Martha Funke (Valor, 29/06/2020) informa: a dificuldade de honrar pagamentos atingiu recordes com a recessão e o desemprego. Mas o avanço dos índices de inadimplência foi atenuado por iniciativas dos credores para amenizar o impacto das crises sanitária e econômica.
Dados da Serasa apontaram, em março de 2020, 64,8 milhões de consumidores inadimplentes no país, recorde para o período. No mês seguinte, já com vigência das políticas de isolamento, pesquisa da Boa Vista com 600 brasileiros indicou: 52% se consideravam incapazes de pagar todas ou pelo menos metade das contas e 56% acreditavam poder deixar as contas em dia por no máximo dois meses.
Em junho de 2020, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) estimou em 67,1% o total de famílias endividadas, com uma em cada quatro em atraso e 11,6% sem condições de pagamento.
[Fernando Nogueira da Costa: suspeito muito desse dado de duas em cada três das famílias estarem endividadas. Quando investiguei, a CNC subestimava o universo total das famílias (71 milhões domicílios) e da população (211,7 milhões pessoas) no Brasil. Seus números diferem muito dos dados do Banco Central. Não há comparação estatística entre o crédito comercial e o crédito bancário. Exemplo de dificuldade: pagamento de compra a prazo em parcelas sem juros com cartão de crédito é classificado como crédito pelo BCB, mas é assim registrado pela CNC-PEIC?]
As empresas também foram afetadas. Segundo o Banco Central, a inadimplência em operações de crédito do sistema financeiro subiu 0,2 pontos percentuais no segmento PJ entre março e abril.
No primeiro trimestre, os balanços dos quatro maiores bancos do país – Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil – somaram R$ 28 bilhões de previsão contra falta de pagamentos, R$ 10 bilhões mais que no mesmo período do ano passado, segundo a Economatica. Mas iniciativas de renegociação por parte dos concedentes deve desacelerar a subida da inadimplência, avalia o economista chefe da Serasa Experian.
As políticas para amenizar os danos variam entre diferentes setores. Elas vão desde prorrogação de contratos de instituições financeiras até novas réguas para determinação de inadimplência e regras oficiais de isenção ou adiamento no caso de telecom e utilities. Também incluem tecnologia para cobranças mais baratas e assertivas, como comunicação digital e automatizada para notificações e acordos remotos, tendência reforçada pelo efeito do isolamento em call centers, e ferramentas de inteligência para segmentação, uma das formas para concentrar esforços em perfis mais rentáveis.
A Serasa Experian criou ferramenta de scoring (classificação) dos devedores baseada em aprendizado de máquina para aumentar o número de variáveis avaliadas e encontrar os consumidores mais propensos a quitar suas dívidas, detalha a diretora de serviços de crédito. O próximo passo é incentivar o uso da tecnologia por clientes de menor porte.
A Boa Vista oferece produtos como SCPC Comunica, Cobrança Digital e Negocie SCPC para estratégias automatizadas, inclusive com avisos eletrônicos de débitos (AED) por SMS e e-mail. A carta de negativação enviada pelos Correios está sendo substituída pelos meios digitais.
Para comparar e verificar como esses números não são consistentes, leia outros dados fornecidos na mesma página do jornal por Danylo Martins (Valor, 29/06/2020): cerca de 45 milhões de pessoas são desbancarizadas no Brasil e movimentam ao ano mais de R$ 800 bilhões, conforme a pesquisa mais recente feita pelo Instituto Locomotiva em 2019.
De olho nesse público, empresas de tecnologia e fintechs têm ampliado a oferta de novos produtos de crédito, principalmente nos últimos meses, quando milhões de brasileiros tiveram redução na renda ou sofreram com perda de faturamento, no caso de microempreendedores.
Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) – março de 2020
30/03/2020
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) orienta os empresários do comércio de bens, serviços e turismo que utilizam o crédito como ferramenta estratégica, uma vez que permite o acompanhamento do perfil de endividamento do consumidor, com informações sobre o nível de comprometimento da renda do consumidor com dívidas, contas e dívidas em atraso, e sua percepção em relação à capacidade de pagamento. A PEIC é apurada mensalmente pela CNC desde janeiro de 2010. Os dados são coletados em todas as capitais dos Estados e no Distrito Federal com cerca de 18 mil consumidores.
BCB X CNC-PEIC: Crédito Bancário versus Crédito ao Consumidor publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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