sexta-feira, 26 de julho de 2019

Riqueza Pessoal do Top da Pirâmide Social

Adriana Cotias (Valor, 10/07/19) informa: a riqueza pessoal dos brasileiros aumentou 7% no ano passado, cinco pontos percentuais acima da média global, e alcançou cerca de US$ 2 trilhões. Até 2023, a expectativa é o ritmo ficar mais em linha com o desempenho mundial, com crescimento acumulado composto da ordem de 6% ao ano, para a casa dos US$ 2,8 trilhões, segundo estimativas da Boston Consulting Group (BCG). Na América Latina, a taxa prevista de expansão anual é de 8% para o intervalo até 2023. O Brasil tende a perder participação nesse bolo, saindo dos 39% atuais para 36%.

Os dados fazem parte de um recorte de Brasil disponibilizado pela consultoria
para o Valor e que compôs o mapeamento de América Latina no relatório “Global Wealth 2019 – Reigniting Radical Growth”. A BCG colhe dados macro e ouve os maiores participantes do setor de gestão de recursos em diversos países para radiografar a riqueza financeira da população como um todo.

Os números incluem a riqueza investida, tais como ações listadas, títulos de dívida, fundos de investimentos, moedas e depósitos, bem como a parcela não investida. Esta contempla seguros de vida, pensões, ações não listadas e outras participações em empresas.

Segundo a BCG no Brasil, as projeções para o país são bastante conservadoras. No ano passado, México e Brasil ocuparam um importante papel na evolução das riquezas da América Latina, economias onde há grande concentração de dinheiro em seguradoras e fundos de pensão. Ainda que a fatia aplicada em ações seja relativamente pequena, a performance das bolsas foi suficientemente sólida para a região não se contaminar com o movimento de vendas generalizadas de outros mercados no quarto trimestre de 2018, evento que freou a expansão da riqueza na média global. No mundo, o valor dos ativos financeiros aumentou em cerca de 2%, atingindo US$ 206 trilhões, enquanto na América Latina o crescimento foi de 6,3%.

Em dólar, o número de pessoas com mais de US$ 1 milhão no mundo cresceu 2,1% no ano passado, a 22,1 milhões de indivíduos. Eles respondem por 50% dos ativos globalmente. A América Latina tinha 200 mil milionários – 48% dos recursos nas mãos dos mais ricos. Historicamente, a América do Norte concentra o maior número de milionários (68% do total). Entre 2018 e 2023, entretanto, a região que deve experimentar o maior incremento de indivíduos com mais de US$ 1 milhão é a Ásia (excluindo-se o Japão), de 10,1%, seguida pela África (9,1%) e América Latina (9,1%). A BCG estima 27,6 milhões de milionários em cinco anos.

No Brasil, a evolução recente da riqueza pessoal da população até perdeu ritmo, comparando-se ao intervalo entre 2013 e 2018, quando o conjunto apresentou crescimento anual composto de 9%.

O Brasil não vem sendo mau para os ricaços. No entanto, pós-golpe, o patrimônio das famílias nos últimos anos perdeu ímpeto junto com a economia, reduzindo a geração de riqueza, proveniente de dividendos, por exemplo. Os eventos de liquidez, como ofertas secundárias de ações e fusões e aquisições, que tipicamente destravam valor para os empresários e ampliam os recursos sob o guarda-chuva de gestores de patrimônio, também rarearam.

A depender da movimentação dos primeiros meses do ano nos serviços de gestão de fortunas, estima-se após a reforma da Previdência haja um fluxo extra de R$ 500 bilhões de geração de riqueza financeira em dez anos. Considera a menor propensão a consumir dos mais ricos com a necessidade de elevar suas reservas financeiras?

Maior private banking brasileiro, com patrimônio da ordem de R$ 450 bilhões, entre ativos locais e externos, o ingresso de dinheiro novo nessa área no Itaú ganhou velocidade na primeira metade de 2019. Nos últimos anos, a média da captação líquida rondava os R$ 15 bilhões; em 2018 subiu para R$ 22 bilhões; nos primeiros meses de 2019, já são R$ 17 bilhões. Boa parte disso veio da distribuição de dividendos de empresas de capital aberto em casos geograficamente espalhados.

Olhando à frente, se de um lado a Selic menor tem o efeito de tirar dinheiro do setor de gestão de riquezas para negócios da economia real, a tendência é mais adiante vir um novo ciclo de liquidez. Todos os ativos ilíquidos, operacionais ou imobiliários, tendem a subir de preço e quem tem esses ativos fica mais motivado a fazer a venda. Nessa dinâmica é de se esperar novas aberturas de capital e movimentos de fusões e aquisições. Elas, tradicionalmente, alimentam o setor.

Com taxas de juros historicamente baixas no Brasil, a migração do investidor da renda fixa para opções de maior risco, como fundos multimercados e ações, tende a levar à apreciação desses ativos, sendo também uma fonte de geração de riqueza, diz a responsável pelo time de investimentos do private banking do Bradesco. A executiva ainda espera uma maior atividade no mercado de capitais, após as empresas terem cortado custos durante o período de crise e de desaceleração da economia.

Os balanços mais equalizados, permitem a alavancagem operacional e os lucros podem ficar acima do crescimento do PIB. Com boa saúde financeira, o mercado de capitais vai ser impulsionador dos recursos financeiros para que as empresas cresçam via dívida ou IPOs.

Há boas perspectivas para o mercado de capitais, para o ‘valuation‘ das companhias públicas e privadas. Se o Brasil se livrar do atual governo, um grupo relevante de famílias vai acabar monetizando seus ativos e aumentando a base de clientes potenciais.

Em lugar da valorização de ativos como as ações na bolsa, por exemplo, serão as aquisições e aberturas de capital as operações a incrementar o número de famílias elegíveis à gestão de patrimônio de altíssima renda, em geral, acima do corte de R$ 10 milhões.

Depois de a Selic ter caído de 14,25% desde outubro de 2016, para 6,5% ao ano, o investidor passou a se dedicar também mais à diversificação internacional, seja via veículos no Brasil, seja comprando ativos no exterior. Em 2018, estava se fazendo fuga de capital para o mercado internacional. Este ano, a alocação está mais “neutra”, em um perfil moderado isso significa ter entre 5% e 10% em ativos globais.

Em comparação a outros países da América Latina, o ricaço brasileiro investe, porém, pouco fora do país. Só 10% das riquezas pessoais estão aplicadas internacionalmente enquanto a média da região é de 18%, segundo a BCG. A expectativa da consultoria é que a fatia de Brasil se mantenha em 10% até 2023. Mas olhando além do horizonte que a pesquisa alcança, a relevância dos recursos “offshore” tende a aumentar, à medida que o investidor busque alternativas de diversificação.

Com uma operação internacional há décadas em Nova York, e em Miami e um braço em Lisboa, o Banco do Brasil vem trabalhando numa reestruturação que traga mais sinergias entre a área de “securities” e o private banking lá fora. O que outros bancos vêm fazendo [comprando operações fora do país ou carteiras] fazemos há bastante tempo. Está robustecendo seu bloco ‘offshore’ para continuar tendo um serviço de vanguarda.

Localmente, o BB se vale da sua rede pulverizada para buscar novos milionários no Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país. O atendimento à cadeia do agronegócio tem sido uma dessas alavancas. Dos 249 “bankers” que possui, 78 deles são voltados para essa área. Além de assessoria financeira e patrimonial, a instituição tem atuado fortemente no crédito. A carteira no private soma mais de R$ 20 bilhões, também em função da atuação do banco no nicho dos grandes produtores rurais.

Uma quantidade razoável de grandes clientes do private faz captação no exterior para compra de lanchas, carros de luxo, o produtor rural usa esse crédito para adquirir bens de luxo. Como tem boa avaliação de risco e boa garantia, o cliente consegue captar o recurso mais barato que o rendimento obtido em um fundo exclusivo ou normal.

Com cerca de R$ 200 bilhões em recursos no private banking, o BB está entre os primeiros colocados do setor, pouco abaixo do Bradesco, com algo próximo de R$ 220 bilhões, e no pelotão à frente do Credit Suisse, com cerca de R$ 180 bilhões. Não há, porém, um ranking oficial. As últimas estatísticas da Anbima, que representa o mercado de capitais e de investimentos, apontavam em maio de 2019, R$ 1,151 trilhão em recursos nas mãos dos serviços de private banking.

Pelos dados da BCG, o número de indivíduos afluentes, com patrimônio entre US$ 250 mil e US$ 1 milhão, pode chegar a 918 mil pessoas na América Latina em 2023, 53,2% acima da quantidade observada no fim de 2018, com incremento de 10% do patrimônio, a US$ 300 bilhões. Globalmente, serão 94,2 milhões de pessoas. Elas responderão por investimentos de US$ 24,5 trilhões.

O Citi se prepara para surfar uma nova onda de geração de riquezas no Brasil. Em um cenário de avanço das reformas, eventos como fusões e aquisições, aberturas de capital e monetização de ativos sem liquidez vão aumentar o patrimônio das famílias no país em um ritmo superior à média mundial. “A criação de ‘wealth‘ [riqueza] tende a se expandir mais que a própria economia, tende a ser um múltiplo do crescimento do PIB”, afirmou Stephen Campbell, presidente global da divisão de family offices do Citi, responsável por aconselhar mais de mil famílias, grande parte com patrimônio acima do bilhão de dólares, em entrevista ao Valor.

O banco americano tem investido fortemente em contratações e na expansão da estrutura brasileira de private banking para “capturar esse movimento”. O plano é crescer mais de 50% em termos de receitas nos próximos quatro anos. A ideia, segundo o executivo, é ir além da expansão orgânica do segmento que atende os brasileiros mais ricos e ganhar mais participação de mercado. “O Brasil é o país com maior número de family offices na América Latina.” Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: Quais os planos do Citi para o Brasil?

Stephen Campbell: O banco tem um plano estratégico de quatro anos para o private banking e planejamos crescer nesse período mais de 50% em receitas. Estamos construindo uma nova infraestrutura do banco para chegar lá. Queremos ter uma participação no mercado brasileiro de private muito maior do que temos hoje e capturar a criação de riqueza que vai acontecer no Brasil, gerada por eventos, como fusões e aquisições, IPOs e monetização de ativos ilíquidos em um cenário de reformas avançando.

Valor: A reforma da Previdência é essencial para o crescimento do mercado de private banking?

Campbell: Nosso cenário base é de aprovação da reforma da Previdência. Estamos cautelosamente otimistas com o que vem por aí, com as reformas. Se acontecerem, vão ter um impacto muito positivo sobre o gasto público e o equilíbrio fiscal. É um projeto indispensável para a economia do Brasil seguir adiante.

Valor: Quais as perspectivas para o wealth management no Brasil em um cenário de reformas?

Campbell: No private banking, o Brasil está em um ciclo de crescimento. Nesse ciclo de crescimento, a geração de riqueza tende a ser substancial, com ganhos de capital no mercado acionário, com operações de fusões e aquisições, e eventos de liquidez como IPOs e monetização de ativos ilíquidos. A criação de “wealth” [riqueza das famílias] tende a se expandir mais que a economia, tende a ser um múltiplo do crescimento do PIB. Nos próximos anos, o Brasil será um mercado muito interessante para o private banking, dentro desse ciclo de crescimento de wealth. Por isso, o Citi tem se preparado e investido em contratações e aumento da estrutura para capturar parte dessa expansão.

Valor: Quais são as tendências na gestão de patrimônio no Brasil?

Campbell: No Brasil, o segmento de family offices [gestoras de patrimônio] é, provavelmente, o de crescimento mais rápido dentro do setor de private banking. Quando uma família atinge um certo nível de riqueza, gerir o patrimônio, as relações na família, e a conectividade entre os vários negócios e investimentos, torna-se um grande desafio. Nesse momento as famílias necessitam de um aconselhamento independente e sem comprometimento. É por isso que criam seu próprio family office. Esse número está crescendo no Brasil, que é o país com maior número de gestoras de patrimônio na América Latina. Estimamos que no país existam ao menos 100 “single family offices“, ou seja, os dedicados apenas a uma família. E os desafios são muito similares aos de qualquer outra parte no mundo.

Valor: A demanda por investimento no exterior pelos clientes brasileiros tem aumentado?

Campbell: O mercado brasileiro tem se tornado muito mais maduro e sofisticado. Nos últimos anos, temos visto family offices com uma concentração de investimentos no próprio país, o chamado “home bias”, mas isso está mudando rapidamente. Há um movimento de montar portfólios internacionais e de longo prazo. Então as carteiras estão se tornando mais orientadas ao longo prazo, à diversificação global e com uma exposição substancial a ativos ilíquidos, como imóveis e private equity. Temos visto essa tendência ao redor do globo e no Brasil também. Achamos que é uma oportunidade para nós ajudar esses family offices a se tornarem globais. Essa noção de globalidade é uma realidade. Porque muitas vezes temos vistos, hipoteticamente, uma família brasileira que tem os filhos estudando em Stanford, casas na Europa e negócios em Cingapura. O home bias não é algo exclusivo do Brasil, existe no mundo todo. Mas está mudando.

Valor: De que forma o Citi atua junto aos family offices no mundo?

Campbell: Atendemos 1.490 family offices em 65 diferentes países. Essas são as mais afluentes famílias no mundo e a missão do banco é dar assistência a esses clientes. Providenciamos soluções muito específicas de produtos para as necessidades que eles têm. Todos os clientes confiam em nós para as necessidades de private banking. Para muitos desses clientes nos gerimos os ativos pessoais. Nós aconselhamos os clientes em várias áreas, assistimos famílias em design, em desenvolvimento de family offices. Esse é um trabalho que faço especificamente de aconselhar a criação do family office. Tem uma família na Tailândia, com vários bilhões de dólares em wealth que chegou até nós querendo saber mais sobre montar um family office. Temos uma metodologia que os ajuda nesse processo. Eu também aconselho as famílias no processo de investimento. Meus colegas apresentam o que existe disponível para investir. Mas eu ajudo a criar um processo escalável e possível de ser repetido que lhes permite fazer os investimentos de uma maneira muito compreensível.

Valor: Quais as preocupações das famílias mais ricas do mundo?

Campbell: Nos últimos cinco anos, tenho passado parte considerável do meu tempo aconselhando as famílias em relação às próximas gerações no processo de transferência de wealth. São famílias com patrimônio de um ou vários bilhões de dólares e quase todas acabam falando sobre filhos e seus netos e as preocupações de disseminar aos filhos as responsabilidades do wealth, ajudá-los a entender as demandas que vão surgir e ajudá-los a se tornar líderes efetivos esperançosamente dentro da própria empresa da família, mas certamente dentro da comunidade em um sentido mais amplo. Fizemos uma pesquisa global com as famílias sobre as principais preocupações e 72% dos respondentes apontaram a transferência de wealth para a próxima geração como uma das mais importantes áreas de preocupação. É compreensível isso porque é bem conhecido o fato de que quando se cria uma grande riqueza em uma geração é muito frequente que na terceira geração esse wealth tenha se dissipado. E desaparece por uma série de motivos, que vão de impostos a gastos, ou seja, um mau gerenciamento dessa riqueza e a inabilidade de entender que as famílias crescem de maneira diferente dos ativos. Podemos ajudar os portfólios a crescer 6% a 10% ao ano, mas em essência, as famílias crescem muito mais do que isso, assim como o consumo dos integrantes. Mas as famílias podem evitar essa dissipação de wealth.

Valor: Quais as tendências para o “asset allocation” [montagem de portfólio] global?

Campbell: Nos últimos anos temos visto uma exposição crescente dos family offices aos chamados ativos ilíquidos. Desde 2008, muitos family offices abraçaram a ideia de se tornarem verdadeiros investidores de longo prazo e não ficar totalmente expostos aos riscos e movimentos dos mercados. Há dez anos, o percentual de alocação nessas classes estava

em 15% a 18% e agora vemos uma média de 33% em real estate, venture capital e private equity. A exposição dos family offices aos hedge funds, por exemplo, caiu para menos de 2%, na média das gestoras de patrimônio, sendo que há dez anos era de 79%. Haverá mudanças, inevitavelmente, no direcionamento da alocação. Por exemplo, se você olha para os EUA, o país tem 5% da população mundial, 15% do PIB internacional, e 55% da capitalização de mercado global. Isso não é sustentável. A Ásia cresce a uma velocidade muito maior do que todos os outros lugares do mundo. No mercado acionário, a Ásia representa 11% do “market cap” do mundo, embora tenha 40% do PIB global. Uma das teses que acreditamos é que, com o tempo, investidores no mundo todo vão aumentar substancialmente sua alocação em direção às ações na Ásia. E quando olhamos para o mercado de renda fixa, nós achamos o mesmo cenário. A Ásia representa 7,4% da alocação mundial. Esse direcionamento do fluxo global vai mudar inevitavelmente.

Riqueza Pessoal do Top da Pirâmide Social publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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