sábado, 27 de julho de 2019

Inflação Trienal Média: 1915-2019

Sergio Lamucci (Valor, 08/07/19) informa: a média da inflação ao consumidor acumulada em três anos está no menor nível desde meados dos anos 1930. No período de 2017, 2018 e 2019 – considerando a projeção do consenso de mercado para este ano -, a média do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá ficar em 3,5%, a mais baixa desde os 2,4% de 1932 a 1934, segundo levantamento de Armando Castelar, coordenador de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

A combinação de forte contenção de gastos e crédito públicos, expectativas
inflacionárias sob controle e grande ociosidade na economia ajuda a entender
o comportamento benigno dos índices de preços ao consumidor, na visão de Castelar. Além disso, a forte inércia contribui para manter os indicadores em níveis modestos, ao propagar a inflação baixa do passado para o futuro. Para alguns analistas, um IPCA repetidamente inferior à meta perseguida pelo Banco Central (BC), num cenário de recuperação muito lenta da economia, indica que os juros estão consideravelmente mais altos do que deveriam.

Uma inflação baixa como a do último triênio é um sinal de uma “realidade nova” da economia brasileira. Os 3,5% da média de 2017 a 2019 são a meta de inflação para 2022, definida na semana passada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Uma média da inflação em três anos de 3,5% tem uma força de ancoragem das expectativas muito grande. Para 2019, o consenso de mercado aponta um IPCA de 3,8%, abaixo da meta de 4,25%. Para voltar a uma inflação tão baixa quanto a do último triênio, é preciso voltar aos tempos da Grande Depressão.

Na visão do economista ortodoxo, a grande transformação dos últimos anos é a recessão provocada pela mudança na política fiscal e na política do crédito público. As despesas não financeiras do governo federal cresceram de 1998 a 2015 a um ritmo anual de 6% acima da inflação; de 2016 para cá, a expansão em termos reais (descontada a inflação) tem sido próxima de zero. Além disso, os bancos públicos jogam na retranca.

Nesse novo quadro, a inflação e os juros tendem a ser estruturalmente mais baixos. Mantido esse quadro de gastos e crédito públicos contidos, os juros e o custo de financiamento para empresas e famílias serão menores, algo essencial em cenário onde caberia ao setor privado tomar a liderança do crescimento, mas nada vai acontecer sem o planejamento estratégico do setor público.

O economista também destaca o papel das expectativas inflacionárias sob controle como um fator muito importante para os índices de preços ficarem em níveis baixos. Com um BC com credibilidade, as projeções para a inflação ficam ancoradas nas metas perseguidas pela autoridade monetária, tornando mais fácil atingir o alvo.

Há ainda o papel da ociosidade existente na economia, evidente no alto desemprego e na baixa utilização de capacidade instalada na indústria. Para Castelar, isso “obviamente” ajudou a inflação a chegar ao atual nível, com papel decisivo para derrubar a inflação de serviços, por exemplo. “Mas não acho que, reduzindo ou eventualmente eliminando a ociosidade, a inflação voltará para um nível mais alto. Todo o efeito sobre as expectativas permanece – e há a inércia também”, diz ele, referindo-se ao fenômeno pelo qual a inflação passada alimenta a inflação futura. Um índice de preços modesto em um ano contribui para um indicador modesto no ano seguinte.

Para Castelar, contudo, a discussão sobre a transformação da economia brasileira “transcende a trajetória de curto prazo da Selic”. Se a orientação da política fiscal continuar e houver uma reforma da Previdência robusta e outras medidas que garantam o equilíbrio das contas públicas no longo prazo, o país terá inflação e juros estruturalmente menores.

Castelar optou por uma média de três anos da inflação ao consumidor para suavizar a volatilidade de curto prazo dos indicadores. Em 1998, por exemplo, o IPCA ficou em 1,65%, mas subiu para 8,94% no ano seguinte. Naquele momento, a inflação mais baixa não se consolidou. Agora, o cenário parece diferente. Em 2017, o IPCA ficou em 2,95%, subindo em 2018 para 3,75%, número que teria sido menor sem a greve dos caminhoneiros, ocorrida em maio do ano passado. Para este ano, o consenso está em 3,8%.

De 1912 a 1945, Castelar usou dados sobre o custo de vida no Rio de Janeiro, com base em informações reunidas pelo Ipeadata. A média de 1944, 1945 e 1946 foi calculada com base no IPC da Fundação Instituto de Pesquisas e Econômicas (Fipe), de São Paulo. De 1947 a 1981, os números da inflação trienal são do IPC da FGV, com informações sobre os preços no Rio de Janeiro e em São Paulo. A partir de 1982, a média da inflação acumulada em três anos é a do IPCA, do IBGE, que baliza o regime de metas. Os índices não são perfeitamente comparáveis, mas dão uma ideia do comportamento da inflação ao consumidor desde a segunda década do século passado.

Inflação Trienal Média: 1915-2019 publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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