sexta-feira, 10 de julho de 2020

Pós-Golpe: Afundando em Poço sem Fundo

Sergio Lamucci (Valor, 22/06/2020) informa: a produtividade na economia brasileira caiu com força no primeiro trimestre deste ano, recuando 1,7% em relação ao mesmo período de 2019, a maior queda desde a baixa de 2,6% do quarto trimestre de 2015. A queda já reflete o impacto da pandemia da covid-19. Ela agravou o quadro de retração da produtividade total dos fatores (PTF) iniciado no começo de 2018, segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

“A paralisação da economia decorrente da pandemia resulta em perdas imediatas na eficiência do processo produtivo, com consequente redução da PTF”, diz o economista Fernando Veloso, pesquisador do Ibre/FGV. “No Brasil, como as medidas de distanciamento social só começaram a ser implementadas na segunda quinzena de março, os efeitos da pandemia sobre a produtividade não foram plenamente captados no indicador do primeiro trimestre.” Para ele, a PTF terá mais uma queda forte no segundo trimestre, provavelmente maior que a do primeiro.

Medida da eficiência com que os fatores capital e trabalho se transformam em produção, a PTF tem registrado desempenho muito ruim no Brasil, apontando dificuldades para um crescimento a taxas mais altas de modo sustentado. Com o fim do bônus demográfico (o período quando a população em idade ativa cresce acima da população total), “a única forma de aumentar a renda per capita do Brasil nas próximas décadas será por meio da elevação da produtividade”, destacam, em nota, Veloso e os economistas Silvia Matos e Paulo Peruchetti, também pesquisadores do Ibre/FGV.

Na recessão do segundo trimestre de 2014 ao quarto trimestre de 2016, a PTF teve um desempenho muito negativo, recuando em todos os 11 trimestres do período de retração econômica. Em 2017, a produtividade subiu, crescendo a uma média de 0,45% por trimestre. Em 2018, porém, o indicador voltou ao vermelho, e desde então já amargou nove trimestres consecutivos em queda.

Veloso observa: esse comportamento é de fato atípico. “Quando comparamos com outros períodos recessivos e de recuperação desde o fim da década de 1990, observamos a queda da PTF durante a recessão mais recente de 2016 ter sido bem maior que em episódios anteriores”, diz ele. Além disso, a retomada foi bem menos vigorosa na comparação com períodos que se seguiram a recessões anteriores, especialmente as taxas negativas registradas desde o primeiro trimestre de 2018. Tudo é a Maldição do Golpe! O locaute empresarial derrubou a Presidenta eleita e depois jamais se recuperou…

Para ele, isso reflete em grande medida o elevado nível de incerteza da economia brasileira no últimos anos. Isso fica claro no resultado do Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br) do Ibre/FGV, que está em patamar muito elevado desde o segundo semestre de 2015, nota Veloso. “Em uma situação em que não existe clareza sobre a direção da política econômica, os empresários postergam investimentos e contratações formais. Como as empresas formais são mais produtivas que a informais, o aumento da informalidade nos últimos anos provavelmente teve consequências negativas sobre a PTF.” Para piorar o indicador de incerteza do Ibre/FGV teve um salto enorme em março e abril, com a eclosão da pandemia. Saiu de 115,1 pontos em fevereiro para 210,5 pontos em abril, recuando em maio e também na prévia de junho, mas segue muito alto, em 187,2 pontos.

Enquanto isso, Alessandra Saraiva (Valor, 23/06/2020) informa: a crise causada pela covid-19 levou as atividades de saúde, dentro do Produto Interno Bruto (PIB), às piores quedas em 20 anos em abril, segundo o Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV). Isso porque, com as restrições de circulação de pessoas, para inibir contaminação pelo novo coronavírus, caiu drasticamente o número de consultas e de exames laboratoriais desde meados de março.

No levantamento da FGV, a atividade econômica em abril caiu 9,3% ante março, com recuo de 13,5% na comparação com abril do ano passado, e queda de 6,1% no trimestre encerrado em abril em relação ao finalizado em janeiro. Na mesma pesquisa, em abril, a atividade de saúde pública caiu 11% ante abril do ano passado, e a de saúde privada, recuo de 13,3%, na mesma comparação. Ambas foram as mais intensas retrações da série histórica iniciada em 2000. Isso, na prática, será mais um componente negativo para desempenho do PIB do segundo trimestre, afirmou Claudio Considera, economista da FGV.

Saúde pública e a privada representavam 4,3% do PIB em 2017, sendo a primeira responsável por 2%, e a segunda, por 2,3%, informou a FGV. No monitor da fundação, a saúde pública, que tem fatia de 13% na atividade de administração pública do PIB, contribuiu com 2,9 ponto percentual negativos para a retração de 1,2% naquela atividade em abril ante abril de 2019.

Já a saúde privada, que representa 15,1% da atividade “outros serviços” no PIB, contribuiu com um ponto percentual negativo para a queda recorde de 19,3% naquela atividade no Monitor da FGV em abril.

“As pessoas não vão mais tanto a ambulatórios devido à pandemia, adiam consultas. Não recorrem mais a exames laboratoriais”, comentou o pesquisador. “Pode ser que a parte de internação tenha crescido [por causa da pandemia], mas não o suficiente para compensar as quedas [nos outros segmentos de saúde].”

Outro aspecto citado por ele na pesquisa foi o impacto, nos tributos, da retração na economia de serviços. A queda de impostos sobre produtos e serviços, basicamente IPI e ICMS, foi de 22,3% em abril ante abril do ano passado, também recorde. Até então, a pior queda havia ocorrido em março de 1996 (-12,9%).

Entretanto, tanto o desempenho negativo do PIB, delineado pelo monitor, quanto as taxas referentes à atividade da saúde atingiram “fundo do poço” em abril. “Em maio, deve ficar menos pior”, disse. Ele lembrou notícias de reabertura gradual da economia, já sinalizadas em algumas capitais, que devem contribuir para taxas menos desfavoráveis em maio.

Pós-Golpe: Afundando em Poço sem Fundo publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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