplia sua perspectiva.

A incerteza e a insegurança renovadas a respeito da energia, associadas à previsão de uma crise ainda mais profunda, enfatizaram uma realidade fundamental — a importância da energia para o mundo.

Este livro tenta explicar essa importância. É a história da busca pela energia da qual tanto dependemos, da posição e dos benefícios por ela gerados e da segurança por ela proporcionada. Trata do desenvolvimento do mundo moderno da energia, das implicações e mudanças geradas pelas preocupações com o clima e as emissões de carbono e das diferenças que a questão energética pode apresentar no futuro.

Três perguntas fundamentais norteiam esta narrativa:

  1. Haverá energia suficiente para suprir as necessidades de um mundo em crescimento, a que custo e com quais tecnologias?
  2. Como garantir a segurança do sistema energético do qual o mundo mostra-se tão dependente?
  3. Qual será o impacto dos interesses em proteção ambiental, inclusive mudança climática, sobre o futuro da energia — e como o desenvolvimento das fontes energéticas afetará o meio ambiente?

Quanto ao primeiro tema, hoje, a produção de petróleo é cinco vezes maior se comparada há cinco décadas atrás. Além disso, as energias renováveis formaram um alicerce muito mais seguro.

Entretanto, ainda vivemos na chamada “Era dos Combustíveis Fósseis”. Hoje, petróleo, carvão e gás natural fornecem mais de 80% da energia mundial.

Os suprimentos podem ser muito mais abundantes do que se imaginava, mas, devido à simples aritmética da escala, o desafio de assegurar a disponibilidade de energia no futuro é muito maior atualmente.

  • Os recursos serão suficientes não apenas para abastecer a economia global atual, de US$ 65 trilhões, mas também para abastecer o que poderia ser uma economia de US$ 130 trilhões daqui a apenas duas décadas?
  • Em outras palavras, os recursos petrolíferos serão suficientes para a transição de um mundo de quase um bilhão de automóveis hoje para um mundo com mais de dois bilhões?

O próprio fato de fazermos essa pergunta reflete algo novo — a “globalização da demanda de energia”. Bilhões de pessoas estão ingressando na economia global; deste modo, sua renda e uso de energia aumentam. Atualmente, o uso do petróleo nos países desenvolvidos chega, em média, a catorze barris por pessoa ao ano. Nos países em desenvolvimento, são apenas três barris por pessoa. Como o mundo vai lidar com essa questão quando bilhões de pessoas deixarem de consumir três barris per capita e passarem a consumir seis?

O segundo tema deste livro, segurança energética, origina-se do risco e da vulnerabilidade: a ameaça de interrupção e a crise. Desde a Segunda Guerra Mundial, diversas crises afetaram a oferta de energia, em geral de forma inesperada.

De onde virá a próxima crise? Poderia surgir do que se conhece como “o mau mundo novo” da cibervulnerabilidade. Os complexos sistemas de geração e distribuição de energia estão entre os elementos mais críticos de toda a “infraestrutura crítica”, o que torna seus controles digitais alvos tentadores para ataques cibernéticos. A interrupção dos sistemas de energia elétrica poderia fazer mais do que causar apagões; poderia imobilizar a sociedade.

No que concerne à segurança do abastecimento de energia, a análise sempre parece voltar à região do golfo Pérsico, responsável por 60% das reservas convencionais de petróleo. O programa nuclear iraniano poderia abalar o equilíbrio de poder naquela região.

Redes terroristas tiveram como alvo sua vasta infraestrutura energética na tentativa de derrubar os governos existentes e elevar o preço do petróleo para levar o mundo ocidental “à bancarrota”. A região também enfrenta revoltas decorrentes da insatisfação de um enorme grupo de jovens carentes de oportunidades de emprego e educação, cujas expectativas estão longe de ser realizadas.

No que tange ao meio ambiente, nosso terceiro tema, ocorreram enormes avanços nas tentativas de abordar as preocupações tradicionais com poluição. Entretanto, quando nas décadas anteriores as pessoas se concentravam nos poluentes gerados pelos tubos de escape, pensavam em poluição urbana, não em CO2 e no aquecimento global.

A consciência ambiental aumentou enormemente desde o primeiro Dia da Terra, em 1970. No século atual, a mudança climática virou uma questão política dominante, essencial para o futuro da energia. Essa mudança tornou os gases de efeito estufa um poderoso argumento para reduzir a supremacia dos hidrocarbonetos e expandir o papel das energias renováveis.

Entretanto, a maior parte das previsões mostra uma grande parte das grandes necessidades energéticas daqui a duas décadas — de 75% a 80% — pode ser suprida exatamente como hoje, com petróleo, gás e carvão, embora usados com maior eficiência.

Ou será que o mundo mudará, aproximando-se do duvidado ser possível: uma nova era de energia, um mix radicalmente diferente que utiliza muito mais energias renováveis e alternativas — eólica, solar e biocombustíveis, entre outras —; talvez até mesmo de fontes ainda não identificadas? Que tipo de mix energético suprirá as necessidades de energia mundiais sem crise e confronto?

Quaisquer que sejam as respostas, a inovação será de suma importância. Talvez não surpreenda o fato de que a ênfase na inovação em todo o espectro energético é hoje maior do que nunca. Isso aumenta a probabilidade de vermos serem aplicados à energia, com sucesso, os benefícios que o general Georges Doriot, fundador do moderno investimento em capital de risco, chamou de “ciência aplicada”.

Os prazos podem ser longos devido à escala e à complexidade do vasto sistema de abastecimento de energia, mas, se esta é para ser uma Era de Transição Energética, então o mercado global de energia de US$ 6 trilhões deve ser “contestável”.

Ele deve estar disponível aos concorrentes tradicionais — empresas de petróleo, gás e carvão, que fornecem a maior parte da energia hoje — e aos novatos — empresas de energia eólica, solar e de biocombustíveis —, que desejam conseguir uma fatia cada vez maior desse bolo. Uma transição dessa escala, se de fato ocorrer, tem grande significado para as emissões de carbono, a economia como um todo, a geopolítica e a posição das nações.

 

A Busca: Energia, Segurança e a Reconstrução do Mundo Moderno publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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