segunda-feira, 29 de julho de 2019

Emissões de Debêntures e Ações no Primeiro Semestre de 2019

Ana Paula Ragazzi (Valor, 12/07/19) informa: as emissões de debêntures no mercado doméstico cresceram 9,2% no primeiro semestre e alcançaram R$ 84,6 bilhões, conforme dados da Anbima. A alta fica mais expressiva considerando que o primeiro semestre de 2018 foi bastante forte, com empresas antecipando as operações por conta das eleições.

Para especialistas, o segmento tende a continuar aquecido no segundo semestre, ainda com empresas captando para reduzir seus custos de financiamento e ampliar o capital de giro. Mas mesmo após a aprovação da reforma da Previdência, não se espera, no curto prazo, um “boom” de operações para novos projetos e investimentos.

A economia real não reage tão rapidamente como o mercado financeiro. É um mito esperar após a reforma da Previdência Social, o cenário vai ficar mais claro e as empresas deverão retomar planos de investimento. Isso embute vendas, esgotamento da capacidade ociosa planejada, planejamento de novo projeto, aprovação de obra, estruturação de financiamentos etc.

Logo, até essa decisão se transformar em uma emissão vindo a mercado, demora. Enquanto isso, o preço dos ativos existentes no mercado secundário, recebe um choque de demanda especulativa e passar a refletir a imaginária melhora do novo cenário macroeconômico. A consolidação desse segmento de mercado deverá vir no próximo ano apenas se houve a retomada dos investimentos das empresas para criar ativos novos.

As emissões vêm ganhando profundidade, com prazos cada vez maiores. Isso só foi possível porque aumentou o número de investidores interessados nesses papéis, pois há mais recursos disponíveis para a renda fixa em busca de rendimentos acima do CDI. Com a queda dos juros básicos, o crédito privado passou a atrair cada vez mais investidores, que buscam aplicações com mais retorno.

É crescente o número de gestoras dedicadas ao crédito privado surgindo no mercado. Os dados da Anbima mostraram crescimento da quantidade de papéis em direção ao encarteiramento pelos fundos: o percentual passou de 47,1% das emissões nos primeiros seis meses de 2018 a 59,3% no mesmo período deste ano. O percentual de papéis que ficaram com intermediários da oferta caiu de 39,8% a 32,9% – o que mostra interesse cada vez maior do mercado de investidores institucionais.

O cenário de forte demanda para os papéis leva à queda nas taxas das operações. Isso melhora os custos de captação do ponto de vista das empresas, mas torna a vida dos gestores cada vez mais difícil. Mesmo com a elevada procura, algumas operações tiveram de ser completadas pelos coordenadores, mas porque vieram de empresas que quiseram captar a taxas menores do que emissões anteriores, sem mostrar nos balanços dados que dessem aval para essa redução de custo.

Hoje, encontrar emissões que tragam retornos adequados está sendo cada vez mais um desafio para os gestores em busca de retorno mínimo de 1% acima do CDI. Sem taxa de performance e a taxa de administração de 0,5%, atende aos seus cotistas com taxas maiores.

É necessário rebalancear a carteira, trocando posições não tão aderentes ao retorno das carteiras no mercado secundário. Tem crescido o percentual de empresas a captarem para capital de giro, além do reperfilamento de dívida,

A expectativa é a de conseguir retornos melhores com essas operações à medida que a confiança das empresas na economia melhore e elas voltem a acessar o mercado para novos projetos. Isso não acontecerá no dia seguinte à aprovação da reforma, haverá para o segundo semestre condições mais favoráveis ao emissor se ele tiver rating “A” ou “AA”.

O mercado das empresas com mais risco ainda está engatinhando por aqui, embora deva ser a próxima parada. Ainda vai levar alguns anos para ganhar mais profundidade. Mas deverá ser um caminho natural, uma vez que as taxas fecharam muito nos papéis com notas mais elevadas e é natural que surjam investidores mais especializados em avaliar riscos e que vão preferir entrar nessas operações, que pagarão mais.

O mercado de dívida brasileiro está ganhando cada vez mais profundidade em termos principalmente de prazo das operações. Dados da Anbima mostram que, no primeiro semestre de 2018, as emissões com prazos de até três anos respondiam por 36,4% do total. No mesmo período deste ano, esse percentual caiu para 15,8%. Em contrapartida, a participação das emissões com prazos de sete a nove anos subiu de 11,2% para 23,5%. Também houve alta naquelas de quatro a seis anos, que passaram de 39,3% para 48% do total.

Esse alongamento dos prazos é destacado pelos analistas como o principal fator de consolidação de mercado de dívida doméstico. Somado a isso, a queda dos juros leva à diminuição dos custos para as empresas captarem por aqui. Por conta disso, nos últimos meses algumas empresas que sempre acessavam somente o mercado internacional passaram a trocar a dívida externa por outra, mais barata, captada aqui.

O mercado doméstico ganhou mais operações, com novas empresas e novos formatos indo a mercado e encontrando demanda. Dessa forma, o local se consolida, tirando um pouco do espaço do mercado internacional. Durante muitos anos, os prazos de captação no mercado local não passavam de cinco anos. Agora vemos operações ultrapassarem os dez.

Nos níveis atuais de taxa de juros, acessar o mercado internacional vai fazer sentido só para empresas que têm exposição a moedas ou para quem quer acessar recursos a prazos mais longos, como 30 anos, opção que ainda não existe aqui. Isso apesar de algumas debêntures de infraestrutura terem alcançado prazos ao redor de 20 anos, como Equatorial e Taesa.

O mercado de dívida tende a ganhar cada vez mais espaço nas operações de fusões e aquisições. O mercado local está ficando mais complexo e se transformando em opção, porque as captações podem aumentar de prazo e tamanho.

A consolidação do mercado doméstico de dívida é relevante porque pode se transformar em saída para empresas baixarem seus custos nas operações de fusões e aquisições. Quando está em negociação dessas, a empresa precisa comprovar que tem acesso a funding rápido. Então, o natural será ela fechar um empréstimo com um sindicato de bancos, por exemplo. Mas se há um mercado forte aqui, uma vez fechada a transação, ela passa a ter a oportunidade de emitir uma debênture para pagar esse empréstimo bancário e baratear seus custos.

Sérgio Tauhata e Ana Paula Ragazzi (Valor, 12/07/19) informam: o volume de novas emissões de renda variável no primeiro semestre de 2019 foi o maior da série histórica da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que tem início em 2002. Os R$ 29,3 bilhões emitidos de janeiro a junho deste ano representam um crescimento de 324,6%, quando comparados aos R$ 6,9 bilhões ofertados na primeira metade de 2018.

O montante captado entre janeiro e junho já supera em 159% o valor total emitido em todo o ano passado, de R$ 11,3 bilhões. Conforme o vice-presidente da entidade, José Eduardo Laloni, “a captação de renda variável em 2019 mostra o potencial do mercado doméstico para os próximos semestres”. Segundo ele, “apesar de ter existido certa concentração [em operações], em Petrobras, CPFL e outras, já houve um número maior de emissões, com 12 ofertas [de ações]”.

O ambiente de juros na mínima histórica impulsionou a demanda de investidores institucionais locais pela renda variável, em busca de diversificação e mais retorno. Com isso, a participação dos fundos de investimento na subscrição das ofertas de ações quase duplicou na comparação entre os primeiros semestres de 2018 e de 2019. A fatia passou de 26,6% no ano passado para 50% nos seis meses deste ano.

Segundo a Anbima, no primeiro semestre foram dez follow-ons (ofertas subsequentes) realizados, com captação de R$ 24,8 bilhões, e dois IPOs (abertura de capital), que somaram R$ 4,5 bilhões. Já existem dois follow-ons em andamento, da Petrobras Distribuidora e da Light.

O mercado externo estava esperado a reforma para se posicionar e isso vai trazer um apetite maior para a renda variável. Os bons resultados das ofertas de ações foram fundamentais para o aumento de 23% no balanço geral de captações no primeiro semestre ante o mesmo período de 2018. De janeiro a junho, as empresas brasileiras levantaram um total de R$ 212,6 bilhões nos mercados doméstico e internacional.

Emissões de Debêntures e Ações no Primeiro Semestre de 2019 publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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